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Um apartamento na Serra e um set no Rio de Janeiro

Mineiro por adoção, o paulista Mário César Camargo se fixou em BH, de onde sai para fazer trabalhos como o da minissérie 'Supermax', da Globo

Helvécio Carlos

O ator Mário César Camargo - Foto: Renato Rocha Miranda/Divulgação

Há quase 30 anos morando em Belo Horizonte, o ator Mário César Camargo não tem muito do que reclamar. Adora a cidade, onde tem uma carreira no teatro reconhecida, com trabalhos ao lado de Pedro Paulo Cava, Adyr Assumpção e Walmir José. Por aqui se casou com Mônica Belizário; teve uma filha, Laura; e mora na Serra, em um apartamento supercharmoso. Volta e meia, ele segue para o Rio de Janeiro, para atender a convites de produções de TV.


O mais recente – para participar da minissérie global Supermax – manteve o ator afastado de Belo Horizonte por cerca de quatro meses. “Trabalhamos muito, inclusive aos domingos. Folga uma vez por mês”, recorda ele, que assumiu o papel do doutor Timóteo, médico reformado do Exército. “A Globo deveria me pagar um extra por eu manter o segredo do meu personagem e da história”, brinca o ator, que não dá nenhuma dica do que pode ocorrer com os colegas encarcerados em um presídio de segurança máxima em busca do grande prêmio de um reality show.


Mário César afirma que a série foi uma grande experiência em sua carreira.

“Entrei no elenco para substituir outro ator que, por problemas de saúde, precisou sair. Dois dias depois do convite, eu estava lá. Foi uma loucura, já que todo o elenco estava trabalhando há muito tempo”, conta. Mário César elogia a série por não haver, segundo ele, nada parecido na televisão.

 

“Não é o realismo cotidiano das novelas. Foi preciso construir uma atmosfera de suspense que induzisse ao terror. Os personagens foram sendo construídos à medida que recebíamos os capítulos que iriam ser gravados”, comenta. A única queixa de Mário é em relação ao horário de exibição – na faixa das 23h.


O elenco de Supermax - Foto: Renato Rocha Miranda/DivulgaçãoDiferentemente da informação que circula na internet, Mário César Camargo não é mineiro. Muito menos de São Domingos do Prata, como 'informa' a página virtual. “Na verdade, nasci em Marília (SP). Vim para cá pelas mãos de Pedro Paulo Cava (diretor de teatro). Foi ele quem me introduziu nessa experiência antropológica. Aí eu me tornei mineiro”, diverte-se.


Mário César chegou para integrar o elenco de Bella ciao, de Luiz Alberto de Abreu, dirigida por Cava em 1988.

“Como não encontrei um ator com as mesmas características para interpretar o anarquista italiano Barachetta, chamei o Mário para a temporada de dois anos em Belo Horizonte”, recorda o diretor.

 

CABARÉ MINEIRO “Pedro Paulo fez um grande espetáculo com uma ópera magnífica”, elogia o ator, que considerou uma aventura aceitar o convite e se mudar para cá. “Havia uma vida cultural pulsante por aqui. Você tinha o Cabaré Mineiro”, diz, citando a casa de espetáculos que revolucionou a noite de Belo Horizonte, nos anos 1980. Daí em diante, a paixão por Belo Horizonte foi imediata.


Bella ciao marcou outra mudança na carreira de Mário César. Quando a montagem paulista – a que inspirou Cava – estreou no Rio de Janeiro, chamou atenção de diretores de televisão. Não demorou e lá estava ele no elenco de Partido alto (1984), novela de Aguinaldo Silva e Glória Perez. Quinze anos mais tarde veio Anacleto, de Terra nostra, de Benedito Ruy Barbosa, o mais marcante para o público. “Eu era louco para fazer televisão, onde tudo, ao contrário do teatro, é mais contido. No palco, tudo é projetado.”


Antes de Bella ciao Mário já trabalhava dividindo nas mais variadas funções.

Em meados dos anos 1970, fazia direção musical, composição de trilha e muitas outras tarefas para teatro amador. “Naquela época, existia um festival de teatro amador no estado de São Paulo. Era um movimento de produção riquíssima. Era um fazer teatral que se renovava”, afirma.


Comparando o teatro dos anos 1970/1980 com a produção atual, o ator é categórico em dizer que, naquela época, o fazer teatral era um veículo de resistência cultural e hoje, mero entretenimento. “Teatro passou a ser cumpridor (e escravo) da Lei Rouanet”, critica. Do teatro amador, Mário ele seguiu, como ator, para trabalhos na Cia Ópera Seca, no Grupo Ornitorrinco e no Grupo Tapa, que marcaram a história das artes cênicas no Brasil.

 

Em Belo Horizonte, sem nenhum projeto para a televisão nos próximos meses, ele começa a trabalhar numa montagem a partir de contos de Tchekhov, ao lado de Raquel Albergaria, para estrear no ano que vem. “Os contistas russos são fantásticos”, elogia.
 

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