O Dia Mundial dos Cuidados Paliativos e a importância da equidade

Trata-se da prevenção e alívio do sofrimento, pela identificação precoce e enfrentamento impecável da dor e outros males físicos, psicossociais e espirituais

Carolina Vieira 15/10/2021 06:00
Roman Kraft/Unsplash
(foto: Roman Kraft/Unsplash)

Para quem não sabe, os cuidados paliativos são uma abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos pacientes e familiares que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras à vida. Busca-se a prevenção e alívio do sofrimento, por meio da identificação precoce e tratamento impecável da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais. Para conversar a respeito, convidei a Dra. Marcela Mascarenhas, médica oncologista e especialista em Cuidados Paliativos do Grupo Oncoclínicas.

O que significou para você o dia Mundial dos Cuidados Paliativos?

No dia 9 de outubro de 2021, foi comemorado o dia Mundial dos Cuidados Paliativos. Esse ano, o tema da comemoração foi "Não deixe ninguém para trás - Equidade no acesso aos Cuidados Paliativos". E o que significa a equidade nesse cenário? Ela se evidencia no atendimento aos pacientes de acordo com as suas necessidades, oferecendo mais a quem mais precisa e menos a quem requer menos cuidados, alocando os recursos exatos para alcançar um resultado igualitário.

A grande questão que fica atualmente é: até que ponto essa equidade vem sendo efetivamente exercida? Sabe-se que das 40 milhões de pessoas que precisam de cuidados paliativos, somente 14% tem acesso. Costumo brincar que encontrar um profissional paliativista é como encontrar uma agulha dourada em um palheiro, porque infelizmente ainda estamos muito aquém da nossa real necessidade.

Quais os desafios em atender um paciente em cuidados paliativos?


As nossas consultas não devem ter a produtividade pautada em números de pacientes atendidos, e sim na qualidade desse atendimento. É necessário garantir que o paciente, quando saiu da consulta, esteja acolhido. Que ele saiba que, caso ele tenha dor, que a dor dele vai melhorar. Que a família dele saiba que, mesmo no momento mais difícil da vida deles, eles não estarão sozinhos. Que esse sofrimento vai ser cuidado por todos nós da equipe. Para o paciente diante de uma doença que esteja causando enorme sofrimento, ter alguém que se importe com isso é uma das coisas que mais trazem muita paz e conforto. Precisamos fazer parte dos instrumentos que transformam a aflição em alívio.

Quai as propostas de implementação dos cuidados paliativos na saúde pública?

Sabe-se que o Governo de Minas estabeleceu diretrizes para cuidados paliativos na saúde pública, porém em muitos locais ainda não houve apoio e nem capacitação dos hospitais para garantir essa oferta. A lei é clara, mas percebo que quem trabalha no SUS vive na prática uma realidade muito diferente do que diz a lei. Muitos serviços acabam contando com a "boa vontade" dos profissionais de saúde em atuar como paliativistas, sem dar subsídios para tal. Fazem-se as leis, mas infelizmente muitas vezes não são capazes de garanti-las. Vejo muita diferença no acesso e na valorização dos cuidados paliativos nos serviços privados em que atuo, onde há investimento adequado em recursos humanos, o que muitas vezes não ocorre no sistema público de saúde. E como dizia Cicely Sauders, uma das nossas pioneiras: "Cuidado paliativo não é uma alternativa de tratamento, e sim uma parte complementar e vital de todo o acompanhamento do paciente".

Uma mensagem final sobre a atual campanha de cuidados paliativos

O objetivo desse tema para a campanha mundial é fazer um apelo para o acesso equitativo até 2030. Então a mensagem que eu gostaria de deixar aqui é que precisamos lutar para uma mudança. Sem dúvida nenhuma, a lei é uma grande conquista para Minas Gerais, mas precisamos também garantir que os profissionais da saúde vão conseguir atuar e que os pacientes, independente da sua condição financeira, realmente vão ter acesso aos cuidados paliativos.