No dia em que o canal Showtime anunciou que a nova temporada de Twin Peaks terá 18 episódios de uma hora cada e estreará em 21 de maio nos Estados Unidos, o diretor David Lynch fez uma apresentação surpresa no evento da Associação de Críticos de Televisão (TCA, na sigla em inglês). Como esperado, ele evitou dar muitos detalhes sobre a continuação da série histórica que foi ao ar em 1990 e 1991, sobre uma série de personagens misteriosos e particulares numa pequena cidade, abalados pelo assassinato de Laura Palmer (Sheryl Lee), investigado pelo excêntrico agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan) Mas com certeza divertiu muito os jornalistas presentes, com suas respostas enigmáticas que não deixam dúvidas de que se trata do criador de Twin Peaks, Veludo azul e Cidade dos sonhos.
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Nesses 25 anos em que ficou afastado de Twin Peaks, pensou nela com frequência. “Sempre imaginei o que poderia estar acontecendo. Com frequência, me lembrava desse mundo lindo e desses personagens lindos. Então foi Mark quem me contatou, faz um bom tempo, e me perguntou se eu queria voltar àquele mundo. Nós nos encontramos no restaurante Musso & Frank e conversamos e foi assim que começou.” O diretor também falou sobre o que faz sua parceria com Frost tão bem-sucedida. “Ele é muito inteligente. Acho que somos iguais e diferentes. É uma boa combinação”, disse, provocando risos.
Espera
Para a pergunta sobre se os fãs deveriam esperar que a nova temporada se pareça com a dos anos 1990, ele disse: “A palavra ‘esperar’ é uma palavra mágica, e as pessoas esperam coisas, e suas expectativas são correspondidas, com sorte, quando elas veem a coisa”. Lynch também contou que viu as 18 horas como um único filme, como foi na série original também. “Nós não sabíamos nada sobre televisão, estávamos apenas contando a história.”
Twin Peaks ficou conhecida justamente por elevar a qualidade na televisão, recebendo elogios de que “parecia cinema”. E era. Mas, hoje em dia, com tanta televisão de qualidade sendo feita, ser descrito como “parece cinema” não é mais novidade. Lynch, porém, não teme que Twin Peaks não atenda aos padrões atuais. “Não penso nisso porque se trata sempre do mesmo: o que importa é a história e a maneira como ela é contada.”
O diretor não quis discutir o desentendimento que teve com o canal, que o fez se afastar do projeto por um tempo. Nem falar se algumas narrativas da série original que não puderam ser exploradas vão ser abordadas agora – a série, na época exibida num canal aberto, acabou antes do esperado, depois de apenas duas temporadas. “Quem matou Laura Palmer não era uma pergunta que queríamos responder”, explicou Lynch sobre o cancelamento. “Aquele mistério de Laura Palmer era a gansa que colocava pequenos ovos de ouro. Em certo momento, nos disseram que tínhamos de dar um ponto final ao mistério, e depois disso não conseguimos mais continuar.” Mas ele soltou uma informação valiosa, ao ser indagado se a frase “o fogo anda comigo” estaria presente na nova temporada: “Eu diria que os últimos sete dias de Laura Palmer são muito importantes na nova série”. Sobre a possibilidade de continuar depois das 18 horas, Lynch falou: “Sempre disse que não ia voltar a esse mundo e aqui estamos”. É o seu jeito de dizer nunca diga nunca. (Mariane Morisawa/Estadão Conteúdo)