Novembro Azul

Baixo rastreamento por PSA eleva o risco do câncer de próstata já avançado ao diagnóstico

Maicon Fonseca Zanco/Pixabay
(foto: Maicon Fonseca Zanco/Pixabay)

Um estudo de homens tratados em instituições pertencentes à Veterans Health Administration americana (VA) sugeriu que taxas mais baixas de rastreamento pela dosagem sanguínea do antígeno específico da próstata (PSA) se associaram a maiores índices subsequentes de diagnóstico do câncer prostático em estágio já metastático.

Em 128 instituições americanas, as taxas de triagem de PSA caíram de 47% em 2005 para 37% em 2019, o que foi observado em todas as idades e raças, de acordo com e levantamento, o qual foi publicado recentemente na prestigiada revista médica JAMA Oncology. A taxa de não rastreamento a longo prazo, representando pacientes que não receberam teste de PSA nos três anos anteriores, aumentou de um mínimo de 20,9% em 2009 para um máximo de 33,2% em 2019.

Ao mesmo tempo, as taxas de incidência de câncer de próstata metastático ajustadas por idade aumentaram de 4,6 casos por 100 mil homens em 2008 para um máximo de 8,2 casos por 100 mil em 2017, com esse aumento impulsionado por homens nas faixas etárias de 55 a 69 e mais de 70 anos. E, quando observamos as comparações de instituição por instituição, as instituições de saúde que mantiveram as taxas de triagem de PSA em níveis mais altos tiveram taxas mais baixas de doença metastática, e as instituições que tiveram taxas mais baixas de triagem de PSA detectaram taxas mais altas de doença em fase já metastática.

Os pesquisadores descobriram que taxas mais altas de rastreamento de PSA foram associadas a menores taxas de câncer de próstata metastático subsequentes cinco anos depois (taxa de incidência [IRR] 0,91 por 10% de aumento na taxa de rastreamento de PSA). Por outro lado, taxas mais altas de não rastreamento a longo prazo foram associadas a maiores taxas de incidência de câncer de próstata metastático em 5 anos (IRR 1,11 por 10% de aumento na taxa de não rastreamento a longo prazo).

A justificativa para esse novo estudo, segundo os autores, foi a de tentar-se dirimir a controvérsia acerca da real utilidade do rastreio do câncer prostático através da dosagem periódica dos níveis de PSA, que se mostrou, até o momento, controverso.

Dois grandes ensaios randomizados de triagem de PSA - o ensaio europeu ERSPC, que demonstrou menor incidência de doença metastática com triagem de PSA em comparação com os cuidados usuais, e o estudo PLCO, com sede nos EUA, que não identificou qualquer benefício da triagem de PSA na diminuição da doença metastática ou mortalidade em relação aos cuidados usuais são pilares que justificam tal controvérsia.

Em 2012, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF) abraçou o estudo PLCO e emitiu uma declaração não recomendando a triagem de PSA. Por isso, considera-se que ensaios clínicos sejam realmente o padrão-ouro para que a dívida seja efetivamente dirimida.

Os dados oferecidos por esse estudo são mais consistentes com o ensaio europeu, que mostrou o benefício da triagem de PSA. E apoia a hipótese de que o estudo americano não mostrou uma diferença tão grande porque havia muitos exames de PSA acontecendo nos braços de controle e intervenção. Essencialmente, ambos os lados do grupo estavam realizando a triagem de PSA.

Por causa desses dois estudos divergentes, houve mudanças nas diretrizes e muitas diferenças nas variações nacionais de quem realiza a triagem de PSA. Por isso o levantamento em questão almejou analisar dados do mundo real para se responder à questão crucial: a triagem de PSA está ou não associada à redução de diagnósticos de câncer de próstata já em fase metastática?

A equipe então analisou dados de 128 unidades do sistema de saúde VA sobre taxas anuais de rastreamento de PSA por unidade e sistema, taxas de não rastreamento de longo prazo e taxas de incidência de câncer metastático ajustadas à idade de 2005 a 2019. No início do estudo, em 2005, havia 4,7 milhões de homens na coorte e, no final do estudo em 2019, a coorte havia crescido para 5,4 milhões de homens. Em 2012, a proporção mediana de pacientes negros foi de 9,2%, enquanto 76,7% eram brancos. A proporção mediana de pacientes com 70 anos ou mais foi de 33,9%.

A USPSTF divulgou uma declaração de recomendação atualizada em 2018, aconselhando que a decisão de se submeter à triagem de PSA deve ser individual para homens de 55 a 69 anos, e que os médicos não devem selecionar homens que não expressam essa preferência. Ela continua a não recomendar a triagem de PSA para homens com 70 anos ou mais.

Esse estudo é muito importante porque mostrou que, em grupos de pacientes onde a triagem não foi incentivada ou não praticada, identificou-se um aumento de pacientes apresentando estágios tardios de câncer de próstata, portanto não mais curáveis, o que certamente concorre para um aumento das taxas de mortalidade por câncer de próstata nesta população de pacientes que não tiveram a oportunidade de ser rastreados.

Os importantes dados obtidos por esse estudo devem servir de subsídio para o USPSTF reexaminar suas recomendações. Embora haja o risco de sobrediagnóstico e sobretratamento, há também o risco de subdiagnóstico e subtratamento ao se abandonar completamente a ideia de triagem de PSA, especialmente no subgrupo de homens que são de maior risco para a doença como, por exemplo, os que possuem história familiar positiva para parentes com câncer de próstata e também outros cânceres como mama, ovário, intestino e pâncreas, e também para aqueles que sabidamente tenham maus hábitos de vida para câncer, como dieta inadequada, obesidade e sedentarismo.