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Afinal, existe alguma relação entre telefones celulares e câncer?


Houve um tempo relativamente recente em que abundavam na internet e em variados veículos de comunicação manchetes que atribuíam ao uso de telefones celulares o surgimento de câncer, em particular o cerebral.


Mais recentemente, o assunto deixou de ser muito comentado, até porque as pessoas simplesmente não se imaginam mais sem seus celulares, que passaram a ser uma ferramenta inseparável do nosso dia a dia, mesmo que houvesse alguma associação entre radiação de radiofrequência (RFR) produzida por estes aparelhos e câncer.

Outra possibilidade é que, embora os estudos em animais tenham sido motivo de preocupação para alguns especialistas na área, outros acreditam que os estudos em humanos praticamente eliminaram nossas preocupações. Outros estudiosos sobre o tema ainda argumentam que, dos muitos riscos para o câncer, o uso do telefone celular definitivamente não é um deles.

Mesmo assim, ainda existem outras frentes de investigação que podem e devem ser desenhadas para respostas futuras, como o uso de telefones celulares em crianças e a mudança do padrão para o 5G. Além disso, as lições de saúde pública de telefones celulares e câncer no cérebro podem ser benéficas para a medicina e a ciência, além das próprias pesquisas em si, até pela dependência quase universal e constante do equipamento na atualidade.


Mas o que podemos afirmar é que o assunto está praticamente "pacificado" entre os especialistas, embora tenha sido muito intenso e controverso há cerca de 5 a 10 anos atrás. Uma razão para a queda é que vários dos grandes estudos que foram realizados sobre esta eventual associação acabaram por não demonstrar nenhum risco real entre o uso de telefones celulares e o surgimento do câncer cerebral ou outro de qualquer tipo.

Notavelmente, o amplo estudo "Interphone Study" realizado Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, em 13 países e concluído em 2011, não encontrou um risco aumentado de câncer cerebral pelo uso de telefones celulares. Outros estudos em larga escala incluíram um estudo de coorte nacional na Dinamarca que chegou à mesma conclusão de que os telefones celulares não causam câncer no cérebro, bem como o U.K. Million Women Study, que também concluiu que o uso do telefone celular em condições usuais não aumenta a incidência de câncer cerebral.

Quando esses estudos foram iniciados, havia interesse em se realizar pesquisas de larga escala que custariam muitos milhões de dólares, porque, mesmo que o risco fosse pequeno, pelo fato de já estarmos todos expostos e diariamente, a relevância para a saúde pública das conclusões seria muito alta.


Nos primórdios da telefonia celular, havia muita preocupação, pois os telefones produziam calor, e isso era considerado um sinal potencial de que a radiação RFR, embora não ionizante, poderia entrar no nosso organismo e causar danos a longo prazo, como o câncer.

Os cientistas obviamente se preocupavam com qual seria o efeito geral em nosso organismo no futuro. No entanto, anos depois, os resultados de uma série desses estudos, bem como o fato de que a incidência de tumores cerebrais no mundo tem inclusive diminuído em adultos, nos propiciaram uma boa segurança para refutarmos qualquer evidência desta correlação causa-efeito que, se real, teria um efeito catastrófico no nosso dia a dia.

É importante notar que pesquisas envolvendo o uso de telefones celulares são inerentemente difíceis de ser conduzidas. Muitos dados e informações necessárias dependem de auto-relatos, o que torna as conclusões desse tipo de estudo bastante subjetivas e não acuradas. Também envolve tentar medir diretamente o uso do telefone celular contra a cabeça, o que é difícil de se avaliar na prática.


Outras questões incluem se o telefone celular está apontado para outro órgão, quantas horas por dia o telefone fica diretamente contra a cabeça e quantidade de tempo que o apatelho é utilizado dessa maneira. Por isso há especialistas que preferem estudos em animais porque argumentam que os estudos epidemiológicos em pessoas têm limitações que podem impedir os pesquisadores de chegar a certas conclusões definitivas, como exposto acima.

Embora os estudos epidemiológicos não apontem realmente para um risco, alguns estudos em animais geraram inicialmente algumas preocupações. O Programa Nacional de Toxicidade americano relatou que seus estudos descobriram que a alta exposição ao RFR estava associada a evidências claras de tumores no coração de ratos machos, bem como algumas evidências de tumores nos cérebros e glândulas adrenais destes animais, o que nunca foi corroborado em humanos.

Para o melhor entendimento das bases biológicas das descobertas de câncer relatadas em modelos animais, o NIEHS construiu câmaras de exposição a RFR menores e que têm a capacidade de usar uma faixa mais ampla de frequências, o que permitirá que os cientistas avaliem com mais acurácia as tecnologias de telecomunicações mais recentes, inclusive a 5G.


Estudos já estão sendo conduzidos para se testarem o desempenho e as operações destas câmaras de exposição menores. Quanto ao tempo, alguns problemas técnicos foram identificados com o sistema de exposição, e isso atrasou o início dos estudos com ratos e camundongos.

Alguns estudos-piloto nos sistemas recém-construídos já inclusive foram concluídos, e manuscritos estão sendo desenvolvidos para o compartilhamento dos resultados, e os primeiros artigos se concentrarão nesse sistema de exposição que se tornou referência para todos os ensaios. Também se consideram importantes os estudos sobre os efeitos da mudança do padrão da telefonia móvel para o 5G e como isso pode afetar a exposição humana com mais torres e mais informações sendo transmitidas.

Portanto, apesar de todas estas inconsistências, a maioria dos investigadores considera hoje a questão totalmente dirimida e que o uso dos telefones celulares é seguro e não está associado a aumento do risco de câncer cerebral ou de qualquer outro tipo, o que é para nós bastante tranquilizador.


Entretanto, precisamos ressaltar que uma área de estudo que ainda não foi completamente examinada é o uso de telefones celulares em crianças. Obviamente as crianças são mais vulneráveis. Radiações gerais para radiografias de diagnóstico, por exemplo, devem ser evitadas em crianças pois seus órgãos ainda estão em desenvolvimento. O que vemos hoje é que crianças, desde muito pequenas, já têm sido expostas a telefones celulares. Por isso, estudos mais conclusivos endereçados a essa faixa etária precisam ser conduzidos.

Finalmente devemos ressaltar que, mesmo os estudos realizados até então sejam tranquilizadores sobre a segurança do uso rotineiro de telefones celulares, o chamado "uso mais saudável e racional" deve ser sempre estimulado, como a utilização de fones de ouvido ao invés do contato direto com a cabeça e também o emprego das mensagens de texto ao invés da ligação.