No ar em 'A lei do amor', Humberto Carrão fala sobre sua carreira e o momento atual do país

Ator estreou este ano na direção com dois curtas e está no elenco de 'Aquarius'. ''Não se posicionar também é uma responsabilidade que se assume'', afirma

por Agência Estado 21/11/2016 09:14

Joao Cotta/Divulgação
Para Humberto Carrão, ''o tempo atual cobra mais sobre o que você está pensando''. (foto: Joao Cotta/Divulgação)
 

Intensidade é uma palavra apropriada à vida de Humberto Carrão. O ator carioca está no elenco do longa Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, que concorreu à Palma de Ouro em maio, estreou como diretor com dois curtas – À festa, à guerra e Regeneração – e interpreta o jovem Tiago em A lei do amor, novela das nove da TV Globo.


Na trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, Tiago vive às voltas com dilemas. A família é envolvida com negócios suspeitos, mas ele não quer participar disso. Noivo de Letícia (Isabella Santoni), ele se apaixonou por Isabela (Alice Wegmann). ''Ele não é bobo, não é ingênuo. Só não percebeu ainda muitas coisas que acontecem'', diz o ator que, na vida real, é conhecido por defender suas posições políticas. 


Antes de começar a gravar A lei do amor você esteve em Aquarius, um filme aclamado pela crítica e pelo público. Que balanço faz desse trabalho e o que tirou da parceria com Sonia Braga?
Acho que estamos vivendo um momento muito lindo e muito importante ao ver essa volta da Sonia em um filme brasileiro, feito por um pernambucano (o diretor Kleber Mendonça Filho) e não em um filme americano. É um trabalho que ganhou essa força, que foi para o Festival de Cannes, não é qualquer coisa. É muito bonito, me dá orgulho... Ah, a Sonia Braga é uma instituição. Já no primeiro contato ela quebra o gelo, ela fala 'me dá um abraço, vamos conversar'. Qualquer possibilidade de estranhamento é rapidamente quebrada.

 

Acha que está no auge de sua carreira artística?
Não acho que tenha a ver com auge ou com um momento em especial. Acho que a vida são momentos especiais e a sequência deles. Fui muito feliz com Aquarius, fui muito feliz com dois curtas que acabei de dirigir e foram para alguns festivais (tendo sido premiados). Tenho muita vontade de continuar trabalhando como diretor. Acho que o momento é de seguir e de pensar, trazer coisas novas para a cabeça e vontade de trabalhar com outras coisas.

Você fez diversos trabalhos na faixa das 19 horas. Faz alguma diferença atuar em uma trama do horário nobre?
De forma alguma. Acho que minha evolução como ator tem a ver com o passar do tempo, com as experiências, com as pessoas que encontro, com os lugares por onde passo, com erros e acertos que cometo. Acho que não tem a ver com o horário em que estou trabalhando. Com certeza, não. Quando vou fazer novela, seja em qualquer horário, me interessam os encontros, com quem vou trabalhar, que histórias vou contar... E isso poderia ser na faixa das seis, das sete, em um programa infantil.

Você é politizado e diz o que pensa. Acha que isso atrapalha ou ajuda de alguma forma?
Acho que o tempo atual cobra mais sobre o que você está pensando. E isso nem é uma questão de lado. Eu, assim como qualquer outra pessoa, tenho o direito de me expressar, de dizer o que estou pensando. Se estamos vivendo esse momento, é natural que as pessoas tenham interesse em saber quem é aquele ator ou atriz que admira. Acho que não se posicionar também é uma responsabilidade que se assume. Se amanhã alguma pessoa não quiser trabalhar comigo porque eu penso à esquerda, provavelmente não me interessa trabalhar com essa pessoa. Assim como já ouvi falar de várias pessoas que não trabalhariam com determinados atores que se posicionaram a favor do ''impeachment'' e eu também acho errado, porque é uma patrulha para o mesmo lado. Não faz sentido não trabalhar com uma pessoa porque ela pensa diferente. Acho que qualquer sociedade, qualquer relação, se desenvolve com o encontro de diferenças, no diálogo. Não tenho medo de perder nada por isso, porque isso me é muito caro e eu não vou mudar.

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