Quando as primeiras mortes por COVID-19 começaram a ser divulgadas amplamente no início da epidemia do coronavírus no Brasil, chamou atenção a descrição de alguns casos, como em pacientes jovens que não preenchiam o perfil dos pacientes de risco.
Me lembro quando uma notícia foi muito divulgada no dia primeiro de abril, de que o paciente Matheus, de 23 anos, tinha sido a segunda morte relatada no Rio Grande do Norte como sendo um dos mais jovens que até então tinha padecido dessa nova doença.
A notícia o descrevia como “o jovem que cresceu dentro de uma fábrica de bolos artesanais da família em Natal e sonhava em ser chef e abrir um bistrô”. Estampada na matéria, a triste imagem daquele jovem cheio de vida, ceifada precocemente.
Mas a foto não deixava de aflorar que se tratava de um jovem obeso, característica cada vez mais presente na nossa sociedade atual.
É uma triste realidade constatar que a obesidade, que apresenta estatísticas alarmantes da alta prevalência registradas no mundo e no Brasil relacionada a tantos outros problemas de saúde, ainda possa estar entre os fatores de risco para complicação grave pela COVID-19.
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Mas a foto não deixava de aflorar que se tratava de um jovem obeso, característica cada vez mais presente na nossa sociedade atual.
É uma triste realidade constatar que a obesidade, que apresenta estatísticas alarmantes da alta prevalência registradas no mundo e no Brasil relacionada a tantos outros problemas de saúde, ainda possa estar entre os fatores de risco para complicação grave pela COVID-19.
Durante todo o desencadear da pandemia COVID-19, muito se tem falado e escrito sobre vários aspectos, aprendidos com um volume impressionante de publicações chegando a nós diariamente sobre essa doença nova e desconhecida, e cada vez mais dados vão sendo acrescentados a esse quebra cabeça.
A obesidade, sabidamente já está associada a vários riscos à saúde, como doença cardiovascular, diabetes mellitus, hipertensão arterial e alguns tipos de câncer e há muito tempo é reconhecido como fator independente para predisposição para infecção pulmonar por H1N1.
Em publicações recentes, está ficando mais claro que obesidade pode ser também um dos maiores fatores de risco para complicações graves pela COVID-19, principalmente entre os pacientes mais jovens. Consideramos pessoas obesas aquelas com índice de massa corporal (IMC) maior que 30 kg/m2, classificado como obesidade grau I; entre 35-40, como obesidade grau II; e acima de 40 como obesidade grau III (ou obesidade mórbida).
A obesidade, sabidamente já está associada a vários riscos à saúde, como doença cardiovascular, diabetes mellitus, hipertensão arterial e alguns tipos de câncer e há muito tempo é reconhecido como fator independente para predisposição para infecção pulmonar por H1N1.
Em publicações recentes, está ficando mais claro que obesidade pode ser também um dos maiores fatores de risco para complicações graves pela COVID-19, principalmente entre os pacientes mais jovens. Consideramos pessoas obesas aquelas com índice de massa corporal (IMC) maior que 30 kg/m2, classificado como obesidade grau I; entre 35-40, como obesidade grau II; e acima de 40 como obesidade grau III (ou obesidade mórbida).
Dados publicados na revista Clinical Infectious Diseases no dia 9 de abril 2020 sobre pacientes acometidos de Covid-19 em Nova Iorque mostram que, entre aqueles com menos de 60 anos, a obesidade tem duas vezes mais chances de resultar em hospitalização e também de aumentar significativamente a probabilidade de uma pessoa acabar em terapia intensiva.
A obesidade em pessoas mais jovens parece ser um fator de risco não reconhecido anteriormente para admissão hospitalar e necessidade de cuidados intensivos.
Em outro trabalho divulgado dia 11 de abril mas ainda em fase de pré-impressão e revisão do texto por pares, de um outro hospital também de Nova Iorque, mostrou que, com exceção da idade avançada, a obesidade (IMC> 40) teve a associação mais forte com a hospitalização por COVID-19, aumentando o risco em mais de seis vezes.
A obesidade em pessoas mais jovens parece ser um fator de risco não reconhecido anteriormente para admissão hospitalar e necessidade de cuidados intensivos.
Em outro trabalho divulgado dia 11 de abril mas ainda em fase de pré-impressão e revisão do texto por pares, de um outro hospital também de Nova Iorque, mostrou que, com exceção da idade avançada, a obesidade (IMC> 40) teve a associação mais forte com a hospitalização por COVID-19, aumentando o risco em mais de seis vezes.
No mesmo dia 9 de abril, autores franceses em outra publicação na revista Obesity apontavam na mesma direção, uma alta frequência de obesidade entre pacientes internados em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e com a gravidade da doença aumentando com o aumento do IMC.
Nesse estudo francês, foram examinados 124 pacientes consecutivos admitidos em terapia intensiva com COVID-19 em um único hospital de Lille, que foram comparados com um grupo de controle histórico de 306 pacientes internados na UTI no mesmo hospital por doença respiratória aguda grave não relacionada ao COVID-19 em 2019.
Obesidade e obesidade grave foram significativamente mais prevalentes entre os pacientes com COVID-19, em 47,6% e 28,2%, contra 25,2% e 10,8% entre os controles históricos respectivamente.
Comparando os pacientes com IMC maior que 35 versus IMC menor que 25 os primeiros tiveram um risco mais de sete vezes maior de necessitar de ventilação mecânica, mesmo após o ajuste para a faixa de idade, diabetes mellitus e hipertensão arterial.
Nesse estudo francês, foram examinados 124 pacientes consecutivos admitidos em terapia intensiva com COVID-19 em um único hospital de Lille, que foram comparados com um grupo de controle histórico de 306 pacientes internados na UTI no mesmo hospital por doença respiratória aguda grave não relacionada ao COVID-19 em 2019.
Obesidade e obesidade grave foram significativamente mais prevalentes entre os pacientes com COVID-19, em 47,6% e 28,2%, contra 25,2% e 10,8% entre os controles históricos respectivamente.
Comparando os pacientes com IMC maior que 35 versus IMC menor que 25 os primeiros tiveram um risco mais de sete vezes maior de necessitar de ventilação mecânica, mesmo após o ajuste para a faixa de idade, diabetes mellitus e hipertensão arterial.
Em um dos estudos feitos em Nova Iorque, a Dra Jennifer Lighter e colaboradores mostraram que dos 3615 indivíduos testados positivos para COVID-19 em sua série, 775 (21%) tinham IMC de 30 a 34 e 595 (16%) tinham IMC maior que 35. A obesidade não foi um preditor de admissão no hospital ou UTI naqueles com mais de 60 anos mas foi naqueles com menos de 60 anos.
No outro estudo norte-americano, Christopher M. Petrilli e colaboradores avaliaram 4103 pacientes com COVID-19 tratados e pouco menos da metade dos pacientes (48,7%) foram hospitalizados, dos quais 22,3% necessitaram de ventilação mecânica e 14,6% morreram ou receberam alta para cuidados paliativos. Além da idade, os preditores mais fortes de hospitalização foram IMC maior que 40 kg/m2 e insuficiência cardíaca.
Infelizmente, a obesidade em pessoas com menos de 60 anos parece então ser um fator de risco epidemiológico recentemente identificado e que pode contribuir para o aumento das taxas de morbidade com COVID-19 nos EUA. Diabetes mellitus tipo 2 (DM2) que é o tipo de diabetes mais prevalente, também está associado a obesidade e DM2 é importante fator de risco para complicações por COVID-19.
No Brasil, os dados do Ministério da Saúde divulgados há poucos dias também revelaram que a obesidade de forma independente, mesmo não associado a comorbidades, já é o principal fator de risco nas vítimas da COVID-19 com menos de 60 anos.
No Brasil, os dados do Ministério da Saúde divulgados há poucos dias também revelaram que a obesidade de forma independente, mesmo não associado a comorbidades, já é o principal fator de risco nas vítimas da COVID-19 com menos de 60 anos.
A obesidade é caracterizada por um comprometimento da resposta imune e por uma inflamação crônica de baixo grau. Além disso, indivíduos obesos têm uma dinâmica alterada da ventilação pulmonar, com uma excursão diafragmática reduzida.
Os autores franceses e norte-americanos acreditam que o culpado por trás do aumento do risco de gravidade da doença observado com a obesidade no COVID-19 seja a inflamação, já que a obesidade é reconhecidamente uma condição pró-inflamatória. Foram ainda identificados depósitos de fibrina na circulação, vistos na autópsia bloqueando a passagem de oxigênio pelo sangue. Isso pode ter ajudado a explicar por que a ventilação mecânica pode ter menos sucesso nesses pacientes.
Os autores franceses e norte-americanos acreditam que o culpado por trás do aumento do risco de gravidade da doença observado com a obesidade no COVID-19 seja a inflamação, já que a obesidade é reconhecidamente uma condição pró-inflamatória. Foram ainda identificados depósitos de fibrina na circulação, vistos na autópsia bloqueando a passagem de oxigênio pelo sangue. Isso pode ter ajudado a explicar por que a ventilação mecânica pode ter menos sucesso nesses pacientes.
A inflamação natural do obeso se junta à grave inflamação produzida pela COVID-19, potencializando a produção das citoquinas e agravando o processo decorrente. Para piorar, pessoas com excesso de peso, em geral, têm capacidade pulmonar mais restrita porque o excesso de gordura abdominal tende a reduzir o volume da caixa torácica. Não bastassem os fatores inerentes à condição fisiopatológica do obeso, some-se a isso a falta nos hospitais de leitos apropriados para essa população, a intubação é mais difícil e, frequentemente, não estão disponíveis aparelhos de imagem que comportem pessoas muito obesas com mais 150 Kg.
Obesidade já era um grave problema em período pré-pandemia. Nesse momento difícil para todos, em especial agora também para os obesos mais severos, já que o isolamento social e confinamento domiciliar com home working são situações difíceis de conciliar com recomendações de ajuste e controle alimentar e impossibilidade de atividade física mais regular.