Nos últimos seis meses, o mundo inteiro se encontra em estado de choque e impactado com o surgimento de uma pandemia e uma crise sanitária global de grandes proporções. A maioria das pessoas não tem lembrança de algo semelhante pois não tem idade suficiente para ter passado por situação como a geração anterior vivenciou 100 anos atrás.
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Segundo a Federação Internacional de Diabetes, 9 em 100 adultos em todo o mundo em 2015 apresentavam diabetes mellitus tipo 2 (DM2) que já é um problema de saúde pública global.
A crescente prevalência do DM2, juntamente com suas potenciais graves complicações, causam uma imensa repercussão seja pelo sofrimento individual dos pacientes com as consequências da doença em si mas também em toda a sociedade por seu impacto econômico. Portanto, é importante entender melhor a base etiológica do DM2 para estabelecer estratégias de prevenção. Nos estudos epidemiológicos, um grande desafio é a distinção entre associação e causalidade, e os ensaios clínicos randomizados (ECR) são considerados padrão-ouro para essa investigação. A aplicação de ECR, no entanto, é cara, longa e em muitas situações não é factível pela violação de preceitos éticos decorrentes da deliberada exposição a fatores de risco nocivos. Nesse contexto, a “Randomização Mendeliana (RM) tem sido uma abordagem alternativa para estimar a relação causal entre exposições.
Em epidemiologia, surgiu esse conceito chamado de “Randomização Mendeliana” descrito pela primeira vez por Gray e Wheatley em 1991. Essa é uma metodologia que utiliza a variação medida nos genes que tem função conhecida de uma patologia, para examinar o efeito causal de uma exposição modificável a uma determinada doença e tem sido utilizado nos estudos científicos. Esse tipo de desenho de estudo é um método para a obtenção de estimativas imparciais dos efeitos de uma provável variável causal sem a realização de um ECR tradicional. Estudo de RM tem um controle poderoso para causalidade retrógrada e remoção de vários fatores de confusão que, de outra forma atrapalhariam os estudos epidemiológicos. Os achados obtidos do modelo desses estudos podem ser úteis para elaboração de novas hipóteses de pesquisa ou para o estudo de causalidade entre fatores de risco e desfechos de saúde.
Estudos observacionais têm revelado um enorme número de fatores de riscos possíveis para o DM2. Entretanto, ainda não está muito claro se as associações encontradas até o momento podem ser consideradas causais. Agora em setembro de 2020 foi publicado um estudo no periódico Diabetologia usando a metodologia de “randomização Mendeliana”. Os autores suecos do Instituto Karolinska e da Universidade de Uppsala partiram então dessa pergunta, se realmente os fatores de risco conhecidos até o momento para DM2 nos estudos anteriores observacionais são de fato causas associadas para o risco da doença.
Neste novo estudo, após uma ampla revisão da literatura publicada até agora, eles conseguiram identificar 170 possíveis fatores de risco. Desses fatores de risco 97 deles estavam disponíveis para utilizar as variantes genéticas como variáveis instrumentais. Os autores encontraram evidências de associações causais entre 34 exposições (19 fatores de risco e 15 fatores de proteção) e DM2.
Neste novo estudo, após uma ampla revisão da literatura publicada até agora, eles conseguiram identificar 170 possíveis fatores de risco. Desses fatores de risco 97 deles estavam disponíveis para utilizar as variantes genéticas como variáveis instrumentais. Os autores encontraram evidências de associações causais entre 34 exposições (19 fatores de risco e 15 fatores de proteção) e DM2.
Interessantemente, a insônia foi identificada como um novo fator de risco. O tempo de sono curto e má qualidade do sono estão associados com alimentação menos saudável e padrões de alimentação irregulares, incluindo o de pular o café da manhã, que foi relacionado a um risco aumentado de DM2 neste estudo de RM e em estudos observacionais anteriores.
Os outros 18 fatores de risco foram depressão, pressão arterial sistólica, iniciação ao tabagismo, tabagismo ao longo da vida, consumo de café (cafeína), níveis de plasmáticos de isoleucina, valina e leucina, enzima do fígado alanina aminotransferase, índice de massa corporal (IMC) na infância e na idade adulta, porcentagem de gordura corporal, massa de gordura visceral, frequência cardíaca em repouso e quatro ácidos graxos do plasma.
As 15 exposições associadas a uma diminuição do risco de DM2 foram alanina plasmática, colesterol HDL e colesterol total, idade na menarca (primeira menstruação), níveis de testosterona, níveis de globulina de ligação de hormônio sexual (ajustados para o IMC), peso ao nascer, altura na idade adulta, massa corporal magra (para mulheres), quatro ácidos graxos plasmáticos, 25-hidroxivitamina D circulante e anos de escolaridade.
Os outros 18 fatores de risco foram depressão, pressão arterial sistólica, iniciação ao tabagismo, tabagismo ao longo da vida, consumo de café (cafeína), níveis de plasmáticos de isoleucina, valina e leucina, enzima do fígado alanina aminotransferase, índice de massa corporal (IMC) na infância e na idade adulta, porcentagem de gordura corporal, massa de gordura visceral, frequência cardíaca em repouso e quatro ácidos graxos do plasma.
As 15 exposições associadas a uma diminuição do risco de DM2 foram alanina plasmática, colesterol HDL e colesterol total, idade na menarca (primeira menstruação), níveis de testosterona, níveis de globulina de ligação de hormônio sexual (ajustados para o IMC), peso ao nascer, altura na idade adulta, massa corporal magra (para mulheres), quatro ácidos graxos plasmáticos, 25-hidroxivitamina D circulante e anos de escolaridade.
Foram vistas 8 associações que permaneceram após o ajuste para o IMC na idade adulta e, além disso, foram identificados 21 fatores de risco sugestivos, tais como consumo de álcool, omissão do café da manhã, cochilos diurnos, sono curto, sódio urinário (que infere o consumo dietético de sal pelas pessoas) e certos aminoácidos e fatores inflamatórios. Por exemplo, as evidências encontradas sugestivas de que a associação de maior consumo de café e cafeína estariam associados ao aumento risco de DM2, não persistiu após o ajuste para o IMC. Em um primeiro olhar, esses resultados poderiam parecer contraditórios aos de estudos observacionais, que têm mostrado consistentemente uma associação inversa entre o consumo de café e a incidência de DM2. No entanto, na análise RM os genes que se associaram a um maior consumo de cafeína estão relacionados com a aceleração do metabolismo da cafeína e levam a redução significativa dos níveis sanguíneos de cafeína e portanto, especula-se que o nível mais elevado de cafeína em circulação poderia de fato ser protetor para DM2.
Neste estudo, portanto, em 7 de 15 exposições, as associações com o DM2 foram atenuadas, mas permaneceram significativas após o ajuste para o IMC na idade adulta. Assim juntamente com os efeitos independentes do IMC observados, como para depressão e nível de escolaridade, implicam que a adiposidade é um forte fator de risco para DM2, mas também que o controle do IMC poderia não prevenir totalmente o DM2.
Diante dos resultados identificados neste tipo de estudo algumas estratégias de prevenção para DM2 deveriam ser considerados. Uma vez que há um grande efeito de obesidade no DM2 e um aumento global carga da obesidade, uma ênfase no controle de peso via escolhas alimentares mais saudáveis e atividade física são urgentemente necessárias. Simultaneamente, outras estratégias com foco em outros fatores de risco também merecem atenção, como melhorar o estado de saúde mental e qualidade do sono, melhora do nível de escolaridade e do peso ao nascimento além da defesa de ações antifumo em todo o mundo.
Tem dúvidas ou sugestões? Mande email para arnaldoschainberg@terra.com.br
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