Cem competidores foram confinados em uma casa com condições suficientes para apenas quatro pessoas - Foto: Antonio Chahestian/Record TV

O recém lançado reality show da Record A casa, apresentado ao público pela emissora na última terça-feira (27), está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por possíveis desrespeitos aos direitos humanos dos participantes. A ação foi confirmada pelo MPF de São Paulo. Em nota, o órgão informou que foi instaurado um inquérito civil pela Procuradoria da República, em São João da Boa Vista (SP), para apurar o caso, que segue em fase de coleta de informações.

Segundo o Ministério Público, um procurador enviou um ofício para a Record pedindo esclarecimentos sobre o funcionamento do programa, considerando que a denúncia foi baseada em notícias veiculadas sobre o quadro. A assessoria de imprensa da emissora, no entanto, alega que a Record TV ainda não recebeu nenhuma notificação do Ministério Público. No ofício que deu origem ao inquérito, o procurador cita diversas leis da constituinte que dizem respeito à dignidade da pessoa humana.

Desde o lançamento oficial do reality show, a emissora tem sido alvo de diversas denúncias sobre abuso e desrespeitos aos direitos humanos. No site de notícias TV Foco, um suposto ex-participante do programa, que não se identificou, denunciou que diversos competidores teriam passado mal por falta de comida, sendo registrados casos de desmaios, convulsões e até mesmo um caso de parada cardiorrespiratória dentro da casa.

A fonte afirmou ainda que o local de gravações tem, propositalmente, condições precárias de higiene e que muitos participantes desenvolveram doenças como herpes labial e conjuntivite, e que mulheres em período menstrual sofrem sem água e sabão suficientes para a higienização adequada. Outro questionamento é que os participantes não teriam sido informados sobre as condições do confinamento, apenas que todos pensavam que seriam uma competição de resistência, no estilo de No limite, antigo programa exibido pela Rede Globo. Apesar de ter a exibição iniciada apenas esta semana, o programa A casa teve as gravações iniciadas no dia 1º de junho.

A assessoria de imprensa da Record negou que um participante tivesse sido socorrido com parada cardiorrespiratória, mas preferiu não se pronunciar sobre as demais acusações. Em nota enviada, a emissora afirmou apenas: "Nenhum participante teria sofrido uma parada cardiorrespiratória e o regulamento do programa A casa prevê que os participantes podem comprar, por decisão própria, bens e objetos para proporcionar conforto a todos."

 

 

 

Entenda o programa

Inspirado no holandês Get the f*ck out of my house (Sai da p**** da minha casa, em tradução livre), A casa, apresentado por Marcos Mion, tem como proposta colocar cem pessoas confinadas para viver em uma residência de 120 m² - ou seja, cerca de 1 m² de espaço para cada participante - preparada para receber apenas quatro pessoas. Na casa, existem apenas quatro camas, quatro toalhas e dois banheiros.

Com um prêmio inicial de R$ 1 milhão, os próprios participantes administram como vai ser gasto o dinheiro, que deve ser utilizado para comprar os principais mantimentos: comida, produtos de higiene pessoal e de limpeza, entre outros. Porém, as quantias gastas são subtraída do prêmio final.

A cada semana, os participantes elegem um "dono" da casa, por votação interna. Ele será o responsável pelas regras do local, além de gerir o uso do dinheiro, que pode ser com ou sem o consentimento dos demais colegas. Além de ser o único com direito a uma suíte privativa com todo o conforto, o escolhido terá ainda o privilégio de comprar algo só para ele ou até mesmo para os seus "protegidos". Entre as regras, o "dono" sorteará quantos candidatos serão eliminados na semana. Durante esse período, eles passarão por várias tarefas para conquistar alguns benefícios como limpeza de banheiro, comida e festas.

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