Se você foi diagnosticado recentemente com câncer de próstata, existem algumas maneiras diferentes de avaliar a agressividade do tumor- em outras palavras, para ver se é provável que o câncer se espalhe além da próstata. Em um novo estudo, um teste genômico pareceu ser melhor para encontrar câncer de próstata agressivo do que os testes convencionais.
O teste genômico, chamado Decipher, analisa a atividade de 22 genes e demonstrou prever o risco de disseminação de um tumor de próstata (metástase). Os testes convencionais, por outro lado, analisam marcadores clínicos como o escore de Gleason e o nível de PSA.
Para alguns homens no estudo, o teste Decipher mostrou que o câncer era de alto risco, embora os testes convencionais o considerassem de menor risco. Essa discrepância parecia acontecer com mais frequência em homens afro-americanos do que em outros homens, segundo o estudo.
Os resultados do estudo, parcialmente financiados pelo Instituto Nacional do Câncer dos EUA (NCI), foram publicados recentemente no prestigiado jornal do instituto, o JNCI: Journal of the National Cancer Institute.
É importante saber o quão agressivo é o câncer de um paciente para que seu tratamento possa ser adaptado. Isso normalmente significa mais tratamento para tumores de alto risco e menos tratamento ou nenhum tratamento ativo para tumores de baixo risco. O que este estudo nos aponta é que, além dos marcadores clínicos usuais, agora também temos à disposição testes genômicos adicionais que podem por sua vez melhor definir a agressividade e, portanto, o prognóstico do tumor, definindo assim as melhores abordagens terapêuticas para cada caso individualmente.
O teste Decipher está em uso há muitos anos e é coberto pelo sistema público de saúde americano Medicare. Entretanto, o mesmo ainda não tem sido recomendado de rotina pela maioria dos especialistas norte-americanos.
Adicionando informações genômicas
Por muitos anos, os médicos usaram marcadores clínicos para estimar o risco de um tumor de próstata se espalhar para outras partes do corpo. Mas, adotando apenas critérios clínicos, alguns tumores mais agressivos deixam de ser identificados, especialmente na população afro-descendente.
Para se testar a ideia da utilização de um teste genômico que pudesse identificar tumores mais agressivos, um estudo prospectivo, se tornou necessário. Os pesquisadores então primeiro recrutaram um grupo de homens que se identificavam como afro-americanos. Eles então inscreveram também um grupo de homens que se identificaram como não afro-americanos e que apresentavam marcadores clínicos correspondentes - como idade, nível de PSA, pontuação de Gleason e o tratamento que receberam.
Câncer oculto de alto risco
Todos os 226 participantes tinham câncer de próstata que não havia se espalhado além da próstata (câncer localizado). Os pesquisadores compararam então os resultados do teste Decipher com os dos métodos clínicos. Como todos os homens tinham marcadores clínicos muito semelhantes, os pesquisadores esperavam ver resultados semelhantes do Decipher. Em vez disso, eles encontraram uma discrepância: alguns homens tinham câncer classificado como de baixo risco por métodos clínicos, mas como de alto risco pelo teste Decipher.
De acordo com um método clínico, 11 homens afro-americanos e 7 homens não-afro-americanos tinham câncer de baixo risco. No entanto, o teste Decipher descobriu que 2 (18%) desses homens afro-americanos apresentavam alto risco genômico de propagação do câncer em 5 anos. Métodos clínicos encontraram 37 homens afro-americanos e 37 não-afro-americanos com câncer de "risco intermediário favorável" (um termo que descreve cânceres em algum lugar entre baixo risco e risco intermediário).
Mas o teste Decipher descobriu que 14 (38%) dos homens afro-americanos e 7 (19%) dos homens não afro-americanos tinham câncer de alto risco genômico. No geral, os homens afro-americanos eram duas vezes mais propensos do que os homens não-afro-americanos a ter câncer que foi recategorizado como de alto risco com base no teste Decipher, descobriram os pesquisadores.
E em estudos futuros, será importante descobrir se os tumores de próstata com alto risco genômico com base no teste Decipher de fato se espalham mais rapidamente ou voltam a crescer mais rapidamente após o tratamento. Adicionalmente, a próxima fase do estudo em andamento abordará essa questão. Todos os anos, os participantes com câncer de alto risco genômico farão um exame de imagem, chamado PSMA PET scan, para verificar se seus tumores se espalharam além da próstata. Isso também ajudará a responder a perguntas como: "O que fazemos com esses chamados tumores agressivos quando os detectamos precocemente? Será seu tratamento mais agressivo ou multimodal?
Considerando o ambiente
Os homens afro-americanos são mais propensos a desenvolver câncer de próstata, a tê-lo mais cedo e a morrer da doença, mas não está claro o porquê. É possível que os métodos convencionais para avaliar a agressividade do câncer de próstata não tenham detectado tumores mais agressivos em homens afro-americanos, levando a resultados piores. Por que os homens afro-americanos desenvolvem tumores mais agressivos é outra questão, mas provavelmente está relacionado a fatores genéticos, ambientais, sociais e econômicos que podem alterar a biologia e a genômica do tumor. É possível que mais homens afro-americanos estejam expostos a condições (como altos níveis de poluição do ar ou acesso limitado a alimentos saudáveis) e outros determinantes sociais da saúde que levam a mudanças biológicas que estimulam o desenvolvimento e crescimento do câncer de próstata mais agressivo.
Portanto, as etapas subsequentes dessa linha de pesquisa na qual testes genômicos são utilizados como classificadores de agressividade e prognóstico do câncer de próstata e suas repercussões na forma de como se tratar mais precisamente esses pacientes são ansiosamente aguardadas.