Dapaglifozina em pacientes com doença renal crônica

Estudo clínico destaca o potencial benefício do antidiabético oral nos pacientes com o problema, carentes de melhores opções de tratamento

Mohamed Hassan/Pixabay
(foto: Mohamed Hassan/Pixabay )

Nos últimos anos, temos presenciado uma revolução muito intensa, na cardiologia, com o aparecimento de novas drogas para o tratamento da insuficiência cardíaca, do diabetes e da doença coronária. Agora, fomos ofertados com uma nova publicação da dapaglifozina em pacientes com insuficiência renal crônica, patologia muito prevalente nos pacientes cardiopatas em fase mais avançada e, principalmente, nos pacientes acometidos por diabetes e doença cardíaca.

A dapaglifozina é um antidiabético oral, com ação preferencialmente no rim (DAPA). Foi um agente inicialmente testado, com sucesso, para o tratamento do diabetes. Depois, novos estudos vieram demonstrar o grande efeito na melhora dos pacientes portadores de insuficiência cardíaca, patologia de alta morbidade e mortalidade, de difícil tratamento.

Já entre os cardiologistas de todo o mundo, é consenso atual a utilização da dapaglifozina em pacientes com insuficiência cardíaca, associada à terapia padrão. Uma publicação original, denominada DAPA-HF, demonstrou que a dapaglifozina, um inibidor do SGLT2 (um inibidor do cotransportador de sódio-glicose), reduziu o risco de piora da insuficiência cardíaca, diminuiu a mortalidade em pacientes com essa patologia, e que tinham dificuldades no bombeamento de sangue (ICFr).

No estudo DAPA-CKD, foram alocados aleatoriamente 4.304 pacientes, com doença renal crônica, com média de idade de 61 anos, de 386 centros de 21 países, para receberem dapaglifozina 10 mg (DAPA) ou placebo, em adição ao tratamento padrão - 2.906 desses pacientes (67,5%) eram diabéticos tipo 2.

Todos os pacientes do estudo apresentavam taxa de filtração do rins reduzida. O estudo foi interrompido com 2,4 anos de seguimento, em virtude do benefício da dapaglifozina. O desfecho primário (objetivo do estudo), composto de piora da função renal, ou evolução para estágio final da doença renal crônica, ou morte por doença renal crônica, ou morte cardiovascular, ocorreu em 197 pacientes do grupo DAPA, versus 312 do grupo placebo, ocasionando uma redução substancial na incidência da piora da doença renal crônica (CKD) em torno de 39%.

A proporção de pacientes que interromperam a medicação por eventos adversos foi similar nos dois grupos. Nem cetoacidose diabética e nem hipoglicemia grave foram observadas em pacientes sem diabetes tipo 2.

Os autores concluíram que DAPA reduziu o risco de agravamento da função renal ou morte por doença cardiovascular ou renal, em pacientes portadores de doença renal crônica, com e sem diabetes melitus.

Os resultados desse estudo clínico destacam o potencial benefício nos pacientes com doença renal crônica, carentes de melhores opções de tratamento. Para nós, cardiologistas, esse estudo é muito importante, pois nos dá mais segurança em podermos tratar os pacientes portadores de doença renal crônica, associada ao diabetes e à insuficiência cardíaca.

Referência:
Heerspink H al. Dapaglifozin in Patients with Chronic Kidney Disease - DAPA CKD ESC Congress 2020