Foi pouco antes de gravar o Programa do Jô, na última quarta-feira, que Marcelo Adnet conseguiu uma brecha na agenda para conversar com o jornal O Estado de S. Paulo, ainda no camarim, sobre seu novo show na Globo. Adnight, título semanal reservado às noites de quinta-feira, ele avisa, é "um late show", não talk, emendando: "Entrevista nem é meu ponto forte". Esclarece logo que não é candidato à vaga de Jô. "Eu nunca disse isso, e o programa foi concebido para ser semanal. Se fosse diário, seria um outro programa." A estreia será em 25 de agosto, antes do Jornal da Globo - o que leva o diretor Emerson Muzeli, que nos acompanha, a brincar sobre a grande meta do novo projeto: "Queremos arrancar um sorriso do William Waack", fala.
Muzeli chama ainda a atenção para o fato de Adnight nascer já sob a concepção de irrigar todas as plataformas, como um processo natural de seu formato e de uma equipe que "vive desse refluxo da internet". Com promessa de plateia interativa e até cinco bocas de cena possíveis para desenvolver ações paralelas, o programa dispensa entrevistas sentadas, ao modo tradicional, e tem um time de dançarinos em funções de produtores e contrarregras, pronta para dançar sob qualquer ritmo. "A gente tem uma distribuição grande de conteúdo, o programa não é pensado só para a TV."
Paralelamente às 14 edições do Adnight naquela que é tratada como uma primeira temporada do programa, este ano, Adnet toca já a quarta safra do aclamado Tá no Ar, programa criado por ele, Marcius Melhem e Maurício Farias, que trouxe novo respiro à liberdade do riso na Globo.
Como é o ‘Adnight’? Tem cenário fixo? Banda?
Tem cenário fixo, tem uma banda fixa, que a gente montou. Não tem nada gravado ainda, está tudo no papel. A gente vai sempre gravar o mais perto possível da data de exibição. Cada programa é feito para o convidado, em função do convidado. A entrevista pode acontecer rapidamente ou não, a gente nem conta com isso. Essas conversas acontecem dentro das dinâmicas, dos quadros que a gente cria para cada convidado, e não de uma maneira sentada de falar.
Já há nomes de convidados?
A gente fez um piloto com o Mateus Solano e tem a ideia de fazer um programa com ele de fato. Vamos gravar de novo. Somos muito amigos, desde 14 anos de idade. Uma coisa que funciona muito com o Mateus, por exemplo, é que ele faz muito improviso. A gente foca muito na habilidade, na versatilidade do convidado, nas coisas que ele vai arrebentar e que o público não conhece muito. O público conhece o Mateus, excelente ator, mas não conhece tanto o Mateus engraçado.
O ‘Adnight’ de alguma forma reduz sua participação no ‘Tá no Ar’? Há possibilidade de o ‘Adnight’ vir a ocupar a vaga do Jô?
O Tá no Ar continua, em janeiro tem nova temporada. Vai ter também uma nova temporada da Escolinha (do Prof. Raimundo), vamos tentar conciliar tudo. A Escolinha é rápida, mas o Tá no Ar é muito trabalhoso. Quanto a lugar do Jô, isso nunca existiu. O nosso programa é semanal, jamais foi pensado para ser diário. Dá trabalho. Tem um VTzinho, tem ensaio, para questões de movimentações de cenário. Não dá para ser diário. Aí, teria que fazer um outro programa, mais simples. Eu jamais disse que seria diário. Nem três vezes por semana daria para fazer.
Alimentando essa ideia, o Fábio Porchat, que vai fazer um talk show diário na Record, postou uma foto com você, em dezembro, desejando "feliz 2016" ao Danilo Gentili, que faz um late show diário no SBT. Ficou a ideia de que você também seria diário.
Acho que tem público para tudo. Por exemplo, o Adnight vai estar no ar ao mesmo tempo que A Praça é Nossa. É um programa diferente, os dois têm públicos. Eu, o Porchat e o Gentili temos uma relação ótima, somos muito amigos. Trabalhei com o Gentili em stand up e fiz várias coisas junto com o Porchat. Inclusive o Danilo falou que vai torcer pra mim, pro Porchat. Acho que ele subindo, pra mim também é bom. O late show tem a cara do apresentador.
Se é verdade que há uma divisão ideológica no País, é possível falar com todos os públicos?
Nada é unanimidade, em lugar nenhum, ninguém agrada 100% todo mundo. E acho que aquele país de um ano atrás, que era um país rachado, hoje já tem uma área cinzenta maior, no sentido de que as coisas estão confusas ainda. A gente precisa de um distanciamento histórico para enxergar esse momento com mais clareza. O humor é uma coisa universal. Houve gente no Chico Buarque de Orlando (clipe exibido no ‘Tá no Ar’, com repertório do músico parodiando o comportamento de brasileiros que viajam a Orlando) fazendo leituras completamente opostas. ‘Ah, ele tá sacaneando a direita’, ou ‘ele tá sacaneando a esquerda’. A gente faz um quadro que é mais provocador que uma bandeira. Eu não gosto de botar bandeira pelo seguinte: tenho que deixar um espaço aberto para o meu convidado, para ele se sentir à vontade, para ele falar. Sou, claro, um cara de opinião, que tem uma crítica, mas não vejo o país assim dividido ao meio e o humor une todo mundo.
O humor da Globo nos últimos anos do Casseta & Planeta sofreu várias restrições, inclusive vetando piadas com o próprio elenco e sátiras à publicidade. O que teria motivado essa liberdade exibida pelo ‘Tá no Ar’, que surpreendeu crítica e público?
Quando entrei na Globo, vindo da MTV, de uma experiência completamente diferente disso, já peguei um momento pelo qual eu posso falar, que foi de muita liberdade, muita confiança. Acho que a Globo, num momento inteligente, sabia que precisava ter o Marcelo num momento livre.
Mas por algum tempo, muita gente duvidava que a Globo deixaria o Adnet ser Adnet.
Mas acho que isso vem acontecendo no Tá no Ar. Eu tenho experimentado isso, de as pessoas constatarem: ‘mas você é livre na Globo? Não pode ser!’ Mas é. Tive muito carinho, muita confiança.
Você acredita que o humor da internet, inclusive pelo sucesso do Porta dos Fundos com um humor mais ácido, e a própria MTV da sua geração, tenham contribuído para essa reabertura da Globo, dona de uma plateia maior?
Sim, na MTV a gente tinha, claro, menos estrutura e menos comprometimento. Mas agora, na Globo, eu não tenho nenhuma amarra, o Tá no Ar nunca recebeu um recado do tipo ‘isso não vai ao ar’. Ao contrário, a gente sempre teve o apoio, ‘bota no ar, sim’. As coisas mudaram, nos últimos 15 anos, mais do que nos 40 anteriores, e a televisão, em si, tende a ser um pouco mais tradicional, mais devagar. A sociedade muda e a TV muda depois. O que está rolando agora, como conceito é ‘vamos correr atrás e fazer uma televisão mais moderna?’ Isso é muito legal e acho que tem sim essa influência.
Muzeli chama ainda a atenção para o fato de Adnight nascer já sob a concepção de irrigar todas as plataformas, como um processo natural de seu formato e de uma equipe que "vive desse refluxo da internet". Com promessa de plateia interativa e até cinco bocas de cena possíveis para desenvolver ações paralelas, o programa dispensa entrevistas sentadas, ao modo tradicional, e tem um time de dançarinos em funções de produtores e contrarregras, pronta para dançar sob qualquer ritmo. "A gente tem uma distribuição grande de conteúdo, o programa não é pensado só para a TV."
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Como é o ‘Adnight’? Tem cenário fixo? Banda?
Tem cenário fixo, tem uma banda fixa, que a gente montou. Não tem nada gravado ainda, está tudo no papel. A gente vai sempre gravar o mais perto possível da data de exibição. Cada programa é feito para o convidado, em função do convidado. A entrevista pode acontecer rapidamente ou não, a gente nem conta com isso. Essas conversas acontecem dentro das dinâmicas, dos quadros que a gente cria para cada convidado, e não de uma maneira sentada de falar.
Já há nomes de convidados?
A gente fez um piloto com o Mateus Solano e tem a ideia de fazer um programa com ele de fato. Vamos gravar de novo. Somos muito amigos, desde 14 anos de idade. Uma coisa que funciona muito com o Mateus, por exemplo, é que ele faz muito improviso. A gente foca muito na habilidade, na versatilidade do convidado, nas coisas que ele vai arrebentar e que o público não conhece muito. O público conhece o Mateus, excelente ator, mas não conhece tanto o Mateus engraçado.
O ‘Adnight’ de alguma forma reduz sua participação no ‘Tá no Ar’? Há possibilidade de o ‘Adnight’ vir a ocupar a vaga do Jô?
O Tá no Ar continua, em janeiro tem nova temporada. Vai ter também uma nova temporada da Escolinha (do Prof. Raimundo), vamos tentar conciliar tudo. A Escolinha é rápida, mas o Tá no Ar é muito trabalhoso. Quanto a lugar do Jô, isso nunca existiu. O nosso programa é semanal, jamais foi pensado para ser diário. Dá trabalho. Tem um VTzinho, tem ensaio, para questões de movimentações de cenário. Não dá para ser diário. Aí, teria que fazer um outro programa, mais simples. Eu jamais disse que seria diário. Nem três vezes por semana daria para fazer.
Alimentando essa ideia, o Fábio Porchat, que vai fazer um talk show diário na Record, postou uma foto com você, em dezembro, desejando "feliz 2016" ao Danilo Gentili, que faz um late show diário no SBT. Ficou a ideia de que você também seria diário.
Acho que tem público para tudo. Por exemplo, o Adnight vai estar no ar ao mesmo tempo que A Praça é Nossa. É um programa diferente, os dois têm públicos. Eu, o Porchat e o Gentili temos uma relação ótima, somos muito amigos. Trabalhei com o Gentili em stand up e fiz várias coisas junto com o Porchat. Inclusive o Danilo falou que vai torcer pra mim, pro Porchat. Acho que ele subindo, pra mim também é bom. O late show tem a cara do apresentador.
Se é verdade que há uma divisão ideológica no País, é possível falar com todos os públicos?
Nada é unanimidade, em lugar nenhum, ninguém agrada 100% todo mundo. E acho que aquele país de um ano atrás, que era um país rachado, hoje já tem uma área cinzenta maior, no sentido de que as coisas estão confusas ainda. A gente precisa de um distanciamento histórico para enxergar esse momento com mais clareza. O humor é uma coisa universal. Houve gente no Chico Buarque de Orlando (clipe exibido no ‘Tá no Ar’, com repertório do músico parodiando o comportamento de brasileiros que viajam a Orlando) fazendo leituras completamente opostas. ‘Ah, ele tá sacaneando a direita’, ou ‘ele tá sacaneando a esquerda’. A gente faz um quadro que é mais provocador que uma bandeira. Eu não gosto de botar bandeira pelo seguinte: tenho que deixar um espaço aberto para o meu convidado, para ele se sentir à vontade, para ele falar. Sou, claro, um cara de opinião, que tem uma crítica, mas não vejo o país assim dividido ao meio e o humor une todo mundo.
O humor da Globo nos últimos anos do Casseta & Planeta sofreu várias restrições, inclusive vetando piadas com o próprio elenco e sátiras à publicidade. O que teria motivado essa liberdade exibida pelo ‘Tá no Ar’, que surpreendeu crítica e público?
Quando entrei na Globo, vindo da MTV, de uma experiência completamente diferente disso, já peguei um momento pelo qual eu posso falar, que foi de muita liberdade, muita confiança. Acho que a Globo, num momento inteligente, sabia que precisava ter o Marcelo num momento livre.
Mas por algum tempo, muita gente duvidava que a Globo deixaria o Adnet ser Adnet.
Mas acho que isso vem acontecendo no Tá no Ar. Eu tenho experimentado isso, de as pessoas constatarem: ‘mas você é livre na Globo? Não pode ser!’ Mas é. Tive muito carinho, muita confiança.
Você acredita que o humor da internet, inclusive pelo sucesso do Porta dos Fundos com um humor mais ácido, e a própria MTV da sua geração, tenham contribuído para essa reabertura da Globo, dona de uma plateia maior?
Sim, na MTV a gente tinha, claro, menos estrutura e menos comprometimento. Mas agora, na Globo, eu não tenho nenhuma amarra, o Tá no Ar nunca recebeu um recado do tipo ‘isso não vai ao ar’. Ao contrário, a gente sempre teve o apoio, ‘bota no ar, sim’. As coisas mudaram, nos últimos 15 anos, mais do que nos 40 anteriores, e a televisão, em si, tende a ser um pouco mais tradicional, mais devagar. A sociedade muda e a TV muda depois. O que está rolando agora, como conceito é ‘vamos correr atrás e fazer uma televisão mais moderna?’ Isso é muito legal e acho que tem sim essa influência.