Nova série 'American gods' resgata mitos, crenças e deuses de várias regiões e épocas

por Breno Pessoa 07/05/2017 09:40
AMAZON/DIVULGAÇÃO
Em viagem de avião para um funeral, o protagonista de American gods, Shadow Moon (Ricky Whittle; D) encontra o misterioso Wednesday (Ian McShane), que personifica uma antiga divindade (foto: AMAZON/DIVULGAÇÃO)

Mesmo em uma sociedade predominantemente monoteísta como a ocidental, é possível identificar diferentes orientações religiosas associadas, direta ou indiretamente, à cultura. American gods, nova série disponível na Amazon Prime Video (capítulos às segundas-feiras), resgata em seu enredo mitos, crenças e deuses de várias regiões e épocas, que fizeram parte da formação do povo norte-americano.

O programa, cuja primeira temporada tem oito episódios, é adaptação do livro Deuses americanos (Intrínseca, 576 páginas, R$ 59,90), do escritor inglês Neil Gaiman. Escrita em 2001, a obra tem como protagonista Shadow Moon (Ricky Whittle), um ex-presidiário que tem os planos de recomeçar a vida frustrados tão logo sai da prisão: a esposa Laura (Emily Browning) morre pouco antes do reencontro dos dois, em um acidente de carro com o amigo que lhe daria um novo emprego.

Na viagem para o funeral, Shadow conhece dentro do avião Mr. Wednesday (Ian McShane), um homem misterioso que lhe oferece um emprego e se revela a personificação de uma divindade antiga que está convocando outros deuses esquecidos para uma guerra contra o que seriam deuses contemporâneos, representados por arquétipos como a tecnologia e a mídia.

A sinopse aparenta tratar-se de um épico moderno com alguma metáfora de como pessoas passaram a idolatrar e depositar a fé em bens de consumo, redes sociais e afins. E não deixa de ser. Mas o livro de Gaiman não é centrado no embate de novos e antigos deuses. É mais uma visão sobre como uma miríade de povos, crenças e ideias moldaram a sociedade norte-americana como hoje se apresenta – plural, mas também desigual.

FANTÁSTICO E, ainda, como quase toda obra de Gaiman, American gods é uma narrativa que insere o fantástico no cotidiano. As histórias do autor, nos quadrinhos ou na literatura, costumam colocar magia, lendas, figuras folclóricas e mitológicas como coisas tão intrinsecamente naturais à vida que a maioria das pessoas nem percebe essas presenças.

Embora tenha sido escrito em 2001, Deuses americanos, agora transformado em série televisiva, revela pertinente atualidade ao falar a respeito da miscigenação nos EUA e sobre como o país foi construído por imigrantes. Enquanto Shadow e Wednesday cruzam as estradas do país recrutando antigos e quase esquecidos deuses, a dupla se depara com paisagens e personagens que têm histórias ricas e diversas precisamente por causa de suas origens. A trama faz lembrar também que nem sempre a imigração ocorreu de forma pacífica, como no caso dos afrodescendentes, trazidos por escravocratas.

Ao direcionar os holofotes para grupos frequentemente oprimidos ou intencionalmente relegados ao esquecimento, série e livro acabam mostrando um subtexto que vai muito além da história fantástica de um homem negro que acaba se envolvendo em uma peleja entre deuses. É uma válida defesa da pluralidade em tempos de xenofobia, racismo e intolerância.

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