O que você quer fazer antes de morrer?

Maneira de ver a morte está ligada à forma como se leva a vida

17/06/2013 09:00

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17 de junho de 2013 - 09:00
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  • Before I Die / Divulgação
    Posso morrer amanhã, será que estou conduzindo a minha vida da maneira como gostaria? 'A grande lição da morte é deixar claro que precisamos viver todos os dias intensamente', explica a psiquiatra e psicoterapeuta Mariel Paturle, fundadora e ex-presidente da Sociedade de Tanatologia e Cuidados Paliativos de Minas Gerais (Sotamig) e do Grupo de Atendimento a Enlutados (GAL). Motivada por uma experiência de perda, a arquiteta e planejadora urbana Candy Chang instalou, em uma casa abandonada de seu bairro em Nova Orleans, um painel gigantesco com a frase: Antes de morrer, eu quero... (Before I Die I want to...)
  • Before I Die / Divulgação
    De uma maneira de enfrentar a morte, o painel passou a uma catarse internacional e hoje já existe em mais de 150 cidades, 10 idiomas e 30 países. No site beforeidie.cc, há instruções para montar um painel em qualquer cidade.
  • Trevor Coe / Before I Die / Divulgação
    A arquiteta explica que, no cotidiano, é fácil se envolver em banalidades e esquecer o que realmente importa para você. 'Depois de perder alguém que eu gostava muito, pensei muito sobre a morte e isso ajudou a tornar minha vida mais clara: com quem eu realmente gostaria de estar, as coisas que eu gostaria de fazer. Mas eu precisei lutar comigo mesma para manter essa perspectiva e comecei a pensar se os meus vizinhos também se sentiam assim. Daí veio a ideia de pintar o muro com tinta para quadro negro. Qualquer um pode compartilhar suas aspirações e refletir sobre sua vida', explica ela.
  • Before I Die / Divulgação
    De 'cantar para milhões de pessoas' a 'comer uma salada com um alienígena', passando por 'ver a formatura da minha filha na faculdade' e 'ser eu mesmo', as frases escritas no muro consolaram Chang e ajudaram a mobilizar o bairro em torno da preservação de espaços públicos.
  • Before I Die / Divulgação
    'Percebi que não estava sozinha na tentativa de tentar dar sentido à minha vida. Cada muro é único e reflete o desejo de uma vida consciente', resume a arquiteta. Pela sua formação, ela enxerga ainda uma outra função na iniciativa. 'Nossos espaços públicos podem ter a profundidade que nós permitimos que eles tenham. Historiadores já demonstraram que a origem da sociedade não se deve apenas à necessidade de sobrevivência, mas também pela necessidade de construir ambientes sagrados e uma vida mais significativa. E contemplar a morte nos faz lembrar desse sentido', define.
  • Blog Para Francisco/Divulgacao
    Há seis anos, a publicitária Cris Guerra estava grávida de Francisco. Guilherme Fraga Moreira dos Santos, pai da criança, teve um mal súbito e morreu aos 38 anos. 'Logo que o pai do Francisco faleceu, algumas pessoas me sugeriram escrever um blog, mas eu não via sentido nisso. Quando a morte do Gui completou 6 meses, eu quis escrever uma carta para os amigos e usei uma figura de linguagem, como se eu escrevesse para o Francisco a respeito do pai. Neste momento, veio o insight: era para meu filho que eu precisava escrever, pois construindo para ele a memória do pai, eu me veria livre da angústia de um não conhecer o outro', explica Cris.
  • O blog original, Para Francisco, começou quando o menino tinha 4 meses. 'Esse processo foi simplesmente a cura. E trouxe, como surpresa, a descoberta de alguém com a capacidade de escrever literariamente - eu trabalhava havia 20 anos como redatora publicitária e não tinha a menor pretensão literária', revela. O site mudou de nome, passou a se chamar Cartas para Francisco; depois virou livro e hoje é Francisquices, em que Cris continua contando as peripécias do filho, com a vida, com as palavras e com as surpresas diárias.
  • Fernando Martins/Divulgacao
    'O que aconteceu na minha vida pessoal foi o marco para a mudança, o início da transformação de publicitária para blogueira e escritora. Mas, no meu caso, eu não tinha consciência de que precisava de uma guinada. Ela veio e sou muito grata. Hoje, percebo que isso iria acontecer, de uma forma ou de outra', define a ex-publicitária.
  • Hoje vou assim/Divulgacao
    Hoje, Cris percebe que escreve também para alertar as pessoas de que a vida é curta. 'Antes de perder o Gui em 2007, eu havia perdido meu pai em 2001 e minha mãe em 1994, vítimas de câncer. Eu me lembro bem de estar no trabalho, ainda grávida do Francisco e depois da morte do Gui, e observar um funcionário se enfurecer por causa do defeito de um computador. Eu olhei para aquele cara - bonito, bem sucedido, com mulher e filho, uma casa bonita e muitas outras conquistas - e fiquei pensando: será que ao fazer esse estardalhaço por conta de um computador com defeito ele não enxerga o esforço que estou fazendo para estar aqui, poucos dias depois de ter perdido o pai do meu filho sem que os dois tivessem tido tempo de se conhecer?', relata.
  • Patricia Penna / divulgacao
    Os comentários do blog serviram também como uma porta para os desabafos de pessoas que viviam situações semelhantes, que se sentiram encorajadas a compartilhar seus medos, fraquezas e conquistas. 'Eu queria falar sobre a urgência da vida, alertar as pessoas para o fato de que a vida é uma só. O que realmente importa são coisas simples e passageiras', completa.
  • Matheus Rabelo/Divulgacao
    'Acho que o meu processo foi abençoado. Acredito que minha experiência pode ajudar alguém que esteja passando pelo luto, mas é importante respeitar o momento do outro - há tempo para chorar, ter pena de si mesmo, expressar raiva, revolta, dor, tristeza; há tempo para cada fase e é preciso não ultrapassar nenhuma delas', pondera Cris. 'Eu mesma tentei ler um livro no início do luto e não consegui chegar até o final. Ainda era cedo. O livro era 'O ano do pensamento mágico', de Joan Didier, e eu precisaria retomá-lo hoje para de fato ler. Tudo tem sua hora certa, assim como todo livro tem hora para entrar na vida de cada pessoa', conclui a mãe de Francisco, hoje casada novamente e investindo em seus novos rumos profissionais.
  • J. Dunn Photography
    E quando o luto chega antes de a pessoa ter tempo para qualquer arrependimento? Quando os médicos disseram ao estudante norte-americano Zach Sobiech, de 17 anos, que ele tinha apenas um ano de vida, ele resolveu se voltar para a música. Chegou ao coração de milhões de pessoas. Sua canção de despedida, ''Clouds' (Nuvens) entrou no YouTube em dezembro de 2012 e havia tido, até a última sexta-feira (14), mais de 7 milhões e 200 mil visualizações. Com a melhor amiga, Sammy Brown, ele conseguiu completar um álbum, 'Fix Me Up' e fazer algumas apresentações, mas ele mesmo chegou a dizer que nunca teve a pretensão de ficar famoso.
  • J. Dunn Photography
    Zack foi diagnosticado com osteosarcoma (um tipo de câncer nos ossos) aos 14 anos, em 2009. Ele voltava de uma corrida pelo bairro e reclamou de dores no quadril. Os médicos pensaram inicialmente que seria uma lesão muscular comum, mas depois confirmaram um tumor de tipo agressivo. Apesar de 10 cirurgias e 20 sessões de quimioterapia, o câncer continuou se espalhando.
  • www.facebook.com/AFirmHandshake
    Guitarrista desde os 12, Zach gravou então o single Clouds, com versos como 'se eu apenas tivesse mais tempo' e 'vamos continuar subindo juntos, mas eu vou voar um pouco mais alto', para que sua família tivesse algo para lembrar - segundo ele mesmo. Uma rádio local tocou a música e a internet se encarregou do resto. Zach resolveu usar seu tempo restante para levantar recursos para o tratamento de crianças e adolescentes com o mesmo tipo de câncer. 'Meu tipo da doença raramente consegue recursos, e nosso objetivo é dar pelo menos uma chance a essas crianças', disse ele à Revista People.
  • www.facebook.com/AFirmHandshake
    A campanha já arrecadou centenas de milhares de dólares. Celebridades gravaram uma versão cover de sua música e um canal de TV gravou um documentário chamado 'My Last Days'. Nas cenas, é possível ver um jovem alegre e não amargurado. Zach faleceu em 20 de maio de 2013. 'Você não precisa descobrir como vai morrer. Apenas comece a viver', diz ele no vídeo.
  • Paula Abreu: Divulgação
    A consultora Paula Abreu é da opinião de que não devemos ficar esperando pelo pior. Ela tinha a vida 'perfeita' - aos olhos dos outros - , mas não era feliz. 'Já havia um bom tempo que eu acordava muito desestimulada todos os dias, às vezes chegava a chorar no carro a caminho do trabalho', conta.
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    'Meu momento 'ahááááá' aconteceu um dia na praia, quando me dei conta de que preferia morrer a não fazer o trabalho que tinha nascido pra fazer. E uma indenização do meu último empregador foi o que viabilizou financeiramente a minha mudança de vida', explica Paula, de 35 anos. Com o objetivo de integrar a paixão por escrever e motivar com a realização financeira, Paula mudou tudo. Saiu do mundo corporativo após 15 anos e entregou o carro da empresa.
  • Banco de Imagens / sxc.hu
    'Decidi pela primeira vez, desde os 18 anos, que não teria carro. Afinal, eu só usava pra ir ao trabalho, e agora eu ia trabalhar em casa! Ressuscitei minha bicicleta, comecei a andar mais e a usar o transporte público, o que me fez me sentir mais parte da cidade, enxergar melhor os problemas', detalha. Ela, que não tem medo de mudanças - já se divorciou duas vezes, adotou um menino, mudou de país, trabalhou como advogada em grandes empresas e largou tudo para investir em publicidade gastronômica, e por fim na consultoria - , decidiu consumir o mínimo necessário, se mudou para um apartamento menor, vendeu ou doou parte dos móveis, roupas e sapatos. 'Eu já corria, mas comecei a encarar o esporte e os cuidados com o meu corpo de forma diferente. E me tornei vegetariana, 80% vegana', completa.
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    Paula explica que uma perda pode, sim, mostrar que a vida é uma só e pode terminar a qualquer momento. 'Se o seu pai morreu, o amor da sua vida foi embora, o seu chefe te demitiu, ou simplesmente a sua lista de pendências tem mais coisas do que o seu tempo permite fazer, você de repente se vê com menos opções do que gostaria. Em alguns casos - como a morte - sem opção nenhuma a não ser aceitar a situação. O amanhã é uma ilusão e a felicidade que a gente adia pro futuro pode nunca vir a se realizar. Então é melhor a gente ser feliz hoje mesmo, com o que a gente já tem. E mudar o que precisar mudar pra ser mais feliz', resume a consultora, que hoje comanda o site www.escolhasuavida.com.br
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    Para quem fica preso às circunstâncias, ela ensina: essa prisão é uma escolha, normalmente inconsciente.
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    'Você pode não ter controle sobre as coisas que acontecem na sua vida, mas você tem, sim, sempre, escolha sobre como você as encara. A cada dia temos uma chance. Aproveite as chances que a vida oferece - ainda que seja uma perda - para fazer escolhas conscientes em busca de uma vida e de um trabalho com mais propósito', finaliza Paula.
Tags: luto paula abreu zach sobiech candy chang before i die mariel paturle

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