Uma das perguntas mais frequentes nos atendimentos por distúrbios do sono é sobre quantas horas devemos dormir por noite.
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Apesar da variação por países, fruto de diferenças culturais, a duração do sono vem mostrando tendências seculares de redução, consequência de novos hábitos de estilo de vida do mundo contemporâneo.
O preço dessas mudanças pode ser alto.
O preço dessas mudanças pode ser alto.
A privação do sono pode ocorrer por opção individual (dormir menos para estudar, trabalhar ou até mesmo por motivos sociais e de lazer), compulsoriamente no caso de obrigações de trabalho de turno ou como consequência de doenças específicas do sono.
Nesse último caso podemos citar os distúrbios respiratórios do sono (apneia do sono) e os distúrbios de movimento (pernas inquietas) como causas de fragmentação do sono e redução do tempo de permanência nas fases profundas do sono, comprometendo funções como memória, atenção, concentração e aprendizado.
Independentemente de sua causa, a privação do sono acompanhada de microdespertares ao longo da noite, estimula alterações bioquímicas e hormonais no corpo humano, ativando um processo permanente de inflamação que sabe-se hoje estar associado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, metabólicas, câncer e mortalidade geral.
Durações de sono curtas ou longas demais estão associadas a um risco aumentado de eventos cardiovasculares (CVEs) e mortalidade por todas as causas, a exemplo de outros conhecidos fatores de risco como hipertensão, diabetes, sedentarismo e obesidade. As evidências que sustentam essas associações são baseadas em medidas únicas de durações do sono e o efeito de padrões longitudinais de duração do sono permanecia desconhecido.
Um estudo recente descobriu que até a duração da tradicional soneca está relacionada a um risco aumentado de obesidade e hipertensão arterial.
Além disso, padrão repetido de sono insuficiente pode levar a alterações metabólicas a longo prazo que não podem ser efetivamente revertidas pelo sono de recuperação no fim de semana.
Nossa constituição biológica nos obriga a dormir todos os dias e preferencialmente à noite pela influência da ausência de luz solar.
Somos governados por um ciclo biológico circadiano. Substâncias químicas, como a Adenosina, acumulam-se em nossa corrente sanguínea durante a vigília, aumentando a necessidade de dormir e prejudicando funções biológicas essenciais.
Para conhecer melhor padrões de sono e seus efeitos de longo prazo sobre a saúde, uma pesquisa foi feita acompanhando seus participantes por quase 07 anos e documentando a incidência de eventos cardiovasculares e mortalidade por diversas causas.
Foram identificados quatro padrões de duração de sono e suas mudanças ao longo do tempo:
- Padrão normal/estável com duração do sono de 7,4 a 7,5 horas por noite;
- Padrão normal/decrescente com duração de sono inicial de 7,0 horas por noite e reduzindo para 5,5 horas;
- Padrão reduzido com incremento, tendo duração inicial de 4,9 horas e chegando a 6.9 horas de sono por noite ao longo dos sete anos de acompanhamento;
- E, por último, padrão reduzido/estável com duração do sono entre 4,2 e 4,9 horas por noite.
Ao final do estudo, os resultados mostraram que para os eventos cardiovasculares, os padrões reduzido/ estável e reduzido com incremento apresentaram maior risco, girando entre 22 e 47% a mais de chance de um evento cardiovascular grave.
Em relação a todas causas de morte, os padrões mais associados a aumento de risco foram: normal/decrescente e reduzido/estável com riscos de 34 e 50% respectivamente.
Portanto, fica aí a dica: dormir pouco ou dormir em excesso pode abreviar sua vida. Para o indivíduo normal fica a recomendação de dormir entre sete e nove horas por noite.
Se você tem dúvidas sobre sono ou quer sugerir temas para a coluna, mande email para silviomusman@yahoo.com.br
Dr.Silvio Musman
Médico especialista em pneumologia, medicina do exercício e do sono.