Tenho usado esse espaço na coluna para falar de assuntos médicos especialmente ligados à minha área de atuação na endocrinologia.
Mas diante da situação da saúde pública mundial não tenho como não comentar sobre a pandemia. Não quero aqui fazer mais explicações sobre as medidas de isolamento social, lavagem das mãos, ou da etiqueta respiratória ao tossir ou espirrar.
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Mesmo com intuito de ajudar, entendo que seria razoável que todos fizessem um esforço de filtrar informações de qualidade, fontes confiáveis que possam ajudar efetivamente no esclarecimento das medidas e atitudes a serem adotadas e não com informações falsas, improdutivas e que apenas vão desgastando a nossa paciência em querer acompanhar tudo o que chega incessantemente.
Acho que uma boa parcela das pessoas nascidas após a segunda guerra mundial nunca vivenciou dias tão difíceis como os das últimas semanas. Nossos avós e bisavós e mesmo ancestrais ainda mais antigos certamente passaram por períodos de guerra, ameaça nuclear, escassez, crises econômicas graves, falta de conforto dos recursos que hoje temos na vida moderna. O cenário é de “guerra” como alguns líderes mundiais tem falado contra um inimigo invisível. Cada um de nós precisa fazer a sua parte. Seremos impactados de alguma maneira e talvez o mundo não seja mais o mesmo após tudo o que vem acontecendo.
Hoje atendi uma paciente que me revelou uma situação estarrecedora. O patrão dela, pertencente a um grupo de risco pela faixa de idade, dono de uma pequena fábrica de balas e doces e que mora atrás da fábrica com a família, proíbe que as funcionárias lavem as mãos e usem álcool em gel durante o trabalho.
Multiplicam nas redes sociais mensagens enviadas nos celulares com vídeos de “profissionais da saúde” de forma irresponsável divulgando terapias inócuas e vendendo ilusão para as pessoas desesperadas para lucrar com o desespero alheio. Alguns já foram denunciados nos conselhos regionais de suas profissões e correm risco de perder suas habilitações para trabalhar na área da saúde. Cheguei a ver um desses vídeos com uma atriz global respaldando a conduta de um profissional divulgando um soro para melhorar imunidade. Áudios fatalistas e inverídicos disseminando mais terror e que não ajudam em nada.
Precisamos estar conscientes que o momento é preocupante mas não podemos perder o bom senso e a razão pois precisaremos de mínima serenidade para a ignorância, a má fé de algumas pessoas não pode eclipsar as atitudes altruístas de quem, de forma séria e comprometido está e estará na linha de frente, como caixa de farmácias, padarias e supermercados, faxineiras dos hospitais, auxiliares e atendentes de enfermagem, enfermeiras, fisioterapeutas, farmacêuticos, médicos intensivistas, médicos plantonistas em pronto atendimento e ambulatórios criados especificamente para atender suspeitos de coronavírus.
Deve haver muitas outras não mencionadas que também estarão na mesma condição e me desculpem se não os citei nominalmente.
Todos esse profissionais merecem ser louvados e lembrados por várias gerações e servir de inspiração e exemplo. A esses valorosos trabalhadores já me adianto e envio meu muito obrigado.
Eles contrapõem aqueles maus profissionais que vendem ilusões, merecem ser punidos e cair no ostracismo da história.
Nossas crianças e jovens devem se espelhar naquelas pessoas que estão ajudando e vão ajudar a construir um mundo mais justo, fraternal e de solidariedade.
Entre tantas mensagens que recebi, há uma que achei interessante e apropriada para o momento, atribuída a Ibn Sina (nome latinizado era Avicena) médico e filósofo persa, pai da medicina moderna, que diz: "A imaginação é a metade da doença; A tranquilidade é a metade do remédio; E a paciência é o primeiro passo para a cura”.
Para não fazer este texto longo e enfadonho nesse momento em que estamos todos ansiosos, temerosos pelo que está por vir. peço a todos que façam sua parte, protejam os idosos e os portadores de doença crônica e outros grupos de risco, já que as consequências positivas ou negativas dependem de todos.
Espero que esse filme de terror passe logo e que todos fiquem bem.
Se você tem dúvidas e sugestão de temas, envie para arnaldoschainberg@terra.com.br