O Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil foi celebrado na última terça-feira (15/02) com o objetivo de conscientizar a população em relação aos tumores que podem atingir crianças e adolescentes. Mas quem é o responsável por tratar estes tumores? Para conversar a respeito, convidei a Dra. Bruna Salgado Rabelo, oncologista pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG e a acadêmica de medicina Clara Sobreira Lopes.
1- Como surgiu a oncologia pediátrica no Brasil?
A Oncologia Pediátrica no Instituto Nacional de Câncer iniciou suas atividades em 23 de agosto de 1957 com o propósito de tratar os casos de tumores malignos sólidos que ocorriam com maior freqüência na infância e, também, para criar as condições de atendimento e convivência social exigidos por esse grupo específico de doentes.
2- Câncer pediátrico tem cura?
O câncer infantil é raro quando comparado ao câncer do adulto, porém é a principal causa de morte por doença em crianças e adolescentes por todo mundo (8% do total). Entretanto, a sobrevida a longo prazo por câncer infantil melhorou significativamente nas últimas décadas. Hoje, na maioria dos centros desenvolvidos, as taxas de cura ultrapassam 80%. Vários fatores têm contribuído para essa melhora, como o cuidado especializado das crianças em unidades de oncologia pediátrica, melhoria no diagnóstico precoce e os avanços no tratamento. Entretanto, no Brasil muito ainda precisa ser feito para melhorarmos nossas taxas de sobrevida que giram em torno de 64%, sendo diferente para cada região brasileira. As desigualdades na atenção ao câncer infantil são inaceitáveis, constituindo um problema de saúde pública e uma ameaça ao desenvolvimento econômico e à estabilidade social.
3- Tem sido muito falado a respeito do retinoblastoma, após o diagnóstico desse tumor na filha de um importante apresentador. Esta é realmente uma doença tão relevante?
O retinoblastoma é um tumor maligno ocular, ou seja, um câncer que afeta os olhos, mais especificamente a retina. Pode acometer apenas um olho ou ambos em crianças menores de 5 anos de idade. É um câncer raro, porém, é considerado a malignidade ocular mais comum na infância. Conhecer seus sinais e sintomas é crucial para o encaminhamento adequado para um centro de referência, pois há uma forte associação entre a extensão da doença ao diagnóstico e tempo do início dos sintomas. A doença avançada pode levar a perda da visão, perda ocular e até o óbito.
4- Todas as neoplasias pediátricas são hereditárias?
Em geral, as neoplasias pediátricas não são hereditárias, com raras exceções como pacientes com Síndrome de Li-Fraumeni e o retinoblastoma que pode ser esporádico ou hereditário. Quando hereditário ocorre em células retinianas que acumularam mutações de perda de função do gene RB1 herdado pelos pais. A história familiar de retinoblastoma é observada em aproximadamente 10% dos casos. O aconselhamento genético para pacientes com suspeita de portar um gene mutante causador de algum tipo de câncer hereditário pode contribuir para rastreamento e diagnóstico mais precoce e proporcionar uma melhoria em sua qualidade de vida.
5- Como melhorar a abordagem dos tumores pediátricos no Brasil?
Apesar do aumento da incidência do câncer infantil , que pode estar associado a melhorias dos registros de base populacional e aumento nos diagnósticos, essa condição é muitas vezes negligenciada quando se trata de realizar esforços para seu controle. No Brasil, assim como em países em desenvolvimento, as taxas de sobrevida são piores comparadas a países desenvolvidos e muitos fatores são os contribuintes para isso.
Para buscarmos melhorar a chance de cura de nossas crianças é necessária a realização de campanhas educativas para que pais, cuidadores, professores possam identificar os sinais e sintomas do câncer e procurem atendimento o mais rápido possível quando há suspeita de neoplasia; A capacitação de profissionais de saúde para o conhecimento dos sinais e sintomas do câncer infantil, que muitas vezes podem ser confundidos com de doenças comuns na infância, pois quanto mais cedo os sintomas forem identificados, maiores a chance de cura; Melhorias na rede de cuidado para que o diagnóstico e transferência para centros de tratamento especializados sejam realizados rapidamente; Por último, é necessário que nos centros de tratamento seja realizada uma assistência médica de qualidade com maior acesso a tecnologias para diagnósticos e tratamentos específicos moleculares.