No auge do sucesso de Bozo na TV, o palhaço ganhou uma versão mineira, exibida pela TV Alterosa. Jonas Santos e Evandro Antunes se revezaram na pele do palhaço. Jonas, hoje com 58 anos, acabou indo parar no picadeiro por acaso e um tanto de cara de pau.
Na apresentação, ele se batizou de Rapadura e acabou fazendo sucesso. “Caí de paraquedas e acabei indo para o programa. Dali para a frente, a coisa decolou e fui me aperfeiçoar. Fiz cursos com o Pedro Paulo Cava, o Fernando Limoeiro e não parei mais”, conta. Na mesma época, Jonas Santos foi chamado para ir para São Paulo. Devido ao grande sucesso do Bozo, a ideia de Silvio Santos era ter o personagem em cada praça. Durante uma semana, ele ficou nos estúdios do SBT, observando os atores que faziam o palhaço: Arlindo Barreto e Luís Ricardo. Até que chegou a hora do teste. “A prova de fogo era apresentar ao vivo um dos blocos do Bozo. Tive uma dor de barriga, tamanha a ansiedade. Chegaram a comentar que o veredicto final foi do próprio Silvio.
A rotina de Jonas era puxada. De manhã, ele era o Rapadura, no Clubinho. À tarde, se transformava no Bozo em sua própria atração e à noite fazia shows ao lado de Tia Dulce e de outros integrantes do Clubinho. “Não era fácil. E você precisa ver como eu tinha uma psicologia com crianças. Por conta da maquiagem, já que passava praticamente o dia todo pintado, minha pele começou a ter problemas. Fiquei até afastado durante um tempo. Chegou um determinado momento em que fiquei esgotado.
SONHO Quando Jonas Santos resolveu dar sua guinada, o diretor e produtor Evandro Antunes entrou na vaga deixada por ele. Após concorrer com 20 candidatos, ele virou o novo Bozo. Mineiro de Monte Azul, no Norte do estado, ele conta que, desde criança, era fascinado pelo teatro e pelo circo e acalentava o sonho de um dia trabalhar na televisão. “Eu adorava a TV Itacolomi. Era meu sonho. Nunca imaginei que, um dia, fosse trabalhar na Alterosa, que era onde funcionava a Itacolomi”, diz.
Quando fez o teste para ser o palhaço, Evandro nunca havia assistido ao programa. Ele acredita que conseguiu o papel por ter seguido à risca o que o personagem propunha. “Colhi algumas informações sobre ele. Quando vi os outros candidatos fazendo um monte de pirueta, cambalhota e se dando mal, pensei: o Bozo é um palhaço, mas, antes de tudo, é um apresentador. Foi assim que ganhei a vaga”, descreve Evandro, que chegou a se formar no curso de artes dramáticas do Palácio das Artes.
Aos 58 anos e com um neto, Evandro guarda boas recordações daquele período e conta que chegou a conhecer Arlindo Barreto. No entanto, a relação só se estreitou quando o intérprete do Bozo paulista se converteu à Igreja Batista. “Nós nos aproximamos mais quando ele virou pastor, já que também sou evangélico”, diz. “Eu já conhecia um pouco da vida dele (Arlindo Barreto) e por isso quero muito ver o filme. Mas ali é a história do Arlindo, não a nossa”, frisa Evandro Antunes, que tem um grupo de palhaços desde 1984, Os Alegríssimos. Arlindo Barreto faz uma ponta em Bingo – O rei das manhãs.
Um dos aspectos mais marcantes do longa é a frustração de Bingo por não ser reconhecido, embora seu personagem seja muito famoso. Por contrato, a identidade do intérprete do palhaço não podia ser revelada. “Era uma coisa pela qual a gente passava também. Não podíamos revelar de jeito nenhum. Certa vez, houve um caso até engraçado. Minha mãe era professora de grupo e contou para os alunos que o filho dela era o Bozo. Um dia, eles foram até lá em casa e encontraram o Evandro. Não entenderam nada. Até briguei com ela por causa disso, e a mamãe argumentou: “Quem tem contrato com a emissora é você, não eu”, relata, entre gargalhadas.
Jonas Santos também ficava desapontado de não o reconhecerem seja na pele do Rapadura ou na do Bozo. Ele se lembra das dezenas de crianças que ficavam na porta da TV Alterosa à espera dos palhaços, que nunca apareciam. “A gente saía de cara limpa. Por trás do nariz vermelho e da maquiagem colorida de todo palhaço, há um ser humano que tem alegrias, tristezas, frustrações, sonhos, arrependimentos. Todo artista tem essa coisa de gostar de ser reconhecido; o anonimato frustra. O Jonas era uma pessoa, e o Bozo e o Rapadura eram outras. Mas, enfim, foi bacana enquanto durou. Quando me aposentar, quero retomar a minha carreira. Já vou ter idade para interpretar um vovô, ou algo assim (risos). Vai ser divertido também”, afirma..