O humor mineiro está no ar – na TV, no rádio, na internet – e está também nos palcos. Os artistas também aderiram à tendência multiplataforma da era digital e hoje jogam em todas as frentes. Cinco comediantes mineiros – Eraldo Fontiny, Gustavo Mendes, Rafael Mazzi, Thiago Comédia e Paloma Santos – vêm se destacando nacionalmente ao conquistar um lugar de destaque nesses espaços.
Nascido na pequena cidade de Guarani, na Zona da Mata, Gustavo Mendes começou a dar seus passos na carreira de ator aos 8 anos. Foi nessa época que ele percebeu que o humor o ajudava na escola e até a fugir das palmadas da mãe, quando aprontava das suas. “Ela começava a rir e se desencorajava das palmadas ao ver a minha tentativa de imitação do Sérgio Chapelin”, recorda o humorista, hoje com 29 anos.
Aos 15, Gustavo Mendes se mudou para Juiz de Fora, onde passou a se apresentar sozinho em alguns bares da cidade. “Foi lá que realmente aprendi meu ofício. Foi questão de tempo até me dar bem no YouTube e ter meus próprios programas na televisão”, conta o hoje integrante do elenco de Treme treme (como o porteiro Belmiro) e Xilindró (Amadeus), ambos do Multishow.
O divisor de águas na carreira do humorista veio quando ele criou sua versão da presidente Dilma Rousseff. “Mas o medo de ser apenas ‘o cara que imita a Dilma’ sempre me assombrou, por isso, desde 2015 declarei esse ciclo encerrado, a não ser nos shows, onde ainda faço (a personagem). Não que isso seja definitivo”, diz.
Gustavo acredita que um artista tem que ser polivalente, mas elege o teatro como o melhor veículo para a exibição do talento. “Ali não se pode errar. Não tem edição. É como andar na corda bamba sem rede. Amo fazer televisão, mas é no teatro que consigo ser o melhor de mim. A internet tem uma força inegável, gigantesca, e eu não sou youtuber. Então acredito que meus programas na TV acabem permitindo que um público maior possa gargalhar comigo.”
Na opinião do ator, o humor das Gerais tem suas peculiaridades e, como o próprio mineiro, chega de mansinho e conquista o público pela simplicidade. “O humor mineiro, de certa forma, traz aquele riso despreocupado de criança, de quando nossos pais, avós ou tios contavam seus causos à beira do fogão. Modéstia à parte, somos os melhores (risos). Quem não ama o Nerso da Capitinga (Pedro Bismarck)? Saulo Laranjeira? O Zacarias? A Kayete? A Lili? A Rose, doméstica das bicha? O público nos ama e a gente ama ver o público rir”, afirma.
Por falar em Lili, a menina espevitada e irônica, dona do bordão ‘A minha mãe deixa’, foi a personagem que impulsionou a carreira de Eraldo Fontiny, de 35. E foi a primeira que ele criou. “Nem imaginava enveredar pelo humor. Queria fazer teatro contemporâneo. Eu me formei em artes cênicas na UFMG e gostava de drama. Mas mesmo nos momentos mais sérios, eu fazia rir sem querer. Não teve jeito. A Lili surgiu quando eu estava em um grupo de teatro. Os atores gostaram tanto que ninguém queria mais saber do Eraldo. Só da Lili”, conta.
A peça Gente, a Lili sumiu, que estará em cartaz no Cine Brasil no próximo sábado (3), traz também outras criações do ator de Betim, como Meire Caixeta, Seu Manel, o roqueiro Marcos Paulo e Cynthia, a apresentadora defensora da moral e dos bons costumes, que estará na próxima temporada de Treme treme, com estreia prevista para abril.
Eraldo está também na rádio 98, onde participa diariamente dos programas Claro que é rock e Ricardo amado. “O rádio é muito bacana. Tem se modernizado cada vez mais e ampliado seu público. A TV é uma diversão, e a internet é uma força da natureza. Foi ali, aliás, que a Lili explodiu. Mas, claro, sem abrir mão do palco, que é maravilhoso”, ressalta.
Eraldo Fontiny está no elenco de O marido da minha mulher, com sessões hoje (25) e nos dias 2 e 4 de março no Teatro Monte Calvário, no Barro Preto. Colega de elenco do pai da Lili, o humorista belo-horizontino Rafael Mazzi, de 37, conta que tinha uma personalidade meio atrapalhada quando pequeno. Começou a fazer teatro na escola, e a coisa engrenou.
VEIA CÔMICA “Eu colocava a minha veia cômica em tudo. Por volta de 1999, comecei a fazer um espetáculo atrás do outro, não só de humor. Trabalhei com a Wilma Henriques, com o Jair Raso. Quando o stand-up estourou, acabei entrando nessa onda. E hoje continuo nos palcos, estou no rádio, na internet e na TV”, frisa. Um de seus personagens mais conhecidos, o excêntrico garoto Jaquisom David, nasceu em 2012, nos estúdios da 98 FM. Ele ficou tão popular que foi para o teatro e também para vários quadros da TV. Hoje, está no Treme treme, do Multishow.
“Eu fazia só a voz. Quando o Jaquisom criou corpo, chamei a Lira Ribas para criar o figurino, o visual completo. E ele é um sucesso até hoje”, comenta Rafael, que acaba de elaborar uma versão do fenômeno Pabllo Vittar, Pobre Vittar que estrela o clipe Caô. “É uma paródia bem-humorada da música K.O. Esse meu personagem é a cara do Brasil. Está sem dinheiro, endividado e já está chamando a atenção na internet”, diz.
Para Rafael Mazzi, o sucesso atual dos comediantes mineiros se deve ao fato de a cidade ter um dos públicos mais exigentes do país. “Tanto é que muitos artistas vêm de fora para estrear em BH. É um público-teste. Se deu certo aqui, vai dar certo no resto do Brasil. Fazer humor em Minas não é fácil e, se você estoura em outros lugares, é porque você merece.”
Formado em educação física, Thiago Comédia, de 29, sonhava em ser goleiro. Mas a baixa estatura (1,60m), não colaborou. Em 2009, quando dava aulas na área, foi o vencedor do Festival Nacional de Piadas do Show do Tom (Record). “Tive que optar entre a educação física e o humor. Prevaleceu a segunda opção. Desde então, me aperfeiçoei e vivo disso”, afirma o ator, que também escreve, dirige, produz suas peças e ainda é o coordenador da programação do teatro Shopping Estação, em Venda Nova.
Com a moda de vídeos para o YouTube, Thiago resolveu investir nesse segmento. Chegou a ter 1 milhão de visualizações em uma única produção, um feito há sete anos. No entanto, não conseguiu se dedicar como queria. Teve vídeo que fez sucesso, outros não. “Recentemente, voltei a investir nisso e, hoje, as redes sociais é que estão fortes. A internet é ampla. A gente tem liberdade e é uma área da qual não pretendo sair mais. Sem esse meios todos, fica até difícil se sustentar só com o teatro. Tem que se virar nos 30. Fazer de tudo um pouco”, diz ele, que se prepara para lançar um projeto novo em junho: um espetáculo com sátiras de filmes de terror.
Humor no feminino
Durante 10 anos, Paloma Santos, de 37, tentou levar uma “vida normal”, como ela diz, e trabalhou no judiciário nesse período. Mas a veia artística falou mais alto. A carreira de humorista começou para valer quando, em 2008, ela fundou, ao lado de Gabriel Freitas, Bruno Berg, Edgar Quintanilha e Artur Otoni, o primeiro grupo de comédia stand-up de Minas Gerais, o Queijo Comédia & Cachaça.“Eu era a única mulher. O protagonismo cênico feminino é mais complexo, ainda mais no stand-up. Assim como o gay, o pobre, as mulheres estão no grupo que serve de piada. Pelo menos para a maioria dos humoristas. Isso cria uma falta de identificação”, opina. No entanto, Paloma acredita que essa situação tem mudado. “As mulheres estão nos palcos, mas também nos bastidores dos programas de humor, como roteiristas, diretoras”, diz. A visibilidade no teatro levou-a para a TV e o rádio. Hoje, Paloma participa de dois programas na 98 FM. “E como o rádio está se modernizando, fazemos material para a internet, para TV, já que a 98 está na web também. Somos multimídia e multi-humor”, frisa.