Novas evidências surpreendentes de investigadores médicos em Nova York sugerem que cabecear uma bola no futebol pode levar ao comprometimento cognitivo de praticantes que são portadores de um gene associado à demência.
Os resultados são preliminares e requerem replicação por outros geneticistas. Mas os dados emergentes se baseiam em um corpo crescente de evidências que sugerem que cabecear repetidamente a bola aumenta o risco de desfechos cognitivos adversos.
O futebol é jogado por mais de 265 milhões de pessoas em todo o mundo, e cabecear a bola é um componente essencial do jogo. Embora geralmente não sejam fortes o suficiente para causar uma concussão, os pesquisadores médicos estão teorizando que a possa ocorrer um efeito cumulativo no cérebro.
Uma nova investigação médica envolvendo jogadores que estavam no jogo há pelo menos cinco anos, revelou que a memória verbal diminuiu entre aqueles que freqüentemente cabeceavam a bola e possuiam um perfil genético específico. Todos os participantes da investigação foram testados quanto à memória e recordação.
Evidências de comprometimento cognitivo foram aparentes entre os participantes do estudo que cabeceavam a bola com frequência e para quem um fator de risco para demência estava indelevelmente inscrito em seu DNA.
O futebol é o esporte mais popular em todo o mundo, e essa pesquisa faz parte de um grande estudo em andamento conduzido no Einstein Soccer Study, que já inscreveu centenas de participantes ao longo de muitos anos.
O objetivo deste estudo é investigar se os efeitos da rotina repetida e de longo prazo interagem com um fator de risco genético conhecido para demência.
Esse fator de risco é o genótipo, Apolipoproteína E ε4 (APOE ε4). A pesquisa é um projeto conjunto da Faculdade de Medicina Albert Einstein, no Bronx, Nova York, e do Instituto Feinstein.
Este estudo analisou apenas uma associação entre título e desempenho de aprendizado verbal, juntamente com o fator de risco genético específico para demência, APOE ε4.
No total, 379 participantes entre 18 e 55 anos de idade tiveram permissão para participar da pesquisa se eles jogaram por mais de cinco anos e foram ativos em jogos por mais de seis meses por ano. Cada jogador foi estudado para o alelo APOE ε4. Os jogadores também foram solicitados a relatar a exposição do cabeceio e a passar por um teste de avaliação de memória verbal.
Os participantes receberam uma lista de compras de 12 itens no início da sessão e solicitados para recordar essa lista no final da sessão, aproximadamente 20 minutos depois. O número de respostas corretas foi registrado.
Os portadores do alelo APOE ε4 foram mais propensos a ter esquecido muitos dos itens da lista de compras em comparação com outros jogadores sem o marcador genético. Os participantes do estudo que carregam o gene tiveram desempenho quatro vezes pior na memória e na tarefa de recordar do que jogadores sem o gene.
O gene APOE é um importante gene de risco para a doença de Alzheimer e o alelo APOE ε4 está associado a um risco três vezes maior para a doença de Alzheimer.
O que falta esclarecer completamente é exatamente como o cabeceio da bola exacerba o comprometimento cognitivo em relação ao alelo APOE ε4.
A maneira como o alelo APOE ε4 confere esse risco ainda não está totalmente clara, mas provavelmente envolve múltiplos mecanismos biológicos, como degradação anormal de proteínas, metabolismo lipídico, plasticidade sináptica, integridade da coluna vertebral e neuroinflamação. Este estudo mostra que pessoas que carregam o alelo APOE ε4 e que tiveram um alto nível de exposição ao cabeceio podem ter maior risco de disfunção cognitiva.
Por mais convincente que a pesquisa possa parecer, ela ainda precisa ser validada por outros pesquisadores, entretanto jogadores que sabem que carregam o gene devem evitar alguns aspectos do jogo que envolvem impactos na cabeça com a bola.
Crianças que treinam futebol nos EUS estão proibidas de treinar o cabeceio até completarem 12 anos de idade.
Dr.Silvio Musman – médico especialista em Pneumologia, Medicina do Exercício e dos Sono.