"Doutora, estou com uma anemia. Ela não melhora com o tratamento, por quê? Preciso investigar um câncer? Anemia pode evoluir para leucemia?"
Com certeza essas são as perguntas mais ouvidas pelos hematologistas, quando atendem pacientes com anemia. Além disso, a ocorrência de anemia em pacientes oncológicos é muito comum.
Pode ser associada ao câncer ou aos tratamentos, especialmente os quimioterápicos. Para esclarecermos melhor sobre o tema e alguns mitos envolvidos, convidei a doutora Letícia Rocha Borges, hematologista do Grupo Oncoclínicas e professora da Unifenas-BH.
Anemia não é uma doença, e sim uma síndrome, com várias manifestações clínicas (fraqueza, cansaço, tonteira, zumbido, entre outros), associadas a um quadro laboratorial de diminuição das hemácias ou da hemoglobina, detectada no exame chamado hemograma.
As hemácias são os glóbulos vermelhos e a hemoglobina é a proteína que fica dentro das hemácias, responsável por carregar o oxigênio, que é levado para todos os nossos órgãos e tecidos.
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São várias as causas de anemia e, por isso, anemia em si não é uma doença - é um "sintoma". Como a febre, por exemplo. Você não trata simplesmente uma febre, sem buscar a causa. Se a anemia é por falta de ferro, é chamada ferropriva, e para esse tipo tratamos com suplementação de ferro.
Se a anemia é por falta de vitamina B12, chamamos de anemia megaloblástica e, nesse caso, não resolve tratar com ferro. Portanto, para tratar uma anemia, precisamos saber e tratar a causa.
Um mito: só se trata com sulfato ferroso a anemia que é por deficiência de ferro. Nenhum outro tipo de anemia irá responder a esse tipo de tratamento, e também não resolve ir à farmácia, comprar e começar a tomar a "vitamina". Se o diagnóstico da anemia estiver errado, o tratamento não mostrará resultado e pode até levar a acúmulo desnecessário de ferro no organismo.
Dentre as inúmeras causas de anemia, temos as chamadas carenciais, como a deficiência de ferro ou de vitamina B12; as hereditárias (existem muitas anemias por defeitos nas hemácias que nascemos com eles); as por destruição das hemácias por anticorpos (que podem estar associadas a outras doenças imunológicas); e as chamadas anemias de doenças crônicas (como na doença renal crônica e no hipotireoidismo).
Outros dois tipos importantes de anemias são as conhecidas como anemias da inflamação, que parecem com a anemia por falta de ferro, mas que podem estar associadas a neoplasias ocultas ou a doenças infecciosas ou inflamatórias, além das anemias em que há um defeito na produção dentro da "fábrica", a medula óssea.
Essas anemias são chamadas de mielodisplasias. Muito frequentes entre os idosos, pois têm relação com o envelhecimento das células, são os tipos de anemias que podem evoluir para leucemia. Outro mito: apenas alguns tipos específicos de anemias evoluem para leucemia, e não todas elas.
Concluindo: está com anemia? Não faça uso inadequado de medicação e não fique convivendo com ela como se não fosse nada. Procure um clínico ou um hematologista para receber diagnóstico e, por fim, tratamento corretos.
Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: carolinavieiraoncologista@gmail.com