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Série 'Merlí' mostra escola que ensina a viver melhor

Nada de forças energéticas, serial killers, fantasmas, realismo fantástico. Vida real, com todas as dores e sabores. A série Merlí, da Netflix, criada e escrita por Héctor Lozano, conta a história apaixonante do professor de filosofia Merlí Bergeron, vivido pelo talentosíssimo Francesc Orella, que usa métodos pouco ortodoxos para incentivar seus alunos a pensar livremente e questionar ideias preconcebidas. A série se passa em Barcelona e é falada em catalão.

Chamados por Merlí de peripatéticos (como eram conhecidos os discípulos de Aristóteles), os alunos da escola Àngel Guimerà são jovens que vivem a dor e a delícia das descobertas da juventude. Há a menina rebelde, a gordinha, o aluno mulherengo, o gay enrustido, o CDF. A princípio, pode parecer óbvio, simplificado até, mas a construção das personagens, com bons atores, é competente.

O diferencial da série é se valer dos conceitos filosóficos ensinados por Merlí para questionar o status quo. Cada episódio tem o nome de um filósofo, e suas ideias guiarão ações e diálogos. Sócrates, Aristóteles, Epicuro, Foucault, Nietzsche, Guy Debord e Hannah Arendt vão despertar e provocar discussões sobre morte, amor, política, poder, homossexualidade, gênero, bullying, ciúmes, conservadorismo, redes sociais, independência da Catalunha...
Enfim, debates importantes e atuais para a sociedade.

Controverso, instável profissionalmente, pulando de emprego em emprego, cheio de desafetos, separado, Merlí inicia sua jornada na série indo morar com a mãe – uma dama do teatro espanhol (interpretada brilhantemente por Ana Maria Barbany) – e levando consigo o filho homossexual, de quem tenta se reaproximar. Merlí tem também a chance de um novo emprego, desta vez, na escola de seu rebento.

Os ensinamentos do professor ultrapassam o muro do colégio e interferem na vida pessoal dos alunos, das famílias e de seus colegas de profissão. Ele se aproxima de todos. O que gera opiniões controversas e confusões, mas sempre produtivas. Conquistador, o professor chega a se relacionar com mães de alunos. É egocêntrico. Defende certa anarquia de costumes, muitas vezes sem medir as consequências e ferindo até pessoas queridas.
Subversivo. Às vezes, machista. Mas é um sedutor e ganha todos pela paixão com que defende a educação e, principalmente, a filosofia e seu poder de transformar o homem por meio da crítica, da reflexão, do argumento e do questionamento.

E pensar que, no Brasil, em 2016, o governo, por meio de reforma do ensino médio, quis tirar filosofia, sociologia e artes do quadro de matérias obrigatórias. Um absurdo, já que se trata de matérias que ajudam na construção da cognição.

Merlí vale a pena. Os conceitos filosóficos estão longe de transformar a série numa chatice. Ao contrário, ela oferece diversão de qualidade e envolvente. Tem força, humor, drama, romance, tensão e faz pensar de maneira leve. Em suma, é inspiradora.
O primeiro episódio foi liberado em 14 de setembro de 2015 e o final, em 15 de janeiro de 2018. São três temporadas, disponíveis na Netflix.

 

Assista ao trailer:

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