No último dia 9 de março, a participante Gleici – que havia sido falsamente eliminada num paredão triplo em que supostamente os dois mais votados deixariam o reality – ressurgiu na “casa mais vigiada do país” para espanto dos concorrentes ao prêmio de RS$ 1,5 milhão.
A estudante de psicologia do Acre desceu as escadas do quarto onde esteve escondida durante três dias e proferiu para os brothers e sisters que a julgavam eliminada da disputa a mesma frase que a protagonista Clara (Bianca Bin) usou, quando reapareceu numa festa em Palmas (Tocantins), 10 anos depois de ter sido dada como morta. O próprio novelista Walcyr Carrasco celebrou em seu Instagram a cena do retorno da acreana. "Adorei a volta da Gleici-Clara #LeiDoRetorno", escreveu, ao lado de uma fotomontagem das duas "personagens".
A #GleiceDoRetorno, que faz alusão ao tema de abertura de O outro lado do paraíso, Boomerang blues (Tudo o que você faz/Um dia volta pra você), foi um dos temas mais comentados no Twitter.
"A Globo aproveitou o sucesso da novela e fez toda uma edição e uma referência à trama no BBB. Não deixa de ser uma ação de marketing também. Atrai o público da novela O outro lado do paraíso, que está com uma audiência nas alturas, para o BBB. Uma coisa alimenta a outra. Tanto é que, no dia da volta da Gleici, o Big brother bateu o recorde do ano (33,4 pontos em São Paulo)", afirma Claudino Mayer, doutor em ciências da comunicação e especialista em teledramaturgia pela Escola de Arte Dramática (ECA) da USP.
O outro lado do paredão, como a trama que tomou conta do reality vem sendo chamada, teve outro capítulo de destaque na última terça-feira, quando a funcionária pública cearense Patrícia, arqui-rival de Gleici, foi eliminada, com recorde de rejeição – 94,26% dos votos, num paredão triplo. Nas redes sociais, aliás, o que não faltam são comparações dos internautas entre os personagens do folhetim das 21h e os participantes do reality-show.
EDIÇÃO "O quem é quem é o de menos. O BBB tem elementos de uma novela, e a própria emissora, na edição, acaba se valendo disso para torná-lo mais atraente. Senão, seria muito chato. Tem o bonzinho, o vilão, a chorona, a bonitona. Todos os arquétipos dramatúrgicos estão ali", analisa Claudino.
O jornalista e crítico de televisão Mauricio Stycer avalia que a equipe que faz o BBB foi inteligente ao se "apropriar" do conteúdo de uma novela que está no ar com grande audiência e encaixá-lo na narrativa do reality. "Do ponto de vista da empresa, foi um acerto. Do ponto de vista do jogo, acho que terminou beneficiando a Gleici, ao ser comparada à mocinha da novela, a Clara, em seu desejo de vingança contra aqueles que lhe fizeram mal. Além da exposição que ela ganhou por ter ido para o 'falso paredão', o programa fixou a imagem de que ela era a vingadora. Isso pode explicar, por exemplo, a rejeição recorde que a Patrícia teve em sua eliminação", opina. Patrícia foi quem articulou a ida de Gleici para o paredão triplo – disputado com o sexólogo de Porto Velho Mahmoud e a empresária mineira Paula – no qual ela acabou tendo a menor votação, com apenas 3% dos votantes querendo sua saída.
O Big brother está previsto para terminar no dia 19 de abril, e a novela de Walcyr Carrasco, apenas em 12 de maio. "Tem muita coisa para acontecer tanto na novela como no BBB. A própria Gleici, apesar de afirmar que não é vingativa, diz querer justiça. E esse é o mote de O outro lado do paraíso. Toda vez que alguém volta do paredão, tem esse sentimento também. Então, acredito que ainda teremos muitos capítulos (de O outro lado do paredão). A brincadeira vai continuar", defende Claudino Mayer.
O OUTRO LADO DO PAREDÃO Confira quem é quem na trama do reality que imita a novela:
As duas mocinhas de origem humilde e, coincidentemente, rural, foram prejudicadas na trama e voltaram com desejo de vingança, apesar de Gleici afirmar que não é vingativa e quer apenas justiça. "O mal por si só se destrói", declarou a estudante de psicologia, no dia em que a responsável por sua ida ao paredão foi eliminada com recorde de rejeição.
A funcionária pública cearense se tornou a antagonista da “mocinha” Gleici. Foi ela quem arquitetou o paredão que colocou na berlinda a acreana, junto com seus amigos Paula e Mahmoud, que acabou sendo eliminado. Patrícia se mostrou manipuladora, como a vilã interpretada por Marieta Severo, ao influenciar o "inocente" Kaysar e Jéssica a votar em Gleici, que até então era sua amiga. Quando Gleici voltou à casa com o direito de indicar um concorrente ao paredão, escolheu Patrícia, que terminou eliminada com 94,26% dos votos.
O garçom sírio, que até então era o favorito ao prêmio, de acordo com diversas enquetes, sendo seguido de perto por Gleici, perdeu parte de seu encanto na visão do público ao se mostrar bastante influenciável. Em O outro lado do paraíso, Samuel foi chantageado por Sophia para prejudicar Clara. Já no BBB, Patrícia usou sua proximidade com Kaysar para pedir a ele o “favor” de votar em Gleici. Depois da votação, a acreana teve uma conversa com o sírio, que se mostrou arrependido, assim como o psiquiatra vivido por Eriberto Leão, e disse que errou e agiu como “um animal”.
Assim como Renato, que parecia mocinho, mas provou ser um vilão, Wagner tem um comportamento errático no jogo e até hoje ninguém sabe exatamente de que lado ele está – embora tenha um relacionamento com Gleici, continua garantindo aos opositores da acreana no jogo que ele está fechado com eles em sua aliança de votos. No entanto, na formação do último paredão, Wagner acabou traindo seus aliados e votando num deles (Diego). Justificou a atitude como sendo de autoproteção, mas atraiu ainda mais desconfiança dos demais confinados sobre sua verdadeira essência. Sobretudo porque, durante a semana, ao ser eliminado da prova do líder por um descuido do amigo Viegas, teve uma explosão e acusou o brother de ser “traidor” e relapso.
A empresária e ex-jogadora de vôlei mineira foi uma das que mais celebraram a volta de Gleici ao jogo, assim como a juíza Raquel não escondeu a satisfação de ver Clara viva e de volta a Palmas. Paula era alvo constante de críticas de Patrícia e acabou sendo levada por ela ao paredão, com os companheiros Gleici e Mahmoud. Na semana seguinte, a mineira venceu a prova de resistência e se tornou líder. No confessionário, afirmou: “Chamou para o jogo, agora aguenta”. No paredão seguinte, Patrícia foi eliminada.
O escritor paraense que parecia meio invisível no reality, ficando sempre à sombra de uma mulher, no caso, Patricia, já mostrou suas garras de estrategista. Ele é o principal articulador das armações contra Gleici e ficou chocado com sua volta. Quando percebeu que a acreana ganhou força no jogo, declarou que ela era “indiferente” para ele e concluiu pouco depois que suas alianças no jogo foram desfeitas.
O próprio brother se denominou um anti-herói e integra o núcleo de vilões da trama, ao qual também pertencem, na visão do público, Diego e as já eliminadas Patrícia, Nayara e Ana Paula. Assim como o personagem de Flávio Tolezani, que, aliás, morreu (será que o fim de Caruso no jogo também está próximo?), ele não nutre muitos sentimentos bons pela patota de Gleici e mirou insistentemente em seu amigo Mahmoud.
No começo, chegou a se mostrar amiga de Gleici, mas bastou o primeiro paredão para votar na acreana. Lívia está se reaproximando de Clara na novela, e Jéssica, pelo visto, com a volta triunfal de Gleici, também está querendo se manter por perto do centro gravitacional trama.
Melhor amiga de Gleici, Ana Clarase empolgou com a volta da estudante ao jogo tanto quanto o cabeleireiro Nick, quando avistou Clara novamente. O laço entre elas é tão forte que Ana Clara chegou a duvidar de que a amiga tivesse sido de fato eliminada e até “previu” a sua volta, supondo uma eliminação falsa – recurso já usado anteriormente no reality.