Depois de causar grande impacto no mercado fonográfico, ao oferecer alternativa prática de baixo custo e legalizada para o consumo de música pela internet, plataformas de streaming já sentem a necessidade de se reinventar para se manter competitivas. Com o acirramento da disputa por assinantes, os serviços têm fechado parcerias com operadoras de telefonia móvel, times de futebol e canais de televisão.
Spotify, Deezer e Apple Music – os principais nomes do setor – também intensificam a aposta em produção de conteúdo original. A curadoria criteriosa é o ponto forte do projeto Spotify Sessions, o primeiro a surgir nesse formato, cuja missão é promover pocket shows com artistas veteranos ou em ascensão e, posteriormente, lançá-los em formato de EP.
Além de fazer releituras do próprio repertório ou versões de músicas famosas, os convidados concedem breves entrevistas. As gravações ocorrem em palcos ou estúdios da empresa em Estocolmo, Nova York e Londres. Três bandas brasileiras já participaram: os mineiros do Jota Quest, Scalene e Os Mutantes.
O serviço de origem francesa Deezer segue caminho semelhante, inclusive no nome. Já gravaram Deezer sessions os artistas como Ben Harper, Ed Sheeran e James Blunt. Entre os brasileiros, estão Rodrigo Amarante, Céu e MC Guimê. Além de disponibilizadas na plataforma, as performances têm versão em vídeo postadas no YouTube. Neste ano, a empresa anunciou o lançamento de outros dois projetos, o Deezer Apresenta – dedicado à música gospel – e o Deezer Next, voltado para novos artistas de vários gêneros. Do Brasil, foram escolhidas as cantoras Sofia Oliveira, Day & Lara, Julia & Rafaela e Isadora Pompeo.
ESTRATÉGIAS Com 10 milhões de assinantes, a Deezer busca estratégias para diminuir a distância do Spotify – líder de mercado, com mais de 50 milhões de usuários pagantes. Uma das parcerias firmadas recentemente, com o Flamengo, teve rebatimentos no catálogo, com mira nos 35 milhões de torcedores do time de futebol. Depois do lançamento da música Eu já nasci flamenguista, interpretada pelo cantor Wesley Safadão, a empresa planeja lançamento de playlists e podcasts.
As apostas das plataformas não se restringem ao universo fonográfico, mas invadem o espaço de atuação de outra gigante do streaming, a Netflix. Entre os planos da Apple Music, por exemplo, estão o lançamento de programas em vídeo como Vital signs, apresentado por Dr. Dre, e uma versão do quadro Carpool karaoke, de James Corden. Os vídeos serão disponibilizados até o fim deste ano.
O Spotify leva conteúdo audiovisual para a plataforma desde 2015, quando começou a exibir clipes da BBC e do canal Comedy Central. No primeiro semestre do ano passado, lançou os primeiros documentários próprios, sobre Green Day, Metallica e Gabriel, O Pensador. No horizonte da plataforma de origem sueca há a expectativa de distribuir conteúdos produzidos por grupos de entretenimento como ESPN, MTV, NBC e TED.
O serviço também planeja outras produções originais, como Ultimate/ultimate, uma série humorística sobre música eletrônica; e Rhymes & misdemeanors, a respeito de crimes envolvendo artistas;
Trading playlists, com indicações de músicas entre celebridades; Guest list, no qual personalidades escolhem músicas para situações específicas, e The drop, sobre os bastidores de novos discos.
Esses dois últimos têm equivalentes na concorrência: o Deezer moods convida artistas para indicarem canções em formato de vídeo e de playlist, enquanto o Deezer faixa a faixa coloca cantores e bandas para comentar o processo de produção de álbuns em fase de lançamento.
De acordo com levantamento da Statista, empresa alemã de pesquisas de mercado, a receita do segmento de streaming de música é de cerca de 6,8 bilhões de dólares por ano. Esse número deve crescer por volta de 21% até 2021, alcançando 10,9 bilhões anuais.
NO CARDÁPIO
Conheça as opções oferecidas pelo Spotify sessions e Deezer sessions
Franz Ferdinand
Para o Spotify, a banda apresentou seis faixas, entre elas versões acústicas de Take me out e No one girls. Para a Deezer, versões intimistas de Love illumination, Bullet e Fresh strawberries.
Weezer
A banda de rock regravou para o Spotify sucessos como Buddy Holly, além de faixas do disco lançado em 2016, como King of the world e California kids.
Ben Harper
O músico participou do projeto Deezer Sessions com versões acústicas de três canções do álbum Call it what it is (2016).
John Legend
Em dezembro do ano passado, participou de um dos primeiros episódios do Spotify singles, com Love me now e What’s going on, versão do hit de Marvin Gaye.
Coldplay
Em 2016, a banda gravou EP pela Spotify com versões acústicas de sucessos antigos, como Viva la vida e Yellow, e mais recentes, como Adventure of a lifetime.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Yasmin Muller,
editora de música da Deezer
O investimento em conteúdo original chega a representar uma mudança no papel dos serviços de streaming?
Este é um mercado muito dinâmico. Ainda vai haver muitas mudanças nos próximos anos, mas não nos vemos como produtores de conteúdo. Não somos como a Netflix, que tomou para si a responsabilidade de produzir obras. Nosso papel é uma forma maior de promoção e aproximação do artista com o público. Nosso foco é ter conteúdo original para trazer o usuário para a plataforma. É um diferencial de mercado. Além de ser um espaço para consumo de música, a Deezer também é um espaço para consumo de informação. É uma outra lógica.
A música gospel tem sido uma grande aposta da Deezer. Por quê?
É um pilar muito forte. Observamos a inserção que artistas gospel tinham na plataforma e percebemos que faltava um projeto focado nisso, pois esse público exige um tratamento especial. É um universo específico. Contratamos uma pessoa que se ocupa exclusivamente de música gospel e religiosa.
Como é feita a curadoria de artistas novatos para o Deezer Next?
A ideia é ser um programa perene, de atuação global. No Brasil, decidimos focar nos gêneros mais consumidos: pop, gospel e sertanejo, indo ao encontro de nosso planejamento para este ano. É uma escolha independente, feita pela Deezer a partir do contato com as gravadoras. Observamos o contexto de cada artista, a disponibilidade de estrutura, o engajamento com os fãs.