Espermograma, exame indolor que aterroriza muita gente

O espermograma reflete a fertilidade e a saúde do homem e não a sua sexualidade, apesar dos vários tabus envolvidos

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(foto: Pixabay)

É possível se ter uma vida sexual muito ativa e adequada e apresentar problemas que impedem que a gravidez ocorra ou sofrer disfunções sexuais que não afetam a qualidade do esperma e sua capacidade de fertilização. Me lembro como se fosse hoje do receio e medo que tive ao fazer o meu primeiro espermograma durante o exame pré-nupcial (antes de casar), algo rotineiro no passado.

Viramos o século e este tabu continua vivo e presente, assombrando muitos homens.

A infertilidade afeta cerca de 15% da população mundial e os fatores da infertilidade, ao contrário do que muitos pensam, se divide igualmente entre causas masculinas e femininas.

Além disso, 20% dos casos são devido a fatores em que ambos parceiros apresentam problemas, ou seja, origem multifatorial.

Em quatro de cada dez casos de dificuldade de engravidar, o fator de infertilidade está relacionado diretamente com o homem.

Apesar do homem manter sua fertilidade por mais tempo que as mulheres, o estilo de vida pode reduzir bastante a qualidade dos espermatozoides produzidos.

Uma vida saudável, com alimentação equilibrada e prática de atividades físicas, pode ajudar os homens a manter sua saúde reprodutiva por mais tempo, e em alguns casos, inclusive recuperar parte da fertilidade perdida.

Os espermatozoides são produzidos nos testículos e, após finalizado seu processo de produção e maturação, são eliminados no sêmen durante a ejaculação.

A parte líquida do sêmen tem origem das glândulas do sistema reprodutor, como a vesícula seminal, a glândula bulbouretral e a próstata.

Todas as substâncias contidas no sêmen são essenciais para manter a viabilidade do espermatozoide e permitir que ele fecunde adequadamente o oócito (óvulo) da mulher.

O sêmen caracteristicamente normal é cinza-esbranquiçado, tendo uma textura gelatinosa e pegajosa que apresenta, além das células reprodutivas (os espermatozoides), uma ampla variedade de minerais, proteínas, entre outras substâncias químicas.

Qualquer alteração na composição dessas secreções pode alterar a cor do sêmen e, consequentemente, os demais parâmetros seminais.

O espermograma é um exame realizado com o objetivo de avaliar a quantidade e qualidade dos espermatozoides do homem.

O espermograma é realizado a partir da coleta de uma amostra do sêmen, via masturbação sem uso de substâncias como lubrificantes capaz de alterar o resultado.

Pode ser um pouco constrangedor porque o homem vai ter que ejacular no laboratório, mas é fundamental para a investigação.

Quando a coleta é realizada na clínica ou em laboratório específico, o homem fica em uma sala reservada com cadeira confortável. Nesse ambiente, há revistas e/ou vídeos para auxiliar a excitação e a masturbação. O ideal é que o ambiente seja tranquilo, permita privacidade e a entrada de um acompanhante se for o desejo do homem.

Após a coleta, o material é analisado, levando em consideração alguns fatores como mobilidade, capacidade do espermatozoide se mover e morfologia, além das características físicas como volume, viscosidade, liquefação, coloração e pH, seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

O espermograma é um exame altamente variável, para um mesmo indivíduo, em dias de coleta diferentes, sendo assim é aconselhável a obtenção de duas análises de sêmen antes que se ofereça uma opinião sobre a condição do paciente.

Um período de abstinência de dois ou três dias deve ser respeitado, assim como um intervalo entre os exames de 75 dias, duração do processo de produção dos espermatozoides.

Você pode estar diante do melhor ou do pior espermograma da sua vida!

A mulher tem que fazer exames difíceis, chatos, caros e dolorosos, enquanto o homem só precisa fazer um para começar a investigação de infertilidade masculina, que é basicamente o espermograma.

Mesmo assim, a mulher chega ao consultório já tendo feito toda a investigação e o homem demora a sua porque acha que não têm nenhum problema, principalmente se já teve filhos no passado.

A infertilidade no homem pode estar representadas por baixa concentração de espermatozoides (oligozoospermia), alteração da motilidade dos espermatozoides (astenozoospermia), formato anormal (teratozoospermia) ou por uma associação dessas alterações.

As causas dessas alterações no sêmen é desconhecida em 50% das vezes, mas deve ser investigada pela história pessoal (doenças sistêmicas, infecções, cirurgias e traumas testiculares, uso de medicamentos), história familiar, exame físico, hormonal e ultrassom da bolsa escrotal, além de exames genéticos.

Alterações na produção dos espermatozóides podem também estar relacionadas com alguns hábitos de vida, os quais provocam, ao longo do tempo, doenças.

Agentes poluentes industriais e do meio ambiente têm sido relacionados com alterações de fertilidade e aumento da incidência do câncer testicular.

Entre as principais causas da infertilidade masculina estão a varicocele (varizes nos testículos) e o uso de anabolizantes, mas ela pode ocorrer também pelo exagero nas bebidas alcoólicas.

Entre as causas mais graves estão as genéticas, que podem causar a azoospermia (ausência de espermatozoide no fluido ejaculado).

Uma vez identificada a causa e o grau da infertilidade, o médico pode então avaliar as possibilidades de tratamento para o homem. Mas se este tratamento não for efetivo, os métodos de reprodução assistida, tais como inseminação artificial e fertilização in vitro, poderão ser indicados.

Há mais de um tipo de espermograma: o convencional e o espermograma com capacitação espermática.

Os espermatozoides existem no ejaculado de qualquer homem normal, porém, se colocados em contato direto com óvulos, são incapazes de fecundá-los. Isso acontece porque eles ainda não passaram por um processo de amadurecimento, chamado Capacitação Espermática.

Na fecundação natural, os espermatozoides são capacitados ao "nadar" em direção às tubas uterinas. Nesse trajeto, eles entram em contato com diversas proteínas e substâncias existentes nas secreções do colo do útero, endométrio e tubas uterinas, que promovem a capacitação dos espermatozoides. Esse processo pode ser realizado artificialmente em laboratório através de duas técnicas:

- Capacitação pelo método de "Swim up" que, em inglês, significa nadar para cima.

Os espermatozoides que se desprendem e nadam para a superfície (para cima) do tubo de ensaio, contendo meio de cultura, tornaram-se capacitados pela técnica.

- Capacitação por Gradiente Descontínuo "Isolate".

O princípio básico desse método é a força centrífuga responsável pela passagem dos espermatozoides através de duas camadas de uma substância coloidal (Isolate) com concentrações diferentes.

Porém, o espermograma não é o único exame e tão pouco o teste definitivo para descartar o fator masculino de infertilidade, pois este estudo não é capaz de analisar a qualidade genética dos espermatozoides. Para esse aspecto é importante realizar o Cariótipo do casal e a Fragmentação do DNA espermático.

Fragmentação do DNA espermático é uma condição clínica em que ocorre a perda da integridade da cadeia de DNA presente nos espermatozoides.

Essa alteração reduz a capacidade de os espermatozoides fecundarem o óvulo e gerar um embrião viável.

Encontrar uma pequena fração de espermatozoides com DNA fragmentado é considerado normal, enquanto um número elevado de espermatozoides apresentam essa alteração, a probabilidade de ocorrer uma gravidez espontânea e saudável reduz significativamente.

Esse excesso de fragmentações do DNA dos espermatozoides é umas das principais causas de infertilidade entre os homens.

Além da idade, outros fatores podem contribuir para o aumento da fragmentação do DNA espermático. Entre eles estão: tabagismo, varicocele, algumas infecções sexualmente transmissíveis, aumento da idade, leucocitospermia, obesidade, alimentação, uso de substâncias pró-inflamatórias, irradiação, quimioterapia e aumento da temperatura da bolsa escrotal.

Com exceção dos danos causados pela idade, alguns outros fatores podem ser revertidos, permitindo o retorno dos níveis de fragmentação do DNA espermático aos valores de normalidade, restabelecendo assim a fertilidade masculina.

Alguns exames complementares podem ser solicitados na investigação da infertilidade masculina, como a ultrassonografia testicular, que é realizada por meio de um aparelho de ultrassom na região da bolsa escrotal do paciente, com objetivo de detectar anomalias como varicocele, alterações de volume testicular, presença de hidrocele (líquido ou água na bolsa escrotal) ou nódulos nos testículos.

A dosagem hormonal é feita via exame de sangue. Há casos em que baixos níveis de testosterona no homem associam-se aproblemas na produção de espermatozoides e são relacionados a um estímulo inadequado dos testículos.

Tomar bomba, além de viciar, pode trazer malefícios irreversíveis na fertilidade e também provocar problemas cardiovasculares e diminuir a imunidade.

Alterações dos hormônios da tireoide e da prolactina também podem comprometer a fertilidade masculina.

A coleta de urina permite avaliar a fertilidade masculina quando há suspeitas de ejaculação retrógrada. Normalmente, o sêmen é conduzido ao ambiente externo por meio da uretra. Mas, em casos de ejaculação retrógrada, esse sêmen acaba sendo conduzido para a bexiga.

Essa condição pode ter sido causada por traumas mecânicos, neurológicos ou mesmo por efeitos colaterais de algumas medicações ou complicação de alguma cirurgia.

Por definição, a infertilidade se caracteriza quando após um ano de relações sexuais frequentes o casal não consegue engravidar, sendo portanto uma infertilidade do casal.

Quanto maior for a colaboração masculina, mais fortalecidos estarão os laços afetivos e melhores as chances de sucesso no tratamento.

*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, no câncer, na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas. Se você tem dúvidas ou quer sugerir tema para a coluna, envie e-mail para
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