Vivemos cercados por cobranças internas e externas em ter que acelerar em determinado momento da vida em um mundo que está cada vez mais acelerado e complexo, em contraste com a necessidade de tirar o pé e aproveitar.
A pandemia acabou forçando as pessoas a desacelerar, devido ao isolamento social que acabou estimulando o surgimento de sentimentos até então pouco valorizados no mundo real.
Desta forma, fui apresentado a um sentimento, até então pouco visto, em pessoas mais jovens no meu dia-a-dia de ginecologista. A presença de um vazio! Vazio este muito frequente em mulheres no climatério (periodo entre 45 e 65 anos), a Síndrome do Ninho Vazio.
Ela é caracterizada por um sofrimento excessivo, associado à perda do papel da função de pais, com a saída dos filhos de casa, quando vão estudar fora, quando se casam ou vão viver sozinhos.
A sensação de vazio é incômoda, porém muito comum em algum momento da vida, apresentando-se em maior ou menor grau. Muitos já sentiram o estranho sentimento de vazio interior que faz parte da condição humana. No entanto, quando a sensação é contínua, isso pode trazer vários prejuízos.
Na verdade, é esperado que a maioria passe por essa experiência pelo menos uma vez, devido a situações estressantes na vida, como em épocas de transição da adolescência para a vida adulta ou da vida adulta para a velhice, onde as pessoas se sentem perdidas diante das muitas possibilidades que surgem.
O mesmo acontece com os períodos de mudança (de cidade, de país, de emprego, de família) que causam uma sensação semelhante. Os propósitos se modificam com a nova realidade, podendo levar tempo para que eles reapareçam.
Diante de quase dois anos de pandemia da COVID-19 e as incertezas que ainda temos em relação ao que virá desencadeia esta sensação de vazio difícil de explicar.
Importante pontuar que este vazio é muito diferente da apatia que é a falta de emoção, motivação ou entusiasmo. É um termo psicológico para um estado de indiferença, no qual um indivíduo não responde aos estímulos da vida emocional, social ou física.
É importante enxergar a necessidade de desacelerar e utilizar o tempo livre a nosso favor! Isto não significa que estaremos aumentando este vazio.
O excesso de tarefas é um perigo para a produtividade do ser humano com complexas relações de trabalho , um turbilhão de informações e de atividades cronometradas e de alta pressão.
Essa realidade gera amplo estresse e, como resultado, interrompe nosso processo de ter idéias consistentes, estabelecer estratégias e até dar passos significativos rumo ao nosso crescimento pessoal e profissional.
Você conhece o conceito de ócio criativo?
Ao contrário do que parece, o ócio (folga ou repouso) tem o objetivo de restaurar nossa concentração, foco e estabilidade emocional para darmos passos importantes em nossos objetivos e responsabilidades.
É um conceito que surgiu no ano 2000 com a publicação do livro de mesmo nome do sociólogo italiano Domenico De Masi. Em sua narrativa, ele encara o ócio como um tempo livre ou um equilíbrio justo entre trabalho, estudo e descanso, sendo uma forma de recuperar o fôlego para atividades que exijam foco e, claro, criatividade.
Através de atividades de lazer, bem-estar físico e mental, da companhia de amigos e entes queridos ou de descanso, a capacidade inventiva é renovada, abrindo espaço para melhorar o desempenho.
Diferentemente da preguiça e da procrastinação (atitude de postergar, adiar) que são negativas para a produtividade, o ócio criativo tem o objetivo de renovar as energias e revigorar o cérebro.
Enxergue sua rotina de trabalho e identifique como redistribuí-la para aproveitar as horas em que sente maior produtividade. Por exemplo, as
atividades de maior concentração poderiam ser feitas de manhã e tarefas mais leves ficariam para depois do almoço.
Use seu tempo livre com inteligência, como ler um bom livro ou ir ao teatro, seja curtir a família ou fazer exercícios %u2015 ou tudo isso junto. O importante é que seu momento de ociosidade tenha conteúdo e seja utilizado para atividades revigorantes e prazerosas.
Há momentos em que seu corpo simplesmente precisa parar. Inclua pausas rápidas para tomar um café, fazer uma meditação, respirar, alongar, mesmo que seja no local de trabalho.
Além de recuperar a energia criativa necessária às nossas tarefas e responsabilidades, o ócio ajuda a diminuir as tensões físicas, a diminuir frustração e incapacidade, gerando equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Embora muita gente pense que o ócio criativo é impraticável no mercado atual, várias empresas, em especial as de tecnologia, têm incentivado seus funcionários com resultados muito satisfatórios.
Até mesmo uma pessoa workaholic pode se reorganizar e considerar a possibilidade deste descanso da mente tão necessário e que ajuda a evitar o burnout.
Pesquisa publicada recentemente no periódico Journal of Personality and Social Psychology conduzida por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, mostrou que o excesso de ócio pode causar um efeito contrário ao que se espera, podendo trazer, inclusive, estresse e ansiedade.
Foi feita uma revisão de dois estudos antigos, o American Time Use Survey (pesquisa americana de uso do tempo) com 21 mil participantes e o Estudo Nacional da Mudança da Força de Trabalho dos EUA, que continha dados de 13 mil participantes coletados entre 1992 e 2008.
No final, os pesquisadores constataram que o período diário de 2 horas de lazer parecia ser benéfico aos indivíduos, mas os benefícios paravam quando o tempo de ócio ultrapassava as 5 horas.
Tempo livre é bom, mas em excesso pode diminuir seu bem-estar!
Não adianta ter 5 horas de ócio e gastá-las em frente às telas de tv, computador ou celular. De acordo com o estudo, pessoas precisam utilizar a folga de maneira produtiva.
O período entre um e outro não apresentou vantagens extras. De toda forma, os cientistas reforçam a importância de manter o equilíbrio: além do trabalho, tente adicionar atividades físicas ou mentalmente envolventes na rotina, como o estudo de um instrumento musical ou algumas horinhas na cozinha. Usar o tempo em atividades sociais, envolvendo família e amigos, também foi visto como vantajoso.
De acordo com os cientistas, a queda do bem-estar em pessoas com muito tempo livre ocorria devido à falta de senso de produtividade e propósito.
Na tentativa de preencher o vazio, buscamos formas nada saudáveis de sentir prazer. Festas, baladas, vícios, uso excessivo de álcool, compulsão por comidas ou compras são alguns comportamentos desenvolvidos por essas pessoas.
Outra consequência da sensação de vazio é a desistência. Diante da incapacidade de encontrar um propósito e insucesso em preencher o vazio com elementos externos, a depressão se instala gerando um cenário altamente prejudicial para a saúde mental. Neste caso precisa procurar ajuda com um especialista.
Uma pessoa pode ter tudo e, no entanto, sentir um profundo vazio em seu interior que é, na verdade, um aviso de que você não está bem e precisa reavaliar a sua vida.
Para isso, é preciso começar a tarefa de se conhecer e se aceitar. É preciso identificar os fatores que provocam esse acúmulo de emoções negativas.
Valorizar o que você tem não significa ser conformista, mas sim aceitar a realidade tal como ela é.
Concentre-se naquilo que lhe faz bem, potencialize suas virtudes e não se deixe dominar pelos seus defeitos. Seja consciente de que a perfeição não existe!
É de suma importância que você durma no mínimo oito horas; faça as refeições em horários corretos e regulares; hidrate-se bastante e caminhe pelo menos meia hora por dia. O objetivo final é a busca do equilíbrio entre o momento de acelerar e desacelerar.
Passe alguns dias consigo mesmo, fazendo coisas que gosta e o deixam feliz. Tire uma folga do trabalho, se for preciso!
Todos nós temos sonhos que nos dão a motivação para seguir em frente, encarar os desafios da vida e não desistir diante das dificuldades e dos inúmeros "nãos" que a vida nos dá. O que você tanto deseja realizar em sua vida depende completamente de disciplina e planejamento.
*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, câncer, dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.
Se você tem dúvidas ou quer sugerir tema para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com