A distopia é um dos assuntos do momento. Apesar de não ser uma tema novo, o modelo é cada vez mais recorrente e traz com ele produções de sucesso para o cinema, como Jogos vorazes, Divergente, Expresso do amanhã e Maze runner: Correr ou morrer. Mas o tema permeia outras frentes, e tem sido um sucesso também nos games, como em Deus X, ou em diversas séries, incluindo a primeira brasileira da Netflix, 3%, e Black mirror, produzida pela mesma empresa, ou ainda a nova sensação do momento, Westworld, da HBO.
Mas as distopias já estavam presentes em obras clássicas — vide 1984 e Admirável mundo novo — apesar disso, as novas produções trazem um elemento novo. “As atrações mais recentes abordam a tecnologia de ponta, como a inteligência artificial, isso tem agregado um algo a mais para a narrativa”, explica Alice Fátima Martins, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), doutora em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e autora do livro Saudades do futuro: Ficção científica no cinema e o imaginário social sobre o dever.
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A professora levanta ainda mais questionamentos: “É um pouco aquilo de criticar alguma coisa, mas você está dentro dela. Existe uma crítica social, mas ela está na embalagem do modelo que está sendo criticado”, pontua. Para ela, um fato que acontece é que as produções são feitas para serem consumidas, como um produto: “A mercadoria é feita para ser assistida de forma crítica? A forma que esses produtos chegam para o consumidor e que ela é disparada são feitas para serem simplesmente consumidos, sem grandes reflexões”.
Apesar de o consumo dessas produções se mostrar bastante satisfatório, vemos, em alguns momentos, as séries caindo em elementos comuns. “O estado costuma ser visto negativamente, ele é opressor ou até não existe. No lugar, encontramos grandes corporações, que criam armadilhas para a população, que acaba refém dessas para sobreviver”, exemplifica Alice. “A ideia de que o avanço da tecnologia, da ciência, da comunicação trazem um futuro melhor não se realizará. Os conflitos estão colocados e as soluções estão cada vez mais distantes, isso alimenta essas narrativas”, ressalta.