A melatonina, conhecida como hormônio do sono, é uma molécula antiga e onipresente na natureza, apresentando múltiplos mecanismos de ação e funções em praticamente todo organismo vivo.
A escuridão é o requisito absoluto para a sua produção e liberação, enquanto a luz é responsaável pela sua supressão. A concentração de melatonina no sangue e nas células é cerca de 3 a 10 vezes maior à noite.
Trata-se de um neuro hormônio produzido principalmente pela glândula pineal, mas também, pelo trato gastrointestinal, olhos, pulmões, pele, rins, fígado, tireoide, timo, pâncreas e sistema imune, sendo metabolizada nos rins e no fígado.
Quimicamente, é uma indolamina sintetizada a partir do triptofano (aminoácido essencial encontrado em alimentos como leite e laticínios, nozes, castanhas, batatas e frutas como banana e abacate) com uma capacidade de atravessar facilmente as membranas celulares por difusão.
Em consequência, a melatonina não é armazenada no interior do pinealócito, sendo imediatamente liberada nos capilares sanguíneos que irrigam a glândula pineal após a sua formação.
A glândula pineal participa na organização temporal dos ritmos biológicos, atuando como mediadora entre o ciclo claro-escuro e os processos regulatórios fisiológicos, incluindo a regulação endócrina da reprodução, regulação dos ciclos de atividade-repouso e sono-vigília, regulação do sistema imunológico, entre outros.
Diferentemente dos hormônios dependentes do eixo hipotálamo-hipofisário, a produção de melatonina não está sujeita a mecanismos de retroalimentação (feed back negativo) sendo que, portanto, a sua concentração plasmática não regula sua própria produção, isto quer dizer que usar melatonina de forma exógena não influencia na produção endógena (natural) da mesma.
Nos EUA, o FDA (Food and Drug Administration)%u200B não considera a melatonina como um medicamento e a categoriza como um suplemento alimentar. Isso dificulta muito uma padronização, pois dessa forma pode haver várias formulações, sintéticas ou naturais, com modo de apresentação e dosagem diferentes.
No Brasil, desde outubro de 2021, houve uma liberação para formulação em farmácias de manipulação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na forma de suplemento alimentar.
Algumas pessoas recorrem a melatonina sem recomendação médica devido a estas características, utilizando principalmente em casos de jet lag (desregulação do sono que ocorre após uma viagem no qual ultrapassamos vários fusos horários) ou em casos extremamente específicos de insônia.
O problema é que ela nem sempre é a solução se o problema for comportamental, pois ela apenas ajuda na indução do sono e não na
manutenção.
Quando o indivíduo acorda e recebe a luz intensa do sol da manhã a melatonina se transforma em serotonina, hormônio do bom humor.
A secreção da melatonina pode estar alterada em algumas condições, tais como: exposição excessiva a luz a noite, período menstrual, em alguns idosos e em casos de depressão sazonal.
Diversos estudos já enfatizaram a sua capacidade em eliminar radicais livres a ajudar no manejo de diversos males tais como câncer, doenças imunológicas, doença de Alzheimer, diabetes e infecções virais, além de promover imunidade, regular a pressão arterial, combater a enxaqueca e gerar um efeito antidepressivo.
A Agomelatina é o primeiro fármaco antidepressivo que apresenta um mecanismo de ação totalmente novo ao possuir uma ação agonista sobre os receptores de melatonina (MT1/MT2) e uma ação antagonista sobre os receptores de serotonina (5-HT2C).
É utilizada para tratar a depressão grave, habitualmente administrada uma vez por dia, antes de deitar, ajudando na correção dos distúrbios nos ritmos circadianos, associados frequentemente à depressão com caracteristicas próximas de antidepressivo ideal.
Durante o envelhecimento a produção de melatonina sofre um declínio gradual, principalmente em idade superior a 75 anos, onde a síntese nas 24 horas é somente uma pequena fração daquele observado nas pessoas mais jovens com menos de 30 anos, o que faz atribuir à melatonina um possível papel nas fases iniciais e no desenvolvimento das doenças degenerativas da idade.
A redução da produção de melatonina pode ser atribuída a vários fatores, como a carência nutricional, a associação de substâncias químicas e remédios, o estresse e o próprio processo de envelhecimento como relatado.
Se você quer que a melatonina ajude-o a ter um bom sono, é necessário ter uma rotina diária.
Procure fazer as refeições na mesma hora de cada dia, dormir e acordar no mesmo horário assim como outras tarefas do seu dia. Isso auxilia seu organismo a produzir melatonina sempre no mesmo horário.
A quebra do relógio biológico altera a liberação de cortisol, insulina, testosterona e hormônio do crescimento.
A melatonina é um antioxidante bastante potente quando comparado com outras substâncias da mesma categoria, como as vitaminas E e C, sendo capaz de prevenir danos celulares provocados por radicais livres.
Do mesmo modo, o consumo diário de melatonina pelos humanos a partir dos 30 ou 40 anos poderá prevenir - ou pelo menos retardar - doenças relacionadas ao envelhecimento decorrente dos radicais livres e dos processos inflamatórios.
Além disso, a melatonina é responsável pelo estabelecimento de um balanço energético adequado, principalmente pela ativação do tecido adiposo marrom e pela participação no processo de transformação do tecido adiposo branco em marrom (termogênico).
Evidências experimentais demonstram que a melatonina é necessária para a síntese, secreção e ação apropriadas da insulina podendo desencadear obesidade e diabetes tipo2.
As primeiras correlações entre a glândula pineal e o combate ao câncer datam do final do século XIX , quando alguns médicos já ofereciam extratos de pineal a seus pacientes oncológicos.
No câncer de mama, a melatonina inibe as células-tronco (CSCs) que representam um desafio, uma vez que estas células podem impulsionar o crescimento tumoral e são resistentes à quimioterapia.
A melatonina possui ações cronobióticas, analgésicas, anti inflamatórias e antioxidante no tratamento da dor aguda e crônica, sendo cada vez mais prescrita no dia a dia do consultório.
Nos eventos reprodutivos como a formação dos folículos ovulatórios (foliculogênese), atrofia dos folículos (atresia folicular), ovulação, maturação dos óvulos e formação do corpo lúteo, há envolvimento de radicais livres.
Recentes estudos têm demonstrado que a qualidade dos óvulos e dos embriões depende não só da formação genética e cromossômica, mas também do ambiente onde os óvulos se desenvolvem (fluido folicular que envolve os oócitos antes da ovulação).
Grandes quantidades de melatonina são encontradas no fluido folicular periovulatório (líquido que envolve o óvulo dentro do folículo), com
concentrações maiores do que no sangue periférico.
Assim, a melatonina, com sua ação antioxidante, é essencial e tem papel benéfico no processo reprodutivo, melhorando a qualidade oocitária em pacientes inférteis, com endometrioses e SOP (síndrome dos ovários policísticos), apesar de benefícios limitados.
Segundo a Sociedade brasileira de endocrinologia e metabologia (SBEM), acumulou-se, nos últimos 20 anos, sólidas evidências experimentais e algumas clínicas, sobre o importante papel da melatonina na regulação do metabolismo energético.
Dado o enorme avanço nas pesquisas sobre o papel fisiológico da melatonina, seu uso e de seus análogos farmacológicos como agentes terapêuticos na clínica médica tem se expandido enormemente, ainda que, em muitos casos, esteja em fase de experimentação clínica.
Alguns questionamentos existem como quando (idade)seria o momento certo de repor o hormônio, qual horário (quanto tempo antes de dormis), qual dose e qual apresentação (sintéica ou natural).
Tendo em vista a ação cronoterapêutica, o momento e regularidade do horário do uso noturno deve ser respeitado.
Nenhum suplemento ou medicamento deve ser usado sem a indicação de um professional e isso se aplica à melatonina.
*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, câncer, dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.
Se você tem dúvidas ou quer sugerir tema para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com