No meu último texto, falei sobre como a comunicação atual, ou a falta dela, tem agravado nossa delicada condição frente à pandemia. A COVID-19 vem vindo de braços dados com as doenças preexistentes de nossos pacientes e também com o medo, a ansiedade e a tristeza. Boa parte desses sentimentos poderiam ser apaziguados, caso essa comunicação fosse mais coerente e compassiva.
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"Os meus pacientes na pandemia sofrem de desinformação, informação inverídica ou errada que é divulgada com o objetivo de induzir ao erro. Mais do que o medo de adoecer e de morrer por uma doença infecciosa ainda sem cura, os idosos tem sofrido com depressão e ansiedade devido à desinformação. Podemos ajudá-los ao repassar ou reproduzir informação de maneira equilibrada e de fontes confiáveis, sem gerar pânico. Procurar atividades culturais e aprender novas habilidades podem ser um bom caminho para tirar o foco da Covid-19.” Dra Bárbara Corrêa.
"O principal mal que meus pacientes estão sofrendo é o medo. Medo de procurar atendimento em pronto socorro, medo de seguir com os tratamentos necessários, medo de encontrar as pessoas queridas. Assim, sem as condições necessárias para ficarem bem; se entristecem, se descompensam e se agravam: o mal fica estabelecido.” Dra Claudia Caciquinho.
"O maior mal dessa pandemia, para nossos pacientes, é a restrição da mobilidade. As pessoas idosas deixaram de ir ao supermercado, ao clube, às igrejas. Tá certo que foram obedientes e têm tentado se proteger, mas o sedentarismo tem trazido prejuízo físico e mental. São menos passos, menos esforço, menos ação que vão trazendo mais fraqueza, falta de energia e mais restrição. A medida mais importante que recomendava aos meus pacientes é que se movimentassem o mais que pudessem. Agora, temos que ser criativos e inovadores, pois a restrição da mobilidade tem feito muito mal aos mais velhos.” Dr Estevão Alves Valle.
"Fui rever várias queixas e em todas há o medo. O medo de ser grupo de risco, do estigma, do preconceito e da violência. O medo do isolamento social e principalmente do isolamento afetivo. O medo do adoecimento, da incapacidade e da morte. O medo da crise financeira e da crise humanitária que se instalou. O medo do abandono.” Dra Juliana Montijo Vasques.
Está claro para todos nós, médicos geriatras, e para todos os profissionais que trabalham com a saúde dos mais velhos, que o desafio atual é enorme. Precisamos proteger nossos pacientes do vírus, é claro! Mas, precisamos protegê-los também do medo, da solidão, da inatividade física, da estagnação ocupacional, do adoecimento psíquico e da desinformação.
É importante estarmos próximos, nos dedicarmos a tirar dúvidas, incentivarmos a prática de atividades físicas e ocupacionais em casa e ficarmos atentos ao sofrimento psíquico dos mais velhos.
Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: julianacicluz@gmail.com