O outro lado do paraíso, novela global das 21h que termina hoje, começou promissora, em seguida patinou no Ibope e teve sua segunda fase antecipada para evitar um fracasso. As mudanças deram resultado, e a trama de Walcyr Carrasco chegou a superar a audiência do fenômeno Avenida Brasil (2012) em alguns capítulos. Um dos destaques do folhetim global foi Mariano, papel do ator Juliano Cazarré. No decorrer do folhetim, o garimpeiro oscilou entre mocinho e vilão. No desfecho da novela, ganhou importância fundamental. Mariano é o grande trunfo do autor para desmascarar a maquiavélica Sophia (Marieta Severo).
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Dado como morto após ter levado várias tesouradas de Sophia (Marieta Severo), Mariano é uma espécie de Highlander (o Guerreiro Imortal), como o próprio ator o define. “Ele sobreviveu à explosão da mina, desabamento, foi o único que não sucumbiu às tesouradas da Sophia. Vaso ruim não quebra (risos). Ele não é um herói de capa e espada, mas volta para punir a grande vilã da história”, avisa.
Esse gaúcho de Pelotas radicado em Brasília, aliás, é só elogios para Marieta Severo, sua parceria de cena e par romântico em boa parte da novela. “Marieta sempre vinha com muita vontade de trabalhar, disposição de fazer cenas boas e com muito alto astral, positiva. Ela é muito apaixonada pelo trabalho, assim como eu, e nós tivemos empatia desde o começo.”
Em sua quinta novela – as anteriores foram Insensato coração, Avenida Brasil, Amor à vida e A regra do jogo –, Cazarré diz que a teledramaturgia oferece ao ator uma chance de se aperfeiçoar. “Todos os dias a gente aprende alguma coisa, seja com meus ídolos, como Lima Duarte, dona Fernanda (Montenegro), mas também já começo a ouvir que tenho ensinado, mesmo que não seja propositalmente. Não tenho essa pretensão de ensinar a ninguém, até porque não sou professoral e tenho muito caminho a trilhar, mas é bacana ouvir esse tipo de comentário de alguns colegas”, diz.
Juliano Cazarré começou a se tornar conhecido do grande público na série Alice (HBO), em 2008, mas antes disso já fazia cinema. Na telona desempenhou papéis de destaque, como o Juliano, de Serra Pelada (2013), e o vaqueiro Iremar do premiado Boi neon (2016). Aos 37 anos, pai de dois filhos, ele considera Mariano uma peça importante em seu percurso profissional. “No cinema e no teatro, as pessoas conhecem personagens mais densos e profundos. Estou muito feliz com a minha carreira, com o que aconteceu e com a velocidade em que as coisas aconteceram. Nada foi repentino. Tudo foi muito bem construído. Vou continuar lutando por bons personagens (na TV). Pode vir um antagonista, um protagonista, que já fiz no cinema, ou um coadjuvante. O que me atrai é um bom roteiro.”
Defensor da telenovela, o ator costuma se referir a ela em suas redes sociais com a tag #tradicaobrasileira. “A qualidade da nossa novela e principalmente das novelas da Globo é referência no mundo todo. O outro lado do paraíso vai ser exibida na Rússia agora. Muita gente tem opinião pejorativa sobre novela e não assiste porque acha que a TV Globo é golpista, isso e aquilo. O que a gente tem de gente talentosa, não só entre diretores, atores, equipe técnica, é algo de se ter orgulho, não de criticar. Não estamos lá para manipular ninguém, mas para fazer as pessoas rirem, se emocionarem, para entreter”, afirma.
Apesar da desaprovação que recebeu, especialmente da imprensa especializada, incluindo profissionais da Globo, a trama de Carrasco nadou de braçadas no Ibope. Juliano Cazarré atribui o resultado ao novelista. “Ele conhece bem o público dele e sabe escrever muito bem para esse público. Algumas questões até entendo de criticar, mas novela tem que ter essa liberdade, essa leveza. Não é vida real. Acho que o mérito do Walcyr é que ele conseguiu chegar nas camadas mais populares, pessoas que não estão vendo séries na Netflix, por exemplo. Ele é um contador de história e faz como ninguém ficção para o povão”, opina.
ESCRITA Com DNA artístico – seu avô era primo dos atores e dubladores Older Cazarré e Olney Cazarré e seu pai é o jornalista e escritor Lourenço Cazarré, vencedor do Prêmio Jabuti de 1998 – o ator acredita que herdou essa tradição. Além de atuar, ele gosta muito de escrever e chegou a lançar, em 2012, o livro de poesias Pelas janelas. “Vira e mexe, me pego escrevendo. Estou fazendo alguns roteiros, tocando alguns projetos nesse sentido. Eu e meus irmãos temos uma produtora em Brasília, a Caza Filmes, e a gente faz alguns trabalhos juntos, como o curta de animação A roza (2013). É algo em que sempre penso.”
Cazarré mal vai ter tempo de descanso após o fim da novela. Em junho ou julho, ele começa a rodar o thriller Dentes, de Julio Taubkin e Pedro Arantes. O público ainda deve vê-lo neste ano na telona nos longas O grande circo místico, de Cacá Diegues, e Pluft, o Fantasminha, de Rosana Svartman. Desde 2004 integrado ao universo do cinema, ele afirma: “Somos muito bons em cinema autoral, mas sinto falta de ver mais filmes como um Tropa de elite, por exemplo, que mescla aventura, thriller. O cinema brasileiro tem feito cada vez mais bonito e fico muito feliz de fazer parte dessa cena”.