A Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhece junho como o mês de conscientização sobre a infertilidade em todo o planeta. De acordo com ela, a infertilidade é definida como a incapacidade de engravidar após um ano de relação sexual desprotegida, condição que afeta mais a população de países de baixa e média renda.
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A infertilidade não se trata de uma mera condição em que uma pessoa não consegue, naturalmente, gerar um filho, mas sim de uma doença que, inclusive, é reconhecida pela OMS. Atualmente, é estimado que cerca de 35% dos casos de infertilidade estão relacionados à mulher, cerca de 35% estão relacionados ao homem, 20% a ambos e 10% são provocados por causas desconhecidas.
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A dificuldade para realizar o sonho da gravidez deve ser considerada um problema do casal embora seja avaliado de forma individualizada! Entre as principais causas ginecológicas estão a endometriose, a infecção pélvica, as menstruações irregulares, a síndrome dos ovários policísticos, entre outros.
Atualmente, a idade da mulher é um dos principais fatores associados à dificuldade de gravidez, uma vez que o avançar da idade (principalmente após os 35 anos) faz com que a quantidade e qualidade dos óvulos diminuam progressivamente, resultando em menores chances de gravidez e aumentando os riscos de aborto e doenças genéticas.
De acordo com dados de 2019, da Associação Brasileira de Reprodução Assistida, a infertilidade conjugal afeta de 10 a 15% dos casais em idade reprodutiva no mundo estimando-se assim entre 50 e 80 milhões de pessoas com mais de
oito milhões só no Brasil.
A obtenção de informações seguras com bases científicas relacionadas à saúde reprodutiva e as opções de tratamento para a infertilidade pode evitar que os casais percam a oportunidade de ter seus próprios filhos biológicos ou não.
Infelizmente ainda percebemos casais sendo tachados como estéreis, que é a impossibilidade de um casal gerar filhos, pois o homem ou a mulher (ou ambos) são incapazes de gerar células sexuais ou gametas (não produz óvulos ou espermatozóides).
Os avanços na reprodução assistida permitiram que muitas destas situações - como a infertilidade - fossem revertidas.
Existem muitas causas de infertilidade e por isso os tratamentos são divididos em baixa complexidade, onde é preciso apenas um ajuste de hábitos através de dieta para perder peso, controle de doenças crônicas (resistência a insulina,
problemas de tireóide, alterações da prolactina,... ) e alta complexidade onde é preciso um tratamento mais complexo como a fertilização in vitro podendo chegar até a doação de óvulos ou espermatozóides.
A reprodução assistida é capaz de aumentar as taxas de gestação em 2 a 3 vezes dependendo do problema, da idade da paciente e da técnica utilizada. A infertilidade é listada na CID (Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), sob os seguintes códigos (N46 - Infertilidade Masculina; N97- Infertilidade Feminina) mas não é reconhecida pelas operadoras de planos de saúde que se negam em custear os tratamentos de
reprodução asssistida mesmo após a edição da lei 11.935 de 2009, que incluiu o planejamento familiar como caso de cobertura obrigatória pelos planos de saúde.
A jurisprudência nacional encontra-se dividida, tendo precedentes negado a obrigatoriedade da cobertura e precedentes que, ao ver de alguns juristas, entendem ser obrigatória a cobertura dos procedimentos de reprodução assistida pelos planos.
Muitos pacientes que não podem engravidar sem tratamento de reprodução humana assistida lutam para que os planos de saúde e o SUS ofereçam esta opção que deveria ser um direito de todos que ficou restrita a poucos.
Na última quarta-feira (8/6/2022), a 2ª Seção do STJ decidiu que a lista de referência mínima preparada pela ANS para os planos de saúde tem caráter taxativo. Ou seja, as operadoras não têm a obrigação de custear procedimentos
que não estejam listados. Em casos excepcionais, no entanto, essa taxatividade pode ser superada.
O tema é de extrema relevância porque trata-se de um mercado com quase 50 milhões de beneficiários, extremamente judicializado e cujo impacto, ao fim e ao cabo, recai não apenas sobre o direito constitucional à saúde, mas também na
pressão sobre o Sistema Único de Saúde.
Na abordagem do casal infertile é preciso contar com a ajuda de uma equipe multidiciplinar com nutricionistas, acupunturistas e, principalmente, psicólogos (obrigatório pela Anvisa) que possam dar suporte no processo de tentativas e até mesmo, nos casos em que não haja sucesso no tratamento, encontre, junto com o casal, o melhor momento de parar e aceitar a situação.
A seguir disponibilizo um texto de autoria da Dr Letícia Campos, psicóloga com quem tenho a honra de trabalhar na Clínica Ovular e que vem se dedicando e ajudando muito alguns casais inférteis.
"Lidar com a infertilidade é uma montanha russa emocional! Por mais preparado e amparado que você esteja, é um processo cheio de expectativas e angústias. Mas olha, você já parou para pensar o porquê de você está lidando com a infertilidade e não com a esterilidade? A diferença entre eles é que na infertilidade há chances diminuídas de conseguir engravidar, enquanto no caso da esterilidade, isso significa a impossibilidade de gerar vida nesse corpo.
Por um outro diagnóstico do destino, o resultado negativo para sua expectativa de gerar filhos poderia ser tachativo; mas não... a vida está te convidando para uma ousada caminhada com destino incerto!
Para além da chance de ter filhos, de que forma essa jornada da infertilidade está modificando sua vivência? Qual impacto isso tem causado nos seus relacionamentos? O que você descobriu sobre si mesmo que talvez nunca tenha
notado?
Sabe, na maioria das vezes, a gente realmente não é capaz de entender qual a razão do sofrimento que temos vivido, enquanto estamos passando por ele e isso nos causa extrema angústia. Mas a verdade é que somos capazes de suportar
muito mais adversidades do que imaginamos, especialmente quando nos concentramos em buscar o propósito de cada uma das nossas vivências.
Espero que pensar sobre isso te desperte coragem! Coragem para enfrentar a sua difícil jornada e para renunciar ao controle dos planos que você traçou para si mesmo.
Mas que isso nunca represente para você, perder a esperança no seu sonho de gerar vida, apenas que te permita se abrir pra viver intensamente os inesperados aprendizados que essa experiência pode te proporcionar".
Tenho certeza que dias melhores virão e que vocês casais tentantes não estão sozinhos!
Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, câncer, dor pélvica e infertilidade.