"Ramiro é dessa turma que odeia as diferenças", diz Fábio Assunção

Ator representa a lei em série 'Onde nascem os fortes', em exibição na TV Globo

por Estadão Conteúdo 01/05/2018 12:54
ESTEVAM AVELLAR/GLOBO/DIVULGAÇÃO
(foto: ESTEVAM AVELLAR/GLOBO/DIVULGAÇÃO )

Ramiro Curió, personagem de Fábio Assunção, representa a lei em Onde nascem os fortes, supersérie que está no ar, na faixa das 23h da Globo. Só que o juiz da fictícia cidade de Sertão manipula as regras e as pessoas em nome de seus interesses. O principal deles é fazer concorrência a Pedro Gouveia (Alexandre Nero) no negócio de bentonita. Porém, tirar o rival de seu caminho não será fácil. Para compor o personagem, o ator assume a dificuldade de se tornar um cara frio e controlador em cena para defender as verdades de Ramiro, que são completamente opostas às suas.

“Tenho uma outra leitura de mundo. Então, fazer um cara que representa esse grande retrocesso é, mais ou menos, dizer o que penso pelo avesso. Defendo o personagem, porque é bem embasado, mas é desafiador trabalhar com essas energias, essa frieza e solidão”, afirma Fábio.

A postura conservadora de Ramiro não se aplica apenas aos negócios. Na trama, seu filho Ramirinho (Jesuíta Barbosa) também sofre com a personalidade controladora do pai. Viúvo, o juiz planejou todo o futuro do herdeiro como dono de um negócio de extração de bentonita, que rivalizará com o de Pedro. Porém, Ramirinho sonha com outras possibilidades de vida e, escondido, se traveste como Shakira do Sertão na boate Bodão Night Clube. Tal atitude do rapaz não passa pela cabeça preconceituosa do pai, que não vai saber digerir a verdade sobre quem é o filho.


“Ramiro é um cara conservador, um fascista, autoritário e homofóbico. Confrontar essa libertação do filho é muito doloroso. Não sei se ele quer que o filho seja igual a ele. Ramiro é dessa turma aí que odeia as diferenças. É um cara complicado. É uma relação bem ruidosa, difícil”, explica.

Como gosta de ter domínio das situações, Ramiro se aproximou de Cássia (Patrícia Pillar) quando ela chegou a Sertão em busca de Nonato (Marco Pigossi), seu filho desaparecido. Como Pedro é o suspeito número um por ter brigado com o rapaz na noite anterior, ele ganha mais um motivo para investigar o mistério a respeito do desaparecimento do jovem. Além disso, conta com os serviços do delegado corrupto Plínio (Enrique Diaz).  

DESPERTAR

“O Plínio é a polícia. Aí juntam as duas forças, que é o Judiciário com a segurança pública. Enfim, acho que o Brasil é um bom paralelo para esse tipo de relação A gente está num momento muito bom de traçar paralelos. Sem querer entrar em política, Lula livre, fora Temer (risos). A gente está vivendo num mundo polarizado”, dispara Fábio, fazendo crítica à prisão do ex-presidente Lula.

 Durante as gravações de Onde nascem os fortes, Fábio passou períodos longos e curtos no sertão paraibano. Segundo o ator, gravar nesse lugar mostra a potência que carrega a supersérie. Impressionado com a sagacidade do povo nordestino, o ator conta que despertou para situações que antes não percebia.

“É uma resistência você morar num lugar que não chovia há sete anos. Isso dá uma fibra! Você sai andando e vai encontrando os animais, uma flora muito do semiárido. Choveu dois dias e estradas que a gente andava viraram rios. Tudo que parece faltar no sertão, quando aparece, é valorizado. Não acho que seja um lugar para se acalmar, mas para você acordar”, filosofa.

Nessa imersão em uma realidade distante da sua, Fábio aponta que foi natural perceber a diferença na forma de habitar um local com suas peculiaridades. Nascido em São Paulo, o ator de 46 anos assume que a forma de utilizar a água nunca foi uma questão em sua vida por, justamente, sempre ter tido acesso a ela sem ter que fazer muito esforço para isso. “Todo mundo sentiu esse acordar. É uma coisa que, se você tiver escuta, vai começar a conectar e perceber o que não vê nas grandes cidades. Era uma criança que escovava os dentes com a torneira aberta. Lá tem uma valorização da água. É só prestar atenção.”

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