Novo coronavírus: O que precisamos fazer para proteger nossos idosos?

Familiares e amigos gripados não devem encontrar com as pessoas de forma geral e, particularmente, com as do grupo de maior risco

Sabine van Erp/Pixabay
(foto: Sabine van Erp/Pixabay )

Escrevi esse texto no dia 14 de março de 2020 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Eu e a grande maioria dos profissionais de saúde estamos aguardando o tal “crescimento exponencial” do número de casos suspeitos e confirmados de infecção pelo novo coronavírus (SARSCov2).

O crescimento exponencial ainda não chegou, mas já estamos "afogados" em um mar de informações desencontradas e relativizadas de acordo com interesses diversos.Alguns falam em pânico desnecessário, outros em tranquilidade irresponsável, eu, como geriatra, vou falar sobre o que de fato entendo: como proteger nossos idosos?



Uma característica marcante da pandemia pelo SARSCov2 é a grande concentração de morte nas pessoas com mais de 70 anos e nos portadores de doenças crônicas. Em uma pesquisa incluindo 72.000 casos de COVID-19 publicada na revista científica The Lancet Medical Journal, a morte aconteceu em 8% dos maiores de 70 anos e em 15% dos maiores de 80. Outros fatores que aumentaram o risco de morrer foram as doenças cardíacas, as doenças pulmonares, diabete, câncer e até a hipertensão arterial

Muita gente vem comparando a infecção pelo H1N1 à infecção pelo novo coronavírus e falando que este último é apenas mais um vírus. Sim, ele é apenas mais um vírus, mas sua taxa de infectividade é muito alta e sua letalidade é 10 vezes maior do que a do H1N1 (2% a 3% contra 0,02% a 0,4%) e muito menor do que o Ebola (63%). Quanto mais letal é um vírus, menor costuma ser sua chance de causar uma pandemia, por isso estamos tendo uma pandemia pelo SARSCov2 e, felizmente, não tivemos pelo Ebola.
 
Uma outra coisa que já sabemos a respeito do novo coronavírus é que a infecção causada por ele costuma ser leve em aproximadamente 80% da pessoas infectadas e muito grave em 5%. Não sabemos muito bem ainda como essa infecção acontece nas crianças, mas não houve nenhuma morte confirmada em menores de 9 anos.

Esse fato nos faz suspeitar de que as crianças podem portar o vírus de forma pouco sintomática (sem manifestar a doença ou com manifestações bem sutis). 

Abaixo, citarei as medidas gerais de prevenção e as medidas específicas para os idosos e explicarei um pouco sobre cada uma delas. 

Medidas gerais de prevenção

– Lave as mão com água e sabão ou esfregue as mãos com álcool gel. O SARSCov2 não costuma sobreviver a uma boa lavagem de mãos. Sempre que tocar objetos fora de sua casa, lave suas mãos. 

– Evite tocar o rosto, os olhos, o nariz e a boca. A principal forma de contágio é através de vírus depositados nos objetos. Se precisar tocar o rosto, lave suas mãos primeiro. 

– Mantenha distância de 1 a 2 metros das pessoas que apresentem qualquer sintoma respiratório. Essa distância é o suficiente para que o vírus proveniente da respiração do outro não te atinja. Tente manter essa distância nos transportes públicos ou evite-os.

– Pratique a higiene respiratória adequada. Ao tossir ou espirrar, faça isso cobrindo a boca e o nariz com lenços descartáveis e jogue-os no lixo imediatamente. Caso não os tenha, cubra a boca com a parte interna de seu cotovelo. Em seguida lave as mãos e o cotovelo. Agindo dessa forma você evitará a contaminação dos espaços com o SARSCov2. 

– Evite ir a lugares fechados e com grande circulação de pessoas. Abra bem as janelas de casa, do carro e dos ônibus. 

– Você só deverá usar máscara caso esteja com sintoma respiratório e precise encontrar outras pessoas ou circular em locais públicos, por exemplo para ir ao médico. Caso esteja resfriado ou gripado, evite entrar em contato com qualquer outra pessoa. 

Caso você apresente qualquer sintoma gripal, não vá diretamente ao serviço de saúde. Entre em contato por telefone com o serviço de referência de sua região ou cidade. Você só deverá procurar o serviço de saúde se estiver sentindo falta de ar ou outros sinais de gravidade e, mesmo assim, após ser orientado por um profissional de saúde. 

– Se você voltou de uma viagem internacional, mantenha-se sem contato com outras pessoas por 7 dias. Evite principalmente as pessoas que tenham maior risco de complicação. 

Mantenha seu telefone celular limpo e evite o seu compartilhamento. Evite compartilhar também teclados e mouses. Os ambientes de trabalho devem se adaptar a essa nova realidade, evitando o confinamento em ambientes fechados. 

Medidas específicas para idosos e para portadores de doenças crônicas:
 
– Siga todas as recomendações citadas acima.

– Não entre em contato com pessoas com qualquer sintoma respiratório. Familiares e amigos gripados não devem encontrar com as pessoas de forma geral e, particularmente, com as do grupo de maior risco, não devem visitar seus pais e avós. 

– Pessoas com os fatores de maior risco de mortalidade devem evitar ao máximo os lugares fechados e com muitas pessoas. Evite inclusive festas e confraternizações.

– Nas cidades onde já está acontecendo a transmissão comunitária do vírus (casos novos em pessoas que não estiveram fora do Brasil e que não são contatos de quem esteve), as pessoas de maior risco deverão ser poupadas de contato excessivo. Por exemplo, não devem receber os netos após a escola ou cuidar deles no seu dia a dia.
 
– Mantenha sua casa limpa e arejada. É recomendada a limpeza dos utensílios que são costumeiramente tocados, como maçanetas por exemplo, com álcool absoluto. As janelas devem permanecer abertas. 

– Ao chegar da rua, troque sua roupa e calçados. 
 
– Para os idosos que moram em instituições o cuidado deve ser redobrado. É aconselhável que se restrinjam as visitas e a circulação de pessoas. Os funcionários devem tomar todas as medidas de higiene e não devem ir trabalhar se apresentarem qualquer sintoma. Todos os ambientes das instituições devem ser mantidos limpos e ventilados. Os utensílios de uso pessoal não devem ser compartilhados.

– As pessoas mais velhas ou com fatores de risco para complicação que trabalham, devem conversar abertamente sobre isso. O ideal é ser poupado do ambiente de trabalho, principalmente se este é fechado e compartilhado. 

– Contra as famosas Fake News, o Ministério da Saúde lançou um aplicativo chamado Coronavírus-SUS. Nele você encontra dicas e atualizações sobre a SARSCov2, além de orientações a respeito de como e onde procurar ajuda, caso haja necessidade. 

Os números dos países que estão algumas semanas à nossa frente, em relação à infecção pelo novo coronavírus mostram que as medidas que mais tiveram sucesso, além dos cuidados pessoais citados aqui, foram as medidas de distanciamento social.

Só após essas medidas o número de casos novos caiu na China. Em Cingapura essas medidas adotadas de forma precoce, vem desacelerando a epidemia. Todos os governantes, líderes e detentores do poder de tomar essas decisões deveriam considerá-la seriamente e de forma precoce. 

Muitos vêm dizendo que devemos manter a calma. Eu prefiro dizer que todos devemos mudar nosso comportamento imediatamente, antes que seja tarde.

Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: julianacicluz@gmail.com