Marco Nanini, de 69 anos, é avesso às redes sociais, não acompanha seriados, novelas nem sagas literárias. Tem receio de ficar “viciado”. Também não costuma sair de casa. Prestes a estrear em Deus salve o rei, novela que será exibida na faixa das 19h da TV Globo, o ator dialoga com colegas cada vez mais conectados e inseridos nesse universo.
“Estou encantado com essa nova geração. Não tenho Facebook, não tenho Instagram, enquanto eles têm milhões de seguidores. Nem sei o que é isso”, conta. Na trama de Daniel Adjafre, cujo primeiro capítulo vai ao ar em 9 de janeiro, Nanini interpreta o rei Augusto, pai de Catarina, papel de Bruna Marquezine. A atriz, de 22 anos, contabiliza 23 milhões de seguidores nas redes sociais.
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Deus salve o rei conta a história de dois reinos: Montemor e Artena, esse último governado por Augusto. Pai e filha, o rei e Catarina têm divergências. Ele quer preservar o acordo de paz entre os dois impérios, enquanto a ambiciosa princesa articula outros planos. Augusto impõe que Catarina se case com Istvan (Vinicius Calderoni).
Com 50 anos de carreira e expressiva versatilidade no teatro, televisão e cinema, o recifense confessa: “Sei que me divirto. Ator tem uma criança dentro dele. Quando elas brincam, acreditam em uma realidade fantasiosa. O ator cresce e essa criança aparece de vez em quando”, diz. Nanini passou 16 anos afastado das novelas. A volta se concretizou em 2016, com a bem-sucedida Êta mundo bom!, que lhe rendeu prêmios pela dupla performance como Pandolfo e Pancrácio.
Sem dúvida, o personagem mais popular do pernambucano foi Lineu, o patriarca de A grande família, que despertou forte identificação entre os brasileiros. O seriado ficou 14 anos em cartaz na TV Globo, despediu-se em 2014 e gerou o especial O álbum da grande família, exibido este ano.
Ao reconhecer a dimensão afetiva de Lineu junto ao público, o ator não se incomoda de ainda hoje ser associado ao funcionário público ético, boa-praça e marido de dona Nenê (Marieta Severo). “Lineu é um grande amigo, um camarada.
Você passou 16 anos afastado das novelas. Em Êta mundo bom! e Deus salve o rei, os dois personagens que interpreta são mais lúdicos. Há uma preferência por esse perfil?
Prefiro representar. Pra mim, representar já é lúdico. A nova novela é cinematográfica. Ela representa um universo medieval com uma trama muito grande, com grande estofo dramatúrgico. Êta mundo bom! também tinha isso.
Como é fazer parte de uma novela como Deus salve o rei, que recorre também a elementos do teatro?
A novela não é exatamente teatral. Ela é mais cinematográfica, assim é a leitura que o Fabrício (Mamberti, diretor artístico) está fazendo. O estilo de representação é uma coisa mais despojada. No meu caso, o personagem, em determinado capítulo, encontrará uma equipe de teatro. Mas, daí em diante, já não sei mais o que vai acontecer.
Você interpreta o pai de Catarina, personagem de Bruna Marquezine, uma das atrizes mais importantes da nova geração. Como vem sendo esse encontro?
É uma novíssima geração. Bruna, Marina (Ruy Barbosa) são adoráveis, criaturas muito disponíveis.
A novela carrega referências de seriados internacionais, como Game of thrones e Vikings. Você acompanha o universo das séries?
Infelizmente, não consigo acompanhar um seriado, porque me sinto preso ao próximo capítulo. Nem vejo tanta novela também, porque já faço. Aí, às vezes, vejo um ou outro seriado, mas só um pouquinho. Fico com medo de gostar e ficar acompanhando. É o caso de Game of thrones. Comecei a ver How to get away with murder. Vi os capítulos todos, fiquei angustiado e não quero mais. É a mesma coisa com livros que têm dois ou três volumes ou que têm uma saga. Mesmo Proust, leio rapidinho, com medo de me apegar. É porque não tenho mais muito tempo.
Que tipo de reflexão Deus salve o rei despertará?
Ela não fala de (Donald) Trump, mas fala de ambição, da busca pelo ouro, do fascínio e da loucura do homem que fica atrás do ouro. Mostra como essa ambição é perigosa, fala de coisas assim. Mas não é exatamente um exemplo que remete à sociedade. Ela fala das fraquezas humanas.
O seu personagem, Augusto, terá um tom cômico?
Meu personagem é um rei. No início, o humor dele ainda não apareceu. Subjetivamente, sim, quando encontra a trupe de teatro. Só o fato de estar representando o teatro medieval já fica engraçado. Mas o propósito não é fazer graça. Gosto mais do humor que não fica fazendo piada. Para isso existem os humoristas, gente especializada nisso. E fazem muito bem.
Em A grande família, o servidor público Lineu era muito ético. Como você analisa o Brasil atual?
É um estado de perplexidade, de tristeza, ver um país inteiro como este onde pouca gente se salva. Os pobres nunca saíram do lugar onde estão. Fico com a impressão de que essa pobreza é articulada. Eles precisam da pobreza para ganhar dinheiro. É muito triste. A cultura não existe para ninguém. Não há um político que fale em cultura. Cultura virou artigo de luxo ou de terceira classe, mas isso não é verdade. Cultura é patrimônio do cidadão. É através da cultura que ele se manifesta, se encontra. Mas isso está em terceiro plano. Claro, a maioria só rouba, eles vão pensar em cultura?
Como é a relação do público com você?
É discreta, mas muito amorosa. As pessoas têm muito afeto comigo. Não saio muito, gosto de ficar em casa. Quando saio, a receptividade é muito grande. Não sei adular, esse tipo de coisa... Isso tudo é muito fugaz. Se você acredita muito nisso, qualquer coisa tira o ator do foco. Prefiro ficar quieto. .