Prazer e orgasmo, juntos e separados

Apesar de não ser necessário atingir o orgasmo para experimentar o prazer íntimo, a sensação experimentada por ele é extasiante e promove um bem-estar geral

Vitaliy Izonin/Pexels
(foto: Vitaliy Izonin/Pexels)

O prazer é um sentimento agradável, algo positivo, alguma coisa que nasce em nós ao satisfazer uma necessidade ou conseguir um objetivo.

Quando una pessoa busca o prazer como principal finalidade da sua existência, é chamada de hedonista. O hedonismo é a doutrina que seguem aqueles que vivem para maximizar os prazeres e minimizar a dor.

Existem múltiplas fontes de prazer e tudo aquilo que provoca prazer é dito prazeroso.

A ingestão de uma comida, um vinho que nos agrada também pode ser considerada com uma fonte de prazer físico.

Temos também prazeres não físicos como ter um hobby como coleccionar selos, obras de arte, postais, jogar um jogo, ler um livro, desenhar ou ouvir música.

Cada um de nós é responsável pelo seu próprio prazer. Ninguém dá prazer para ninguém.

No último dia 31 de julho percebi milhares de postagens sobre o Dia Internacional do Orgasmo e imediatamente refleti sobre qual seria a razão.

Normalmente esses dias são criados para estimular vendas e nesse caso não foi diferente.

Uma rede de sexshops da Inglaterra criou o dia em 1999 e a data passou a ser comemorada em diversos cantos do mundo para emplacar a venda de brinquedos eróticos.

Por outro lado, aproveitaram-se do dia para falar sobre orgasmo, seus benefícios e a importância que tem na saúde, ajudando a quebrar tabus.

O prazer ocorre em três fases, segundo especialistas, sendo a primeira a fase do desejo onde temos a antecipação, o anseio. Em seguida há um período de gosto (desfrutar a comida, o vinho, o sexo, um filme,...) e por último vem a saciedade, o período da satisfação.

Na resposta sexual humana, de forma semelhante temos a fase do desejo sexual, que é constituído por três componentes: impulso sexual, motivação sexual e vontade sexual.

Equivalente ao período de gosto, teríamos duas fases seguidas, a de excitação sexual e o orgasmo, que é resultado dos processos anteriores.

Ao longo da minha vida profissional, com muitos cursos nessa área, aprendi que não se deve buscar o orgasmo e sim o prazer, pois ambos podem andar juntos e separados. O orgasmo deve ser uma consequência muito bem vinda.

A última fase de saciedade se equivale ao período refratário.

Na mulher, o potencial orgásmico não está limitado por um período refratário, como no homem, ou seja, se uma mulher for submetida a novas carícias, novos estímulos, ela poderá estar em condições físicas de ter novamente um orgasmo.

"Eu nunca tive um orgasmo" é uma queixa comum no consultório médico.

Um estudo do Departamento de Transtornos Sexuais Dolorosos Femininos da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que 55% das brasileiras não têm orgasmos durante o sexo.

Apesar de ser comum não ter orgasmo, não significa que é normal.

É uma das sensações mais prazerosas que o ser humano pode vivenciar, vale a pena procurar ajuda especializada para conseguir ter.

Cientistas perceberam, através de imagens de ressonância magnética funcional ou tomografia por emissão de pósitrons, o que exatamente acontece no cérebro durante orgasmo.

A parte lógica é completamente desligada, explicando o fato das pessoas se sentirem mais ousadas e desinibidas durante o sexo.

O córtex sensitivo genital, as áreas motoras, o hipotálamo, o tálamo e a substância negra, se ativam durante o orgasmo. Enquanto o tálamo ajuda a integrar informações sobre o toque e movimentos associados, o hipotálamo produz ocitocina (hormônio do prazer, do relaxamento, do amor) que pode ajudar a coordenar a excitação.

Durante o orgasmo, o cérebro trabalha arduamente para produzir uma série de diferentes hormônios e neurotransmissores, entre eles a dopamina, relacionada a sentimentos de prazer, desejo e motivação.

Aparentemente, a mesma parte do cérebro que o faz sentir tão bem após comer uma sobremesa ou vencer um jogo de futebol são as mesmas ativadas durante o orgasmo.

O cérebro liberta substâncias (endorfinas) que nos tornam menos sensíveis à dor e estimula a sensação de prazer, bem estar, bom humor, motivação e felicidade.

Após um orgasmo, o cérebro liberta hormônios que causam felicidade e sonolência, desacelerando o cérebro.

Em pessoas incapazes de sentir estimulação genital, o cérebro pode remapear-se para alcançar o orgasmo.

Anorgasmia significa a incapacidade de ter um orgasmo, mas não se pode dizer que uma mulher tem anorgasmia porque uma vez ou outra ela não atingiu o orgasmo.

Isso precisa acontecer de forma sistemática devido a fatores que atrapalham a mulher.

O orgasmo não acontece nos genitais, e sim no cérebro. Sendo assim, os pensamentos e o bem estar da mente influenciam na capacidade de se alcançá-lo.

Na hora do sexo, é importante esvaziar a mente, desfazer-se de preocupações, angústias... A possibilidade do orgasmo começa pela sensação de permissão.

Existe uma necessidade de autoconhecimento, ou conhecer as zonas erógenas do seu corpo. A maioria das mulheres atinge o orgasmo por estimulação do clitóris ou das mamas, e não pela penetração vaginal.

A glande do clitóris tem em torno 8 mil terminações nervosas enquanto a do pênis tem a metade (4 mil). Quando a gente fala de sensibilidade nesses dois lugares, que são os lugares mais sensíveis, as mulheres são muito mais sensíveis e por isso podem ter um orgasmo mais intenso.

Em geral, são zonas erógenas partes do corpo repletas de terminações sensitivas e que lhe trazem prazer ao serem estimuladas. Também podem ser zonas erógenas a região anal, o pescoço, as coxas. Importante cada um descobrir o que você gosta mais no seu corpo.

Muitas mulheres não sabem se tiveram um orgasmo. Se o orgasmo foi atingido ou não, basta prestar atenção se há necessidade de continuar o ato sexual, uma vez que após o orgasmo existe uma satisfação plena.

Não existem "categorias" de orgasmos e sim um orgasmo, provocado por tipos diferentes de estímulo. A gente não fala em orgasmo vaginal, orgasmo clitoridiano. O mais correto é você dizer orgasmo com estímulo intravaginal, orgasmo com estímulo clitoridiano.

Vale a pena procurar ajuda profissional se a anorgasmia persistir, sendo preciso investigar se a paciente sofre de alguma condição clínica que precisa ser tratada como dyspareunia (dor na relação sexual), vaginismo, transtorno do desejo hipoativo, entre outros.

A gente sabe que antidepressivos podem levar a um retardo da ejaculação, um retardo do orgasmo, tanto no homem quanto na mulher. Isso deve ser levado em consideração durante a abordagem do problema pelo especialista.

Dicas importantes:

- O meio mais fácil de ejacular é a masturbação ou o sexo solo. A dica é usar lubrificantes, brinquedinhos sexuais pra ajudar na descoberta.

- Ao contrário do que muitos pensam, preliminares bem feitas garantem orgasmos intensos.

- É mais fácil atingir o orgasmo nos primeiros quinze dias do ciclo menstrual

*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, no câncer, na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir tema para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com.