Saúde Plena

PANDEMIA

A ciência, a medicina e a pandemia


O SARS-CoV-2, o vírus que causa a síndrome respiratória aguda grave COVID-19, matou aproximadamente 2,2% das pessoas que o contraíram em todo o mundo. Mas a situação poderia ser muito pior sem a medicina e a ciência modernas.


O último flagelo global foi a pandemia de gripe de 1918, que se estima ter matado 50 milhões de pessoas em uma época em que não havia internet ou fácil acesso a telefones de longa distância para disseminar informações. A ciência era limitada, o que tornava difícil identificar a causa e iniciar o desenvolvimento de uma vacina. O mundo está 100% mais preparado para a atual pandemia do que há 100 anos.

É um fato notável para a ciência que um novo vírus causador de doenças foi descoberto, o material genético completamente decodificado, novas terapias criadas para combatê-lo e várias vacinas desenvolvidas no espaço de um ano.

A maioria das vacinas leva de dez a 15 anos para se desenvolver. Até agora, a vacina mais rápida desenvolvida foi contra o vírus da caxumba, que demorou quatro anos. Agora, em meio à pandemia de SARS-CoV-2, uma vacina já está autorizada para uso nos EUA, com uma segunda vindo logo atrás. Outras vacinas estão sendo lançadas em países de todo o mundo.


Essa pandemia colocou a ciência em primeiro plano. Um dos avanços científicos mais significativos dos últimos 15 anos foi a capacidade de ler as instruções genéticas (genoma) que codificam os vírus. O processo de sequenciamento do genoma de um vírus é chamado de sequenciamento de próxima geração e revolucionou a ciência, ao permitir que os pesquisadores decodifiquem rapidamente o genoma de um vírus ou bactéria, de forma rápida e econômica.

Essa estratégia foi usada para determinar a sequência do SARS-CoV-2 no início de janeiro de 2020, antes mesmo dos epidemiologistas reconhecerem que ele já havia se espalhado pelo mundo. A obtenção da sequência permitiu o rápido desenvolvimento de diagnósticos para SARS-CoV-2 e descobrir quem foi infectado e como o vírus pode se espalhar.

O SARS-CoV-2 possui duas habilidades distintas que permitem que ele se espalhe mais facilmente. Em primeiro lugar, tem um enorme potencial para desencadear infecções assintomáticas, nas quais o vírus infecta portadores que não apresentam sintomas e, sem saber que estão infectados, transmitem o vírus a outras pessoas.


Em segundo lugar, ele pode se espalhar por meio de partículas aerossolizadas. A maioria desses vírus se espalha por meio de grandes gotículas respiratórias, que caem do ar em um raio de três a seis pés. Mas o SARS-CoV-2 também pode se espalhar pela transmissão aérea, por meio de partículas muito menores que permanecem no ar por várias horas.

Enquanto em 1918 as pessoas acreditavam cegamente que o uso de máscaras reduzia a transmissão, desta vez a ciência nos forneceu respostas concretas. Vários estudos demonstraram a eficácia das máscaras.

Esses tipos de estudos informam ao público que o uso de máscaras, o distanciamento social, a lavagem das mãos e a limitação do tamanho da multidão diminuem o vírus circulante e, portanto, reduzem as hospitalizações e a morte. Embora não recebam muito alarde, esses estudos estão entre as descobertas mais importantes em resposta a essa pandemia.

Muitos testes para o vírus são realizados usando PCR, que é a abreviação de reação em cadeia da polimerase. Esse método usa proteínas especializadas e sequências de DNA correspondentes a vírus, chamadas primers, para criar mais cópias do vírus. Essas cópias adicionais permitem que as máquinas de PCR detectem a presença do vírus. Essa foi uma conquista notável, que permitiu que países em todo o mundo desenvolvessem rapidamente testes de diagnóstico usando este modelo. Essa distribuição mudou o curso da pandemia em muitos países.


Com o auxílio de estudos clínicos, passamos a ter tratamentos como esteroides, medicamentos antivirais, como Remdesivir, e infusões de anticorpos. Os médicos também sabem como alterar a posição do paciente de forma a aumentar a chance de sobrevivência.

Essa pandemia pode acabar se o vírus se espalhar pela população deixando os sobreviventes com imunidade natural. O mais provável é que o vírus se extinga sozinho quando a maioria da população tiver sido vacinada com a vacina SARS-CoV-2. Isso é especialmente verdadeiro em partes do mundo onde testes frequentes e estratégias de saúde pública são difíceis de implementar.

Governos em todo o mundo fizeram parcerias com empresas privadas para acelerar o desenvolvimento de vacinas contra a SARS-CoV-2. Isso levou várias empresas a desenvolverem suas próprias versões diferentes de vacinas.

Normalmente, isso leva anos para se desenvolver. Contudo, aproveitando os sucessos recentes e o conhecimento acumulado, o cronograma foi acelerado significativamente. Normalmente, as novas vacinas passam pelos ensaios de fase 1 (segurança), fase 2 (eficácia) e fase 3 (comparação), mas, conforme demonstrado nos ensaios atuais, as fases 2 e 3 podem ser combinadas para conveniência. E a fabricação em grande escala pode começar quando a vacina ainda está em testes, potencialmente eliminando anos do cronograma.


Essa doença, que começou em Wuhan, província de Hubei, China, e foi diagnosticada pela primeira vez em novembro ou dezembro de 2019, é a ilustração perfeita de como os vírus se espalham rapidamente em um mundo conectado.

Tivemos uma amostra do que pode acontecer com os recentes surtos de vírus Ebola e Zika, mas a disseminação do SARS-CoV-2 está em um nível diferente. Aprendemos que, quando recebemos avisos sobre vírus contagiosos, ações rápidas e decisivas devem ser tomadas em todas as partes do mundo para reduzir sua propagação.

Onde houve um cumprimento mais estrito das políticas públicas de saúde, houve profundas reduções na transmissão do vírus. Embora as pesquisas que tornaram tudo isso possível possam passar despercebidas agora, a história registrará esse tempo como um dos períodos de maior avanço científico.

A ciência feita de forma ética e metodologicamente correta está a nosso lado. Não vamos desprezá-la.