No último Rio Content Market, o maior encontro de negócios da América Latina envolvendo produtores independentes e profissionais de TV e mídia digitais, realizado em março, um dos estandes que mais chamaram a atenção foi o do Minas Gerais Audiovisual Expo (MAX), a maior iniciativa regional de fomento ao setor no país, que promove sua segunda edição em agosto, na Serraria Souza Pinto, em BH.
Além de conhecer projetos das principais produtoras independentes de Minas, os frequentadores degustaram duas iguarias típicas: o queijo e a cachaça. “Em todas as principais feiras que frequentei fora do país, o estande brasileiro sempre distribuía uma caipirinha horrorosa. Então, passei a levar cachaça mineira, um sucesso. Um colega carioca costumava dizer, de maneira meio irônica: ‘Minas, sempre presente’. Simbolicamente, isso acabou virando o lema dos produtores mineiros”, conta Carlos Ribas, fundador da produtora Companhia de Imagens e Sons (Cisup), representante da Brasil Audiovisual (Bravi) no estado.
A história do estande acabou rendendo a série televisiva Express caipirinha, em que dois coqueteleiros e uma promoter saem pelo mundo em busca de novos ingredientes para a bebida brasileira, sempre preparada com a legítima cachacinha mineira. Com 10 episódios, o seriado foi apresentado em edições anteriores do Rio Content. “Atualmente, a série está em pré-produção e busca coprodução nacional e internacional. Até chegamos a mostrá-la a um canal de fora. Vamos participar de outros eventos fora do Brasil, porque eles são importantes tanto para parcerias quanto para network”, informa Ribas.
REINALDO Express caipirinha é apenas um dos projetos da Cisup. Além de Footbal colours, coprodução com a Índia de um reality sobre futebol, a empresa desenvolve dois documentários. Duas Torres de Santê fala da ocupação de dois prédios abandonados em Belo Horizonte. Rei – De punhos cerrados mostra a trajetória de Reinaldo, o maior artilheiro da história do Atlético Mineiro.
“Cada vez mais, o regional está ganhando força e espaço. Percebendo que a gente podia falar do microcosmo para o macrocosmo, decidi fazer projetos como o das Torres Gêmeas de Santa Tereza. Nós somos especializados no mercado local, sempre priorizando a qualidade. Não é porque algo é feito e veiculado aqui que não tem valor. Muito pelo contrário”, destaca Carlos Ribas. Em parceria com a TV Alterosa, ele coproduziu os programas Viação Cipó (exibido desde 2003), Graffite, Feminina e Minas movimenta.
Quem também voltou do Rio Content Market com novidades foi o produtor-executivo Luiz Fernando de Alencar, da Immagini Animation Studios, especializada em animação 2D e 3D. Alencar apresentou duas animações, que vêm sendo negociadas com um canal estrangeiro. A série Caju e Malu traz um elefante historiador e uma fêmea de canarinho que pilota avião. A dupla procura artefatos perdidos, civilizações antigas e robôs gigantes para um museu. Já Chef Jeff é estrelada por um cozinheiro exótico, que viaja pelo mundo com o assistente coletando ingredientes raros para receitas especiais.
“Foi um dos melhores eventos de que participei. A animação brasileira passou a ser vista com outros olhos por players internacionais, representantes de canais e produtoras, sobretudo depois do Carlos Saldanha (diretor de A era do gelo e Rio) e do Alê Abreu (O menino e o mundo). A produção mineira deixou de ser coadjuvante. Tivemos um grande avanço nos últimos anos e o resultado é essa visibilidade”, comemora Alencar.
A Immagini atua no Brasil e no exterior. Um de seus sócios, Rodrigo Guimarães, adquiriu experiência internacional ao trabalhar por 11 anos na direção de arte de importantes estúdios. Ele participou dos filmes Animalia, Aprendiz de feiticeiro, Harry Potter e as relíquias da morte, Happy feet 2 e da série Divergente: Insurgente.
AFRO Um dos palestrantes do Rio Content Market foi o ator mineiro Adyr Assumpção, diretor da T’AI Criação e Produção e fundador do Festival Imagem dos Povos, voltado para a diversidade cultural e o fortalecimento das redes de produção e distribuição audiovisual. Adyr falou sobre a presença de conteúdos ligados ao negro em projetos audiovisuais. Um dos destaques do evento foi a première mundial da série Rebel, do canal norte-americano Black Entertainment Television (BET), do grupo Viacom. A atração conta a história de uma ex-policial que abandona a corporação depois de alvejar o antigo parceiro ao tentar impedi-lo de atirar no irmão caçula.
O BET se interessou por um projeto da T’AI. Trata-se de Beijo, o palhaço brasileiro, série live action de 13 episódios inspirada na trajetória de Benjamim de Oliveira (1870-1954), filho de escravos e um dos artistas mais completos do país. Nascido em Pará de Minas, ele foi ator, palhaço, músico, compositor, autor e diretor. O roteiro é de Edmundo Novaes. Guilherme Fiúza Senha assina direção e produção.
“Contemplada pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), a série é voltada para a família. O Rio Content é interessante pela oportunidade de fazermos contatos e apresentar produtos. Não necessariamente você fecha negócio, mas já é uma aproximação. Um dos canais a que cheguei a mostrar Beijo... foi justamente o BET. Eles acharam a série fascinante”, conta Adyr Assumpção.
Outra iniciativa da produtora mineira é o documentário Vozes no silêncio, sobre um grupo de adolescentes exposto à exploração sexual nas ruas de Presidente Prudente (SP). “Ano passado, ele foi apresentado no Rio Content, mas o fechamento se deu agora, na rodada de negócios do DOC São Paulo”, informa Adyr, referindo-se ao encontro internacional realizado na capital paulista. Vozes no silêncio será exibido pelo canal pago Curta!.
Quintal produtivo
A Mostra Imagem dos Povos, realizada em Minas, ajudou Elisângela Guanaíra, da Guerrilha Filmes, especializada na produção de conteúdos web, a fechar um negócio importante. “Vendemos o documentário O ambientalista, sobre crimes ambientais, que no fim do ano será exibido pelo canal Cine Brasil TV. Claro que feiras como o Rio Content Market são bacanas, mas você não precisa ir ao Rio de Janeiro, São Paulo, Miami ou para a França mostrar o seu produto. As oportunidades também surgem no quintal de casa”, defende Elisângela.
A Guerrilha Filmes é responsável por ApocalipZe, uma das primeiras séries brasileiras produzidas para a internet. Exibida pela londrina BBC, ela já faz parte do acervo do Netflix. Atualmente, a empresa desenvolve a série infantil Inhame inhame, que vem sendo negociada com um canal infantil estrangeiro.