Um estudo muito interessante e esclarecedor sobre esse assunto foi publicado recentemente por um grupo italiano, em que os autores avaliaram as implicações clínicas da interrupção dos uso das estatinas, mantendo os outros fármacos, então em uso rotineiro desses pacientes.


O estudo de coorte (onde os participantes são classificados em expostos e não expostos a um determinado fator de risco, sendo que depois são acompanhados para verificar a incidência da doença), de base populacional italiana de pacientes com 65 anos ou mais, todos recebendo polifarmácia (termo utilizado para definir pacientes que usam várias medicações, como antidiabéticos, anti-hipertensivos, antiagregantes plaquetários).

Os indivíduos que suspenderam o uso das estatinas durante o seguimento de 2013 a 2018 foram comparados àqueles que se mantiveram em tratamento. A análise estimou os riscos de desfechos fatais (morte) e não fatais, associados com a interrupção do uso das estatinas.

Foram incluídos 29.047 pacientes, em uso de polifarmácia, com média de idade de 76 anos, sendo que 62,9% eram homens. Do total, 5.819 (20%) descontinuaram o uso das estatinas, enquanto mantiveram outras medicações. Em contrapartida, 4.010 (68,9%) controles mantiveram o uso das estatinas.


Como características, no grupo que interrompeu as estatinas a média de idade era 76,5 anos - 60% eram homens e 12,6% apresentavam alto risco cardiovascular. Enquanto no grupo usuário de estatinas a média de idade era 76,1 anos, 61,7% homens e 12% apresentavam alto risco cardiovascular, o que se pode ver muito semelhantes nos dois grupos.

Comparados àqueles que se mantiveram com o uso de estatinas, os pacientes que descontinuaram o uso apresentaram um aumento no risco de hospitalizações por insuficiência cardíaca, aumento também de qualquer desfecho cardiovascular e mortes por qualquer coisa.

Os autores concluíram que, em pacientes recebendo polifarmárcia, descontinuar o tratamento com estatinas, mantendo os outros fármacos, está associado com um aumento no risco de desfechos clínicos fatais e não fatais em longo prazo.

Esse estudo nos orienta e nos mostra que manter as estatinas, independente da idade, traz benefícios e reduz riscos.

Referência: Rea F et al. Cardiovascular Outcomes and Mortality Associated With Discontinuing Statins in Older Patients Receiving Polyfarmacy. JAMA Netw Open. 2021; DOI: 10.1001/2021