A série Liberdade de Gênero, de João Jardim, estreia nesta quarta, 19, no canal GNT, com uma missão delicada: falar sobre a mais violentada letra da sigla LGBT – não por acaso a última, que representa as pessoas trans* (assim, com asterisco mesmo, para incluir todas as identidades de gênero. O grupo pegou emprestado o sentido que o sinal gráfico tem na informática, linguagem em que é considerado coringa, “englobador”).
Para tanto, entrou nas casas de 14 personagens que não se identificam com o gênero que lhes foi imposto ao nascer para contar suas histórias de amor, alegria, compreensão, desejo e preconceito. O trabalho, contudo, enfocou transexuais com relações afetivas sólidas e bem-sucedidas – tanto amorosas, quanto familiares.
Jardim explica que, com isso, a ideia é evidenciar a semelhança que existe na maneira como pessoas cis (que se identificam com o próprio gênero) e trans se relacionam no cotidiano. “Claro que existe um preconceito imenso e o número de histórias tristes e violentas é realmente muito grande. Mas nós quisemos mostrar justamente que muitas dessas pessoas, apesar de tão discriminadas, têm orgulho de ser quem são. E estão ali, na luta por respeito, e nem de longe pedem desculpas por não se enquadrar no padrão heteronormativo.
As gravações foram realizadas de Norte a Sul do país, passando por Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Diante do questionamento da reportagem sobre a participação de pessoas trans na equipe de produção – grande reivindicação da minoria em questão, ávida pela chance de contar a própria história com protagonismo – o diretor informa que, ao contrário de tantas produções audiovisuais supostamente defensoras da causa, cumpriu seu dever de casa. Ao menos parte dele. “Trabalhamos o tempo todo com Bárbara Aires (ex-produtora do programa global Amor e Sexo), por exemplo. Tivemos cinegrafista trans e mantivemos um diálogo aberto com a categoria o tempo todo, inclusive pra gente mesmo se educar e desconstruir falas e atitudes preconceituosas”, afirma.
No discurso, o diretor demonstra mesmo que se educou direitinho. Atento às suas palavras, se refere às travestis sempre no feminino, tal qual elas gostam de ser tratadas, e não se ouve de sua boca termos rechaçados pela comunidade trans como “mudança de sexo”. Corretamente, Jardim usa expressões como redesignação de gênero e transgenitalização – uma vez que, como reforçam veementemente os ativistas: gênero é questão que se restringe à genitália. Logo, ninguém se deita numa mesa de operação com um sexo e sai do hospital com um outro. A mulher que opta por se submeter a uma cirurgia já era mulher antes dela.
Chama atenção e gera expectativa ainda sobre Liberdade de Gênero o fato de que abordará questões polêmicas, como a sexualidade das pessoas trans. O movimento se queixa, afinal, que a curiosidade que as pessoas manifestam em relação a esse aspecto de suas vidas, muitas vezes, serve apenas para fetichizá-las ou tratá-las como exóticas.
O cineasta, porém, destacou que tratou a questão com máximo respeito à vontade das personagens de tocar no assunto. “Alguns não quiseram entrar nessa seara, logo, não entramos.
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