No último sábado, 20/06, o Brasil contabilizou 50.000 vidas perdidas pelo coronavírus. Há pouco mais de três meses, a primeira morte por esse vírus foi registrada em nosso país e, desde então, em média, 500 pessoas se vão diariamente.
Antes do início do atual crescimento exponencial observado em grande parte do Brasil, pudemos acompanhar o que vinha acontecendo no mundo.
Há poucas dezenas de dias, estávamos assustados com as medidas sanitárias rigorosas na China, com as mortes se acumulando ao norte da Itália e com as covas abertas em Nova York. Agora, mal temos tempo para os noticiários estrangeiros.
Há poucas dezenas de dias, estávamos assustados com as medidas sanitárias rigorosas na China, com as mortes se acumulando ao norte da Itália e com as covas abertas em Nova York. Agora, mal temos tempo para os noticiários estrangeiros.
A esperança, essa boa companheira, também está sempre ao nosso lado. Alguns preferiram acreditar que nosso clima tropical nos protegeria da doença. Aí, veio a realidade e estampou em todos os jornais o nosso primeiro epicentro da pandemia: Manaus. O calor não nos salvou!
Outra grande esperança dos otimistas jogada para escanteio, tão logo a doença se expandiu em nosso país, foi a nossa pretensa juventude: "O Brasil é um país jovem. Está morrendo tanta gente na Itália por causa do envelhecimento populacional daquele país”. Ledo engano… A população do Brasil, de fato é menos envelhecida do que a da Itália, enquanto aqui 14% têm mais de 60 anos, lá 23% têm mais de 65. Mas, você sabe por que nossa “juventude” não está nos salvando?
Apesar da população brasileira ser bem menos envelhecida do que a da Itália, do Japão e de Portugal, por exemplo, estamos em um rápido e intenso processo de transição demográfica: a proporção de crianças e jovens vem diminuindo e a de idosos vem aumentando em nossa população.
Essa mesma transição aconteceu nos países mais desenvolvidos. Lá, esse processo começou antes daqui. Porém, nos países mais desenvolvidos, essa transição demorou muito mais tempo para acontecer e, foi acompanhada de uma preparação dos serviços e da estrutura da sociedade para cuidar adequadamente de sua população.
Infelizmente, o Brasil envelhece rapidamente, sem ter conseguido superar o problema da pobreza e da desigualdade social. Estamos mais velhos, mas não conseguimos interferir em problemas cruciais da população: falta educação acessível e de qualidade, saneamento, educação para a saúde e o autocuidado, entre outros. Precisamos superar divergências e pensar de maneira realista.
Apesar de esta história mais parecer ter sido tirada de um bom livro de surrealismo fantástico, a realidade é nua e crua: a tragédia anunciada chegou e está entre nós.
O resultado disso é uma pandemia que tem gerado um grande número de mortes, que no Brasil atinge os mais vulneráveis do ponto de vista da saúde, mas também afeta pessoas acometidas de outra vulnerabilidade enorme que preferimos não enxergar: a social.
O resultado disso é uma pandemia que tem gerado um grande número de mortes, que no Brasil atinge os mais vulneráveis do ponto de vista da saúde, mas também afeta pessoas acometidas de outra vulnerabilidade enorme que preferimos não enxergar: a social.
Por isso não estão morrendo aqui apenas os mais velhos e os mais pobres. Estão morrendo pessoas de todas as idades, de todas as classes sociais, especialmente as menos favorecidas, portadores ou não de doenças crônicas.
A grande questão é: será que todos, independentemente da cor, classe social ou idade, receberão os cuidados necessários? Ou será que veremos os mais pobres e os mais velhos excluídos do acesso aos serviços? Ainda podemos interferir, como sociedade, e evitar essa mancha ética e moral em nossas vidas e em nosso país.
Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: julianacicluz@gmail.com.br