O momento atual é de grandes incertezas. Não sabemos quando será o fim da pandemia e quando poderemos retornar nossas vidas de onde paramos - se é que paramos mesmo.
Num momento inicial, tratamentos médicos foram descontinuados e diagnósticos atrasados, até que pudéssemos retomar o controle. Nesse cenário, as urgências médicas continuaram sendo atendidas, bem como as pacientes oncológicas e suas demandas, incluindo os tratamentos da preservação da fertilidade.
Para falar sobre o tema, convidei nesta semana a Dra. Laura Maia, especialista em Reprodução Humana pelo HC-UFMG e médica do Corpo Clínico da ProCriar Medicina Reprodutiva.
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Para falar sobre o tema, convidei nesta semana a Dra. Laura Maia, especialista em Reprodução Humana pelo HC-UFMG e médica do Corpo Clínico da ProCriar Medicina Reprodutiva.
''Segundo informações do INCA (Instituto Nacional do Câncer), a estimativa de novas neoplasias em mulheres, diagnosticadas em 2020, é de cerca de 316.000. Muitas ainda são crianças, adolescentes ou adultas jovens, o que torna a informação de possíveis riscos sobre sua fertilidade ainda mais importante. Esses riscos podem estar associados ao tratamento, incluindo medicações, radioterapia e cirurgias que possam acometer os ovários.
Uma vez que o futuro reprodutivo dessa paciente pode ser modificado após o tratamento oncológico, é direito de toda paciente ter acesso às informações sobre as opções de preservação da fertilidade. A Sociedade Americana de Oncologia Clínica e a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva recomendam que as mulheres com diagnóstico de câncer devam ser referenciadas para um especialista em preservação da fertilidade, sempre que possível, antes de iniciarem os seus tratamentos oncológicos.
O atendimento pelo profissional da área de reprodução humana deve ser feito no menor espaço de tempo. As pacientes serão orientadas com relação à idade, à reserva ovariana, às técnicas disponíveis e ao tempo necessário para os procedimentos, assim como as taxas de gravidez em tratamentos futuros que utilizam o material que foi criopreservado (congelado).
Os tratamentos atuais incluem:
- Congelamento de embriões: indicado para mulheres que tenham parceiro. A paciente é submetida a estimulação da ovulação, coleta de óvulos e realização da fertilização in vitro, com congelamento dos embriões, para uso futuro. As taxas de gravidez são estimadas pela idade da mulher, no momento do tratamento.
- Congelamento de óvulos: indicado para todas as mulheres no período reprodutivo e com boa reserva ovariana. Necessita de estimulação ovariana para coleta dos óvulos maduros que serão congelados. Esses óvulos, quando utilizados, serão para realizar a fertilização in vitro. A idade da mulher no momento do congelamento e o número de óvulos congelados são os fatores mais importantes para o maior sucesso da taxa de gravidez.
- Congelamento de tecido ovariano: é a técnica de preservação de fertilidade mais moderna e única proposta para meninas, que ainda não atingiram a puberdade, e mulheres que não podem atrasar o tratamento oncológico. A criopreservação do tecido ovariano representa uma maneira de preservar milhares de folículos ovarianos ao mesmo tempo. Obtém-se o tecido ovariano por cirurgia, retirando pequenos fragmentos do ovário e congelando. O transplante do tecido ovariano para a mulher no momento de engravidar tem sido um método bem-sucedido, mas há poucos estudos até o momento.
- Bloqueio ovariano com medicação: o tratamento medicamentoso para proteção ovariana durante a quimioterapia pode ser oferecido para algumas pacientes específicas, entretanto não deve ser o método de escolha para aquelas que tem possibilidade de realização das técnicas de congelamento.
- Realocação dos ovários: deve ser considerada em pacientes que serão submetidas a radioterapia da região pélvica. Os ovários são deslocados da localização atual, através de cirurgia, para outra região do abdome, diminuindo assim os riscos de serem acometidos.
O cuidado reprodutivo faz parte do tratamento padrão de todos os pacientes oncológicos. Questões relacionadas ao custo do tratamento, acesso e tempo hábil para as técnicas de preservação da fertilidade podem inviabilizar o tratamento ideal. Nesse contexto, cabe ressaltar que nem todas as pacientes submetidas ao tratamento oncológico terão o mesmo risco de infertilidade. A orientação sobre quais seriam esses riscos e as possibilidades de preservação da fertilidade podem dar à paciente o direito de escolha, reduzir seu sofrimento futuro e melhorar sua qualidade de vida.
Nesse momento da pandemia de COVID-19, é importante dar continuidade a esses tratamentos. A preservação de fertilidade em pacientes oncológicas é considerada uma urgência, portanto o atendimento continua sendo realizado, com todos os cuidados necessários, reduzindo os riscos de exposição dos pacientes e dos profissionais.''
Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: carolinavieiraoncologista@gmail.com