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Séries de TV convidam à reflexão sobre relação problemática entre sociedade e tecnologia

Novo padrão televisivo se concentra nas relações humanas

Breno Pessoa
Se, no fim do século 19, a ascensão da ciência moderna impulsionou o surgimento da ficção científica na literatura, os avanços atuais da tecnologia parecem também contribuir para alavancar uma nova leva de obras.
Berço de algumas das mais populares produções sci-fi, a exemplo de Star trek, Além da imaginação e Babylon 5, a TV tem resgatado essa tradição nas recentes séries Black mirror, Westworld, The 100 e The man in the high castle.

Ódio na internet é tema de 'Black Mirror', atração da Netflix - Foto: Netflix/divulgação
Menos focado no lado fantástico da ficção científica, como viagens espaciais, dimensões paralelas, alienígenas e o futurismo tecnológico exacerbado, o novo padrão televisivo se concentra no campo das relações humanas. Um dos expoentes atuais, Black mirror, exibida na plataforma Netflix, exemplifica bem a tendência: apesar de ter a tecnologia como elemento comum entre todos os episódios, o interesse maior é na imbricação social.


Produzida por duas temporadas pela emissora inglesa Channel 4, Black mirror chegou ao terceiro ano pelas mãos da Netflix. A troca de casa não trouxe alterações na fórmula criada por Charlie Brooker, exceto orçamento maior, o que garantiu a produção de seis episódios em vez dos três habituais por temporada.

 

O grande diferencial está na escolha de temas mais sintonizados com o mundo contemporâneo do que os assuntos abordados em episódios de anos anteriores. A dependência da aprovação alheia em redes sociais, expressão do ódio na internet, vigilância e relacionamentos amorosos virtuais estão entre as questões colocadas. Com episódios diversificados em termos de roteiro e direção, ficou ainda mais evidente que Black mirror abraça não apenas a ficção científica, mas uma gama de gêneros, como drama, thriller e policial.


A variedade de possibilidades narrativas e estilos se deve ao fato de a ficção científica não ser considerada necessariamente um gênero, mas característica da história. Por isso, várias outras produções, da comédia ao drama, conseguem também incluir elementos sci-fi.

ROBÔS Apesar de ter a tecnologia em evidência, Westworld, da HBO, também se aprofunda em dramas morais a partir do cenário futurista em que robôs atingiriam um elevado grau de sofisticação da inteligência artificial e de semelhança física com seres humanos. Usados para diversão, os androides são explorados de diversas formas no programa.

É possível fazer um paralelo com as relações de escravidão ou servidão estabelecidas na sociedade.


The 100, da CW, também ambientada no futuro, mostra cenário mais sombrio, embora igualmente movediço no campo moral. Depois de tornar o planeta inabitável, seres humanos passam a viver em uma estação espacial de leis rígidas e com recursos racionados.


Com o esgotamento da água e da comida, decide-se enviar para a Terra 100 crianças que cometeram algum ato de deliquência anteriormente. Crítico ao determinismo social e a regimes totalitários, o programa intercala questões mais pesadas com a subtrama de drama juvenil.

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