Saúde Plena

Oncologia

Como pacientes com câncer de cabeça e pescoço devem se proteger da COVID?


Pacientes oncológicos fazem parte do grupo de risco da COVID-19 e, portanto, os mesmos e seus acompanhantes devem ter cuidados redobrados durante a pandemia. Por acometer as vias respiratórias, esse assunto tem particular relevância quando falamos de pacientes com tumores de cabeça e pescoço, como, por exemplo, câncer de boca e garganta. Para conversarmos a respeito, convido o Prof. Gustavo Meyer, cirurgião de cabeça e pescoço.


Como adaptar o uso de máscaras de proteção para o paciente com traqueostomia?
A traqueostomia é uma comunicação da pele do pescoço com o interior da traqueia, realizada cirurgicamente, que permite ao paciente respirar com o ar que passa diretamente por esse pertuito.

O que poucos sabem é que pacientes com câncer na região de cabeça e pescoço, sobretudo o câncer de laringe, órgão que contém as pregas vocais, necessitam muitas vezes de traqueostomia definitiva. Ou seja, são pessoas que, embora possam estar curadas da doença que motivou o tratamento, apresentam sequelas relacionadas à destruição de tecidos causada pelo câncer e relacionadas à necessária remoção de estruturas, que implicam na necessidade de traqueostomia irreversível.

Muitas dessas pessoas têm um estilo de vida muito próximo do normal, apresentando total independência para suas atividades rotineiras. Por isso, é fundamental que todo paciente traqueostomizado tenha consciência de que a traqueostomia representa uma porta de entrada para o coronavírus. O risco de infecção por essa via pode ser minimizado com as seguintes medidas:

- Uso de filtro de traqueostomia, compatível com alguns modelos de cânulas disponíveis no mercado, ou filtro adesivo para estoma (no caso de pacientes laringectomizados que não utilizam cânula de traqueostomia). Esses recursos são disponibilizados pelos fabricantes de cânulas de traqueostomias e apresentam o inconveniente do custo, que pode inviabilizar o uso para grande parte da população de traqueostomizados.


- Uso de máscara cirúrgica sobre o orifício da traqueostomia, bem fixada ao pescoço. Devem ser evitadas as máscaras de pano, devido à menor capacidade de filtragem, bem como as máscaras (respiradores) N95/FFP2, por não se adaptarem corretamente à região cervical, perdendo assim a capacidade de filtragem. Pode haver benefício em se utilizar duas máscaras cirúrgicas, sobrepostas, o que conferiria maior proteção à via aérea.

Além de possibilitar filtragem de partículas, a máscara sobre a traqueostomia contribui para evitar a manipulação dessa região diretamente com as mãos potencialmente contaminadas. É de fundamental importância a higienização das mãos antes e depois de se manipular a máscara e a cânula de traqueostomia.

O uso da máscara sobre a traqueostomia serve também para proteção das pessoas que convivem com o paciente traqueostomizado. O uso de máscara não deve se restringir à cobertura da traqueostomia - o paciente deve também utilizar a máscara facial, pois mesmo que a boca e o nariz não sejam, nesses casos, utilizados como via aérea, podem ser porta de entrada da infecção quando se leva a mão à face.


Um detalhe importante diz respeito ao exame diagnóstico do PCR, nessa população, sempre que for indicado: deve ser realizado o swab na nasofaringe e, com outro material, o swab deve ser realizado também na traqueostomia, por profissional adequadamente treinado.

Diante do agravamento da pandemia, há algum tipo de tumor para o qual o adiamento de cirurgias causaria menos impacto?
Depois de um ano de isolamento social, muitos pacientes têm sofrido atraso no diagnóstico de câncer. Na região de cabeça e pescoço, são sinais de alerta para essa doença: massa ou caroço no pescoço, ferida na boca que não cicatriza, rouquidão persistente, dificuldade de deglutição, perda de peso.

Além do atraso no diagnóstico, nas últimas semanas temos vivido o drama do colapso da rede hospitalar, que por vezes obriga esses pacientes a aguardarem por vários dias a disponibilidade de um leito para internação e tratamento cirúrgico.


Essa espera atinge os pacientes de forma desigual: no contexto do câncer de cabeça e pescoço, as neoplasias da glândula tireóide são, em sua maioria, doenças de crescimento lento, que sofreriam pouco ou nenhum prejuízo no prognóstico devido ao atraso de algumas semanas no tratamento.

O mesmo comportamento indolente da doença pode ser observado em carcinoma basocelular de pele e em alguns tumores de glândulas salivares. Todavia, a doença maligna mais comum nessa região é o carcinoma de células escamosas de vias aerodigestivas superiores (câncer de boca, faringe, laringe).

Para o tratamento dessa doença, em muitos casos, o atraso de algumas semanas pode representar a diferença entre um tratamento conservador ou uma cirurgia mutilante, com prejuízo funcional e diminuição da chance de cura.

Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: carolinavieiraoncologista@gmail.com