Inteligência Artificial (IA) em medicina consiste no uso de computadores que, analisando um grande volume de dados e seguindo algoritmos definidos por especialistas, são capazes de propor soluções aos problemas médicos e ajudar os serviços de saúde.
Apesar da IA ter o potencial de melhorar quase todos os aspectos, muitos médicos ainda são céticos sobre a integração da IA nas suas práticas do dia a dia, com medo de que as mudanças possam resultar não só no fim da relação médico-paciente, mas na substituição da mão de obra médica.
Algumas especialidades de fato serão substituídas ou não mais reconhecidas num futuro próximo, enquanto outras serão renovadas ou criadas com a digitalização da medicina.
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O médico e a inteligência artificialDesafio da Reprodução Assistida na endometriose intestinalMeditação e mindfulness na endometrioseO sonho de se ter um filho não pode acabarPobreza menstrual e a demanda por dignidadeA humanidade sonha com objetos dotados de certa inteligência, capazes de executar ações complexas e de pensar.
Contudo, a ideia de inteligência artificial como conhecemos hoje parece ter nascido na década de 1940, quando Warren McCulloch e Walter Pitts abordaram, em texto, estruturas artificiais que imitavam o sistema nervoso humano.
Posteriormente, o matemático Alan Turing projetou uma dinâmica que marcou a filosofia da inteligência de uma máquina - o famoso teste de Turing. Nesse experimento, um humano e um computador deveriam responder, por escrito, a perguntas de uma pessoa, que por sua vez tentaria identificar qual delas era a máquina.
Outro fato marcante se deu em 1964, com a invenção do primeiro chatbot, um programa de computador que tenta simular um ser humano na conversação com as pessoas, de tal forma que as pessoas tenham a impressão de estar conversando com outra pessoa e não com um programa de computador.
Batizado de Eliza, tratava-se de um algoritmo e um conjuntos de palavras-chave que lhe davam a capacidade de imitar as respostas de psicanalistas, já demonstrando uma das várias possibilidade da aplicação da IA na saúde.
A IA passou por um período de descrença e frustração até que a capacidade de processamento dos computadores fosse otimizada no início do século 21, juntamente com a popularização da internet.
Em 2011, a IBM concebeu o supercomputador Watson, fruto de tecnologia que usa redes neurais artificiais para armazenar milhões de informações em formato de livros, artigos científicos e prontuários de pacientes, tornando-se uma importante fonte (rede) de dados sobre oncologia.
Também a Google lançou o supercomputador Deep Mind, trabalhando dados de milhares de pacientes para aprender sobre os sintomas e a evolução de doenças.
O carro-chefe da inteligência artificial aplicada à saúde tem sido os diagnósticos automatizados, mas a tecnologia também vem sendo aplicada em outros momentos, como é o caso do autocuidado.
O futuro do setor da saúde passa pela junção do autocuidado (wearables) subsidiado pela inteligência artificial com a telemedicina , que usa tecnologias para fornecer informação e atenção médica a pacientes distantes.
Wearables ou dispositivos vestíveis, é o termo geral para um grupo de dispositivos móveis, como relógios, fones de ouvido, óculos de realidade aumentada e aparelhos para atividades físicas, projetados para serem utilizados como acessórios que permitem a coleta, armazenamento e envio de dados do paciente em tempo real ao médico, criando oportunidades de monitoramento até então inéditas.
A telemedicina influencia diretamente o acompanhamento de pacientes, o intercâmbio de informações clínicas, a interpretação de resultados de exames, através de um serviço moderno e eficaz, que rompe com a barreira geográfica para agregar valor aos cuidados de saúde e ajudar a esclarecer dúvidas por meio da segunda opinião médica, sempre que necessário.
A telemedicina vem aproximando as pessoas no Brasil a partir da sua liberação em 2020 pelo Conselho Federal de Medicina com o intuito de ajudar na pandemia da COVID-19.
As áreas de saúde também têm se beneficiado de aplicativos com baixo valor de implementação, que ajudam a comunicação entre clínicas médicas e pacientes, além de estimular o autocuidado.
Um exemplo é o aplicativo gratuito que orienta como realizar o auto exame da mama, explicando a técnica, fornecendo um alarme para lembrar a data do próximo exame, além de possuir um sistema dinâmico para anotar os resultados de exames realizados.
Assim como esse aplicativo, temos inúmeros outros que ajudam a monitorizar o estresse, a hidratação, o sono, a dieta e a respiração.
Na ginecologia, temos ainda aplicativos que monitoram as características do ciclo menstrual, do período fértil, do uso de contraceptivos. Em 2017, o FDA aprovou um aplicativo criado por uma cientista ganhadora do prêmio Nobel tão eficaz quanto o uso da pílula anticoncepcional.
No Brasil, foi criado o projeto de lei 21/2020 para regular o uso da Inteligência Artificial na medicina, definindo os direitos e deveres de empresas, pessoas físicas, poder público e clínicas que têm a intenção de utilizar essa tecnologia.
Entre os fundamentos abordados na lei estão os direitos humanos, a pluralidade, a igualdade, a não discriminação, a livre iniciativa e privacidade, além da exigência de que o uso da IA seja o mais transparente possível, ou seja, que todos divulguem o modo de funcionamento e permitam o fácil acesso aos dados.
O aval de autoridades da área médica, como Conselho Federal de Medicina (CFM), Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, precisam ser solicitados.
Esse cuidado garante que a coleta, armazenamento e análise de dados mantenham informações sensíveis protegidas, garantindo o sigilo médico.
O Hospital Albert Einstein, em São Paulo, foi um dos pioneiros no Brasil com aparelhos capazes de apontar doenças e encaminhar notificações automáticas, utilizando equipamentos que enviam sinais vitais diretamente para o prontuário médico.
A primeira cirurgia robótica do Brasil aconteceu no Hospital Albert Einstein no dia 30 de março de 2008, alguns meses depois da aquisição do primeiro sistema robótico (plataforma da Vinci).
Após 13 anos, o número de procedimentos vem crescendo gradativamente e se expandindo para diversas especialidades cirúrgicas. A prática, no entanto, carecia de normatização ética, principalmente em relação à capacitação, que hoje é oferecida por empresas detentoras dos robôs.
Com a Resolução CFM nº 2.311/2022, o CFM supre uma lacuna, estabelecendo regras para a capacitação dos profissionais e critérios para a realização das cirurgias.
No país, há atualmente 80 robôs para uso em procedimentos cirúrgicos urológicos, ginecológicos e cirurgia geral (cirurgia bariátrica e de hérnia) principalmente.
A aparência dessa plataforma é semelhante a de um "polvo" com três braços para os instrumentos cirúrgicos e um quarto braço para visualizar os órgãos, possibilitando ao cirurgião uma visão 3D dos órgãos do paciente.
Dentre as vantagens da cirurgia laparoscópica com a plataforma robótica, temos a diminuição da perda de sangue, o menor tempo de internação, cicatrizes menores devido a não necessidade de incisões amplas, a redução da dor e da necessidade de medicação prolongada, a recuperação mais rápida e com menos complicações e o menor risco de infecção.
As vantagens para o médico foram consideravelmente maiores ao proporcionar melhor visualização, movimentos mecânicos com maior grau de liberdade, diminuição da fadiga ou tensão nas articulações devido ao design ergonômico do robô, facilidade de treinamento com diminuição da curva de aprendizado cirúrgico e, principalmente, o fim dos improvisos cirúrgicos.
Dar um passo em direção a esse novo mundo abre uma série de oportunidades para consultórios, clínicas e hospitais, desde que respeitados os princípios éticos. Essas novas tecnologias têm tudo para acrescentar uma série de benefícios aos pacientes e médicos.
Impulsionados pela tecnologia 5G, várias perspectivas irão surgir, em especial o uso da computação cognitiva e da realidade virtual na medicina.
Como toda tecnologia disruptiva, a inteligência artificial também possui pontos negativos, como a dificuldade por parte de profissionais devido à descrença ou falta de familiaridade com a tecnologia.
Uma pesquisa realizada em 12 paises aponta que, com o avanço da confiança na tecnologia, 55% das pessoas aceitariam ser atendidas por um autômato com inteligência artificial no lugar dos médicos.
Não sei dizer quanto tempo vai levar para isso se consolidar, mas a medicina de precisão ou medicina personalizada, que é uma prática em que o foco está no paciente de forma individual, levando em consideração as diferenças genéticas, biológicas, entre outras, é um futuro que já chegou e vai precisar cada vez mais destas novas tecnologias.
*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, no câncer, na dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.
Se você tem dúvidas ou quer sugerir tema para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com.