Nas semanas anteriores abordamos problemas emergenciais como o surto do novo Coronavirus e os riscos ocasionados pelas enchentes. Divulgamos medidas importantes para prevenir os problemas presentes e imediatamente ameaçadores.
A nossa intenção hoje é retornar às estratégias de prevenção das Infecções Hospitalares , assunto que temporariamente interrompemos pelos problemas emergenciais de saúde pública mundial.
Abordaremos uma das estratégias consideradas fundamentais e básicas para prevenção das Infecções Relacionadas a Assistência (IRAS): as vacinas.
Vacinas previnem infecções em todas as faixas etárias e consequentemente internações hospitalares e as infecções decorrentes de procedimentos necessários a preservar a vida de pacientes gravemente enfermos.
Além das infecções, as vacinas evitam infarto agudo do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais, os quais ocorrem pelo aumento de mecanismos inflamatórios e trombogênicos associados aos processos infecciosos. Infarto e acidentes vasculares cerebrais são responsáveis por internações prolongadas em terapia intensiva, uso de acessos venosos e arteriais, intubação e ventilação mecânica, além do uso de antimicrobianos de largo espectro para tratamento de infeções relacionados a esses procedimentos. Bactérias altamente resistentes são selecionadas como resultado da tentativa de controlar essas infecções e manter a vida.
Portanto, a raiz do problema é o que leva as pessoas a serem internadas. A prevenção da hospitalização começa com medidas de saúde pública preventivas que nascem com os cuidados básicos como saneamento, condições de trabalho adequadas, acesso a educação e assistência a cuidados básicos de saúde, sendo uma das mais contundentes a vacinação.
A vacinação é o caminho para a prevenção de diversas doenças, tendo grande impacto na saúde mundial. As descobertas e conquistas relacionadas à imunização dos povos estão entre os maiores avanços de saúde pública já tidos pela humanidade; com exceção da água potável, nenhuma outra modalidade (nem mesmo os antibióticos) teve tanto resultado na redução da mortalidade e no crescimento populacional.
Foi após uma série de campanhas insistentes de vacinação que alcançamos a erradicação de varíola no mundo, que eliminamos a poliomielite de quase todos os países e que fomos capazes de controlar doenças como o sarampo e a rubéola, entre outras. Além disso, foi graças à imunização que a mortalidade infantil caiu drasticamente em quase todos os cantos do planeta.
Evidentemente, ainda ocorrem muitas mortes e sequelas devido a doenças que podem ser prevenidas através de vacinas, o que demonstra que apesar de tudo que já foi conseguido ainda temos muito caminho para avançar e muitos desafios para derrubar.
Nosso país deve se orgulhar de ter um dos programas públicos mais elogiáveis quando o assunto é imunização. Nosso Programa Nacional de Imunização é referência em todo o mundo, assim como a assistência que damos aos portadores do vírus HIV. Constantemente são incluídas novas vacinas no nosso calendário, além de elas serem distribuídas para toda a população, o que mostra que o programa não apenas se renova, mas também se preocupa com seu alcance. Entre as mais recentes conquistas no desenvolvimento das vacinas estão as para pneumonia, meningites, diarreias, além das que são voltadas para a gripe e seus grupos de risco, como idosos e grávidas.
Os avanços nunca param e constantemente surgem vacinas novas e ainda melhores, oferecendo mais segurança e mais proteção contra os males que desejam erradicar. Recentemente a vacina contra a dengue foi aprovada, mas temos também o desejo que se criem outras tais como vacinas contra a malária, a AIDS, contra as bactérias multirresistentes, e outras doenças que prejudicam tanto o nosso povo. É bem provável que nesse século surjam ainda mais vacinas.
Além de criar novas vacinas, com mais poder de prevenção, também precisamos fazer com que elas cheguem a todos, em todas as regiões do planeta, inclusive as mais pobres, onde esses tipos de doenças causam mais sofrimento.
Vacinação, aliás, não é uma necessidade exclusiva de crianças, mas também de adolescentes, adultos e grupos de risco como gestantes, idosos e viajantes, que são visados por um programa de funcionamento bastante específico para eles. Todos os membros de uma família devem estar vacinados, isso é muito importante!
Devemos reconhecer sempre tudo o que avançamos e conquistamos ao longo de poucos séculos, mas não podemos nos acomodar e devemos sempre buscar prover mais imunização de qualidade, para cada vez mais pessoas, para que todos estejamos seguros de maneira justa e igual.
O desenvolvimento de uma nova vacina exige pesquisas complexas que do início ao fim, demoram cerca de 10 a 20 anos, com gastos acima de US$1 bilhão. Dúvidas e polêmicas sobre temas relacionados às imunizações sempre existirão, pois opiniões distintas sobre o mesmo assunto fazem do debate acadêmico parte fundamental do progresso da ciência e do conhecimento.
Novas vacinas, melhores abordagens e distintas estratégias de prevenção sempre serão alvo de discussões, muitas vezes desafiadoras e controversas, justamente por ainda não dispormos de uma única resposta para todos os problemas que temos pela frente.
Curiosamente, as vacinas são vítimas de sua própria eficácia. Ao controlarem doenças graves, fazem com que as pessoas ao longo dos anos se esqueçam da importância do problema não mais existente. Dessa forma, param de se vacinar e passam a focar mais nos eventos adversos e desconforto momentâneo das vacinas que na doença que elas evitam.
Neste cenário, as baixas coberturas vacinais criam condições para o reaparecimento ou aumento de casos de doenças já controladas. Nada mais danoso para a população que a falta de memória, principalmente a imunológica.
Na sequência, apresentaremos as principais vacinas para as diversas faixas de idade. Confira suas vacinas, proteja-se e cuide daqueles que você mais ama. Veja aqui o Calendário de Vacinação.
Nas próximas semanas, seguiremos apresentando as principais formas de prevenirmos doenças infecciosas na comunidade e nos hospitais.
Vacinar é preciso...
A coluna desta semana contou com a colaboração inestimável da Joana Starling, mãe da Sophia e Rafaela, minhas filhas.
Se você tem dúvidas, perguntas e sugestões, mande para cstarling@task.com.br