Rio de Janeiro – Em 17 de março de 2014, uma segunda-feira, a Polícia Federal iniciou uma operação para desarticular uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro. Foi assim que a imprensa apresentou a então recém-batizada Lava-Jato, que se tornou a maior operação anticorrupção do país.
Já no terceiro episódio de O mecanismo, série criada por José Padilha para a Netflix que estreia mundialmente na próxima sexta-feira (23), assistimos ao que ocorreu com um dos personagens naquele dia. Na vida real, o doleiro Alberto Youssef foi preso pela PF em um hotel em São Luís (Maranhão). Na ficção, o doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz) é preso em um hotel de Brasília.
Acompanhar O mecanismo é um grande exercício – à imprensa só foram liberados os três primeiros dos oito episódios. Dada a voracidade da operação real, os fatos narrados no início da série parecem mais distantes do que realmente são.
E como nos acostumamos a falar de Youssef, Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras) e Odebrecht, por vezes é difícil tentar desvincular a imagem deles da dos personagens Ibrahim, João Pedro Rangel (Leonardo Medeiros), diretor da PetroBrasil, e a empreiteira Muller e Brecht. Na série, a ex-presidente Dilma Rousseff é Janete (Sura Berditchvsky). O nome foi tirado de uma entrevista na qual Dilma contou já chegou a fingir ser outra pessoa. “Às vezes sou a Janete.”
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A história de O mecanismo tem início em 2003, quando o delegado da PF (aqui chamada Polícia Federativa) Marco Ruffo (Selton Mello) dá início a uma investigação contra o doleiro Ibrahim, que conhece desde a infância. O personagem é inspirado em Gerson Machado, delegado da PF de Londrina responsável por um inquérito que, em 2008, reuniu informações de que o Posto da Torre, em Brasília, era usado para lavagem de dinheiro.
Hoje aposentado, Machado cuida de uma ONG. Na série, Ruffo também irá se aposentar. Por ora é o que se sabe, já que o personagem sofre um baque no segundo episódio e seu destino é mantido sob sigilo.
Um salto temporal leva a narrativa para 2013, no início da Lava-Jato. Aqui, quem comanda a ação é Verena Cardoni (Carol Abras, inspirada na delegada da PF Érika Marena), pupila de Ruffo.
A assinatura de Padilha (que dirige somente o episódio inicial; os demais são divididos entre Marcos e Felipe Prado e Daniel Rezende) está clara: narração em off, personagens em profusão e frases de efeito.
O que falta, ao menos até o episódio 3, é um grande protagonista. Na defensiva, Padilha disse ao EM que “há grandes produções que não têm protagonistas, como Magnólia”, de Paul Thomas Anderson. Porém, seus dois projetos mais bem-sucedidos foram amparados em grandes personagens – Capitão Nascimento (Tropa de elite) e Pablo Escobar (Narcos).
A repórter viajou a convite da Netflix.