Oncofertilidade garante à mulher a oportunidade de engravidar após o câncer

Especialidade é discutida após o diagnóstico da doença e oferece técnicas para realizar o sonho da maternidade após a cura

Carolina Vieira 15/07/2022 09:36
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O encaminhamento ao médico especialista em fertilidade deve ser feito antes de iniciar o tratamento (foto: Pixabay)

O diagnóstico de câncer impacta as mulheres nas mais diversas esferas e suas consequências podem perdurar após a conclusão do tratamento, por isso é essencial o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar ao longo da jornada. Um dos aspectos a ser considerado refere-se à fertilidade, que pode ser afetada pelo tipo de tumor ou pelo tratamento. 

Aproximadamente 19% dos novos casos de câncer em brasileiras ocorrem em pacientes de até 44 anos de idade. Alguns dos tumores mais incidentes em mulheres de 20 a 39 anos são: câncer de mama, colo uterino e ovário - sendo os tipos que podem causar infertilidade.


"Pacientes jovens, em idade reprodutiva, com alta expectativa de cura e que expressem o desejo de constituir uma família devem ser acolhidas e orientadas pelos profissionais envolvidos no tratamento do câncer e por um especialista em medicina reprodutiva sobre as alternativas de preservação da fertilidade. A oncofertilidade surgiu para mudar a realidade de mulheres em idade fértil que entre os efeitos colaterais de certos medicamentos quimioterápicos, radioterapia, histerectomia ou hormonioterapia, e até mesmo pela própria doença, perdiam a capacidade de ter filhos.

A técnica emprega abordagens capazes de preservar a fertilidade sem prejudicar o método curativo, visando proporcionar qualidade de vida a quem deseja engravidar futuramente", esclarece Dr. Antônio Eugênio Motta Ferrari, diretor técnico do Hospital Vila da Serra e especialista em reprodução assistida da Clínica Vilara.     

O encaminhamento ao médico especialista em fertilidade deve ser feito antes de iniciar o tratamento. É imprescindível esclarecer à paciente sobre os fatores que podem afetar o sistema reprodutor. Com relação a alguns tipos de câncer, como de mama e útero, que podem afetar a fertilidade, a equipe médica avalia o quão agressivo aquele tumor pode ser, seu estadio e a localização - se pode atingir os ovários. No caso do tratamento, são avaliados o potencial que cada quimioterápico tem sobre a fertilidade e sua duração; se as doses de radioterapia podem interferir no funcionamento dos ovários; e a programação cirúrgica, tendo em vista que alguns procedimentos pélvicos podem causar a perda definitiva da capacidade reprodutiva. 

Atualmente, os métodos disponíveis mais recomendáveis para proteger a fertilidade de mulheres diagnosticadas com câncer com menos de 40 anos, segundo Dr. Antônio Eugênio Motta Ferrari, são a criopreservação de óvulos ou dos embriões e a criopreservação de tecido ovariano. 

"O congelamento de óvulos consiste em retirar óvulos maduros, após estimulação injetável de ovulação, e congelá-los em nitrogênio líquido a temperaturas baixíssimas, a 195°C negativos. Na criopreservação de embriões, são retirados óvulos maduros que, antes de serem congelados, são fecundados por meio de fertilização in vitro (FIV) com o sêmen do parceiro ou de um banco de esperma. Já a criopreservação de tecido ovariano é uma técnica considerada experimental, na qual é retirada parte ou todo o tecido ovariano para o seu congelamento.

Futuramente, o tecido é descongelado e podem ser realizadas duas abordagens: maturação in vitro (MIV), ou seja, desenvolvimento dos folículos ovarianos em ambiente laboratorial, ou o tecido ovariano é transplantado para a pelve da própria paciente", explica o Dr. Antônio Eugênio Motta Ferrari.

O médico acrescenta que a criopreservação de tecido ovariano é uma possibilidade para meninas que ainda não entraram na puberdade e terão sua capacidade reprodutiva afetada em decorrência da doença ou do tratamento. "Crianças com leucemia podem entrar na menopausa aos 20 anos, por exemplo, por isso é importante esclarecer aos pais ou responsáveis sobre a oncofertilidade", informa.   

A oncofertilidade proporcionará a essa jovem o poder de decisão de constituir ou não uma família quando se tornar adulta. Para que isso aconteça é fundamental que as decisões sejam tomadas de forma multidisciplinar, com envolvimento de todos os profissionais responsáveis pelo tratamento do câncer, como cirurgião, oncologista, radioterapeuta, psicólogo, geneticista e especialista em reprodução assistida, colocando no centro a paciente e seus familiares.

Dr. Antônio Eugênio Motta Ferrari completa que os homens também podem ter sua fertilidade preservada antes de iniciar o tratamento do câncer, por meio da criopreservação de espermatozoides. "É uma técnica segura que permite o congelamento do sêmen antes de realização de cirurgias da próstata e pré-quimioterapia para posterior utilização", finaliza.