Evitar estresse e ansiedade no Brasil de 2021 esta cada vez mais difícil. Pandemia e instabilidade política e econômica têm colocado nervos a toda prova
A Mulher-Maravilha foi criada em 1941, pela DC Comics, como uma personagem nascida na ilha de Temiscira, abençoada por todos os deuses do Olimpo de onde vieram seus poderes: Bela como Afrodite, sábia como Atena, forte como Hercules, e rápida como Hermes.
Neste mesmo período as mulheres começaram uma revolução silenciosa e discreta com o surgimento da pílula anti-concepcional em1960 que levou a um maior controle da taxa de natalidade, permitindo que se tornassem economicamente mais ativas.
Esta demanda imposta pelas próprias mulheres de ser uma mulher maravilha nos dias de hoje tem gerado cada vez mais transtornos como a depressão, a distimia, a síndrome do pânico, o transtorno de ansidedade generalizada, a fadiga crônica, o transtorno disfórico pré menstrual, a depressão pós parto e o transtorno bipolar.
Ansiedade é um mecanismo do nosso cérebro para nos alertar em situações adversas e desconhecidas. Este mecanismo nos deixa alertas e também desencadeia uma “descarga de adrenalina” para enfrentar situações inesperadas.
Porém, a ansiedade em excesso pode ter efeito contrário e, simplesmente, paralisar uma pessoa.
Quando a ansiedade começa a prejudicar o dia a dia causando transtornos físicos e psicológicos atrapalhando você de efetuar uma tarefa rotineira, cancelando compromissos e gerando angústia ela passa a ser patológica.
Muitas angústias e tristezas são inerentes ao simples fato de estarmos vivendo, convivendo e sobrevivendo. Não conseguimos eliminar esses sentimentos com um passe de mágica.
No mundo de hoje as pessoas tem procurado maneiras de compensar a dificuldade de ter os padrões pessoais, familiares e profissionais sonhados através do acesso a bens de consumo impostos pela sociedada capitalista.
Me lembro bem no inicio da minha vida profissional há 24 anos de ser apresentado à uma doutrina chamada hedonismo.
O hedonismo é uma doutrina, ou filosofia de vida, que defende a busca por prazer como finalidade da vida humana. Buscar prazer é o que move as paixões, os desejos e todo o mecanismo da vida, sendo, portanto, na visão do hedonistas, a primeira e mais completa ponte para a finalidade última da vida: a felicidade através do ser e não ter!
As pessoas atualmente querem tudo na hora e de forma fácil, e vivem uma cultura na qual deve-se buscar a felicidade a qualquer preço, mas com um custo elevado às vezes.
Os jovens de hoje estão passando por isso por não conseguirem atender aos padrões exigidos em decorrência da extrema competitividade, da falta de acesso ao mundo real e muitas vezes por uma superproteção dos pais. O resultado é uma sensação de insuficiência e incapacidade, ansiedade e baixa autoestima que são a base para o desenvolvimento dos transtornos de ansiedade e depressão.
Segundo a OMS, no Brasil, 11,5 milhões de pessoas sofrem com depressão e até 2030 essa será a doença mais comum no país.
Ja pararam para se perguntar porque esses transtornos acontecem com as mulheres de uma forma muito mais importante que com os homens?
Enquanto o organismo masculino produz um único hormônio sexual, a testosterona, as mulheres enfrentam uma bipolaridade hormonal. Durante os primeiros 14 dias do ciclo menstrual temos o estrógeno, enquanto que nos últimos 14 dias temos a predominância da progesterona.
O estrógeno faz com que as mulheres fiquem mais alegres e ativas. Entretanto, quando a produção desse hormônio diminui, elas se sentem mais cansadas, nervosas, preocupadas, tristes e irritadas como na pós menopausa.
Consequentemente, essa alteração hormonal é um dos fatores que contribuem para que o sexo feminino tenha uma maior predisposição à depressão e a outros transtornos depressivos.
Estudos apontam que o risco de depressão é entre 10% e 25% para mulheres e 5% a 12% para os homens. Uma soma de fatores sociais e também biológicos explica esses números como as questões hormonais e a dupla jornada de trabalho para conciliar carreira e tarefas domésticas.
Burnout é um transtorno psíquico de caráter depressivo, com sintomas parecidos com os do estresse, da ansiedade e da síndrome do pânico, mas no qual o especialista percebe a associação com a vida profissional da pessoa.
A síndrome, que foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, em uma lista que entrará em vigor em 2022, se não tratada pode evoluir para doenças físicas, como doença coronariana, hipertensão, problemas gastrointestinais, depressão profunda e alcoolismo.
Estatísticas mostram que estresse e esgotamento profissional estão afetando mais mulheres que homens e, particularmente, mais as mães que trabalham fora de casa do que pais que fazem o mesmo.
No meu dia a dia percebo mulheres do lar também esgotadas pelo marido, pelas tarefas da casa e pelas demandas da família.
Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que analisou o impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental de trabalhadores essenciais, mostrou que sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% desses trabalhadores durante a pandemia, no Brasil.
Nesse sentido, a classe de profissionais de saúde é uma das mais gravemente afetadas pela síndrome de burnout, demandando maiores cuidados e intervenções.
Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou tratados de doenças mentais no ano anterior.
Dados recentes sobre o burnout em mulheres são preocupantes.
Segundo uma pesquisa feita pela plataforma LinkedIn, com quase 5 mil americanos, 74% das mulheres disseram que estavam muito ou razoavelmente estressadas por motivos ligados ao trabalho, em comparação com apenas 61% dos empregados do sexo masculino.
É uma síndrome que precisa ser precocemente reconhecida e tratada, visto que pode levar a graves comorbidades decorrente do excesso de trabalho e responsabilidades.
A telemedicina facilitou o acesso à psicólogos e médicos embora dados mostrem que só uma parte da população recebeu tratamento necessário.
Em geral, pesquisas ligam baixas rendas à altos níveis de estresse e à uma saúde mental ruim.
Saúde Mental é muito mais que a ausência de doenças mentais. É, na verdade, um estado de bem estar em que o indivíduo consegue ser produtivo, realizar as suas habilidades e se recuperar do estresse causado pela rotina.
Todos nós estamos sujeitos a condições de estresse: para crescer, para comer, até para dormir. O importante para a manutenção da saúde mental é que a gente seja capaz de se recuperar desse estresse e participar da vida em comunidade, ser produtivo e participativo das atividades sociais.
Em 2020, a Anvisa, agência reguladora vinculada ao Ministério, publicou uma resolução mais do que controversa por contrariar o bom senso. Ela ampliou a quantidade máxima de medicamento permitida em uma única receita de tarja preta dos atuais 2 meses de tratamento para até 6 meses.
Um convite ao uso abusivo? Na verdade foi um esforço para evitar que as pessoas saissem de casa durante a pandemia!
Os ansiolíticos são vendidos com receitas especiais, emitidas por profissionais preparados e autorizados, porque podem causar dependência física e mental. O diagnóstico deve ser bem-feito e o tratamento deve ser seguido corretamente para evitar que o quadro do transtorno piore.
Percebo ao longo dos meus quase 24 anos de formado o aumento do uso de benzodiazepínicos pelas mulheres. Antigamente muito comum acima de 50 anos e atualmente muitas usando antes dos 30 anos.
Os benzodiazepínicos constituem o grupo de psicotrópicos mais comumente utilizados na prática clínica devido as suas quatro atividades principais: ansiolítica, hipnótica, anticonvulsivante e relaxante muscular.
Seus efeitos colaterais podem ser problemas de memória, tontura, a diminuição de atividade psicomotora e dificuldade de concentração.
Os principais medicamentos são o alprazolam, bromazepam, clonazepam, diazepam, lorazepam, flunitrazepam, midazolam e zolpidem.
A venda de antidepressivos e estabilizadores de humor tiveram um aumento expressivo durante o ano passado.
Um levantamento feito pelo Conselho Federal de Farmácias mostrou que quase 100 milhões de caixas de medicamentos controlados foram vendidos em todo o ano de 2020 – um salto de 17% (mais de 96 milhões de doses) na comparação com os 12 meses anteriores.
Especialistas afirmam que o aumento no uso ou a dependência de medicamentos para o controle da ansiedade também podem estar ligados ao desenvolvimento socioeconômico de cada região do país.
Nos últimos anos, observou-se um grande avanço no tratamento farmacológico de transtornos da ansiedade (TAG). Recentemente, o tratamento mudou de benzodiazepínicos para antidepressivos, como a venlafaxina, pois os sintomas depressivos que às vezes acompanham o transtorno de ansiedade generalizada podem não responder bem aos benzodiazepínicos, além deles apresentarem risco de abuso, dependência e problemas associados, como efeitos de abstinência.
Em pacientes com TAG sem sintomas depressivos, um ansiolítico não benzodiazepínico eficaz é uma alternativa terapêutica importante. Neste sentido, a pregabalina, um análogo estrutural do ácido γ-aminobutírico (GABA), foi desenvolvida como um ansiolítico com base em seu perfil de atividade farmacológica.
A pregabalina é um remédio que atua no sistema nervoso, regulando as atividades das células nervosas, sendo indicado para o tratamento da epilepsia e dor neuropática, causada pelo mau funcionamento dos nervos. Além disso, também é usada no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada e no controle da dor causada pela fibromialgia em adultos.
A pregabalina se mostrou uma opção terapêutica segura e eficaz
O ponto inicial de tudo é a aceitação. Por isso a terapia é fundamental. Os remédios ajudam, mas quem realmente tira da crise é a terapia e o autoconhecimento.
Um dos grandes mitos relacionados à depressão é a crença de que seria uma condição rara e pouco recorrente, mas a chance é grande de alguém próximo de você estar deprimido e ansioso.
Outro grande mito associado é que pessoas bem-sucedidas não sofrem com ela. É possível conquistar muito na vida e ainda assim ter depressão.
A depressão é mais do que tristeza: pode surgir sem aviso ou lógica, em pessoas que não têm razões aparentes para estarem doentes. Portanto, a "falta de motivo" ou a ausência de sintomas clássicos não são motivos para descartar um possível quadro depressivo, nem razão para não procurar ajuda.
Estabelecer metas de vida realistas, garantir momentos de lazer e relação com amigos e família, manter uma jornada de trabalho mais adequada, preocupar-se mais em “ser” que em “ter” além de buscar o equlíbrio pode ajudar a diminuir o uso de medicamentos tarja preta.
*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, câncer, dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.
Se você tem dúvidas ou quer sugerir tema para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com.