Setembro: mês da conscientização sobre o câncer de próstata

Quais os principais avanços no diagnóstico e tratamento da doença?

Anna Tarazevich/Pexels
(foto: Anna Tarazevich/Pexels)

O câncer de próstata é o câncer não cutâneo mais comum diagnosticado em homens e a segunda principal causa de morte por câncer em homens, depois do câncer de pulmão. A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino localizada logo abaixo da bexiga e na frente do reto. É do tamanho de uma noz e envolve parte da uretra (o tubo que esvazia a urina da bexiga). A próstata produz fluido que compõe parte do sêmen.

Avanços no diagnóstico: aumentando a eficácia das biópsias prostáticas

Tradicionalmente, o câncer de próstata tem sido diagnosticado usando agulhas inseridas na glândula prostática em vários locais sob a orientação de ultrassonografia transretal (TRUS) para coletar amostras de tecido. Essa abordagem é chamada de biópsia sistemática. No entanto, o ultrassom geralmente não mostra a localização do câncer na próstata. É usado principalmente para garantir que as agulhas de biópsia penetrem na glândula com segurança.

Portanto, amostras de biópsia usando orientação por ultrassom podem não detectar câncer completamente ou identificar câncer de baixo grau enquanto perdem áreas de câncer de alto grau e potencialmente mais agressivos. Alguns médicos, preocupados que uma biópsia sistemática mostrando apenas câncer de baixo grau poderia ter perdido um câncer de alto grau, podem sugerir cirurgia ou radiação. No entanto, esses tratamentos são para um câncer que pode nunca ter causado um problema, o que é considerado tratamento excessivo.

Associando a ressonância nuclear magnética ao ultrassom

Mais recentemente, pesquisadores desenvolveram um procedimento que combina ressonância magnética (MRI) com TRUS para biópsias de próstata mais precisas. A ressonância magnética pode localizar áreas potenciais de câncer dentro da glândula, mas não é prática para imagens em tempo real para orientar uma biópsia da próstata.

O novo procedimento, conhecido como biópsia direcionada por ressonância magnética, usa computadores para fundir uma imagem de ressonância magnética com uma imagem de ultrassom. Isso permite que os médicos usem a orientação por ultrassom para biopsiar áreas de possível câncer vistas na ressonância magnética.

Estudos mais recentes demonstram que a combinação de biópsia direcionada por ressonância magnética com biópsia sistemática pode aumentar a detecção de câncer de próstata de alto grau, enquanto diminui a detecção de câncer de baixo grau que provavelmente não progredirá.

Utilizando a Inteligência Artificial


Pesquisadores têm testado o uso de aprendizado de máquina, também chamado de inteligência artificial (IA), para melhor reconhecer áreas suspeitas em uma ressonância magnética de próstata que deve ser biopsiada. A IA também tem sido desenvolvida para ajudar os patologistas que não são especialistas em câncer de próstata a avaliar com precisão o grau de câncer de próstata. O grau de câncer é o fator mais importante na determinação da necessidade de tratamento versus vigilância ativa.

Encontrando pequenos focos de câncer de próstata usando imagens e PSMA

Pesquisadores apoiados pelo NCI estão desenvolvendo novas técnicas de imagem para melhorar o diagnóstico de câncer de próstata recorrente. Uma proteína chamada antígeno de membrana específico da próstata (PSMA) é encontrada em grandes quantidades - e quase exclusivamente - nas células da próstata.

Ao fundir uma molécula que se liga ao PSMA a um composto usado em imagens de PET, os cientistas conseguiram ver pequenos depósitos de câncer de próstata que são pequenos demais para serem detectados por imagens regulares.

A Food and Drug Administration (FDA) aprovou dois desses compostos para uso em imagens PET de homens com câncer de próstata. A capacidade de detectar quantidades muito pequenas de câncer de próstata metastático pode ajudar médicos e pacientes a tomar decisões de tratamento mais bem informadas.

Por exemplo, se o câncer metastático for encontrado quando um homem é diagnosticado pela primeira vez, ele pode escolher uma alternativa à cirurgia porque o câncer já se espalhou. Ou os médicos podem tratar a recorrência do câncer - na próstata ou na doença metastática - mais cedo, o que pode levar a uma melhor sobrevida.

Como parte do programa de pesquisas Cancer Moonshot, dos EUA, pesquisadores do NCI (Instituto Nacional do Câncer americano) estão testando se a imagem PSMA-PET também pode identificar homens com alto risco de recorrência do câncer. Essas imagens podem eventualmente ajudar a prever quem precisa de tratamento mais agressivo - como radioterapia além da cirurgia - após o diagnóstico.

Avanços nos tratamentos para o câncer de próstata

Os tratamentos para o câncer de próstata que não se espalhou para outras partes do corpo são cirurgia ou radioterapia (RT), com ou sem terapia hormonal. A vigilância ativa também é uma opção para homens com baixo risco de disseminação do câncer.

Terapia hormonal para câncer de próstata

Nos últimos anos, várias novas abordagens de terapia hormonal para câncer de próstata avançado ou metastático foram aprovadas para uso clínico. Muitos cânceres de próstata que originalmente respondem ao tratamento com terapia hormonal padrão tornam-se resistentes ao longo do tempo, resultando em câncer de próstata resistente à castração (CRPC).

Três novos medicamentos demonstraram prolongar a sobrevida em homens com CRPC. Todos os três bloqueiam a ação dos hormônios que impulsionam o CRPC: enzalutamida, abiraterona e darolutamida.

O benefício de sobrevivência para esses medicamentos foi observado independentemente de os homens terem recebido quimioterapia anteriormente.

Além disso, tanto a enzalutamida quanto a droga apalutamida demonstraram diminuir o risco de metástases em homens com CRPC que ainda não se espalhou para outras partes do corpo. A darolutamida demonstrou aumentar a quantidade de tempo que os homens vivem sem a metástase do câncer. Abiraterona, apalutamida e enzalutamida demonstraram melhorar a sobrevida de homens com câncer de próstata metastático sensível à castração quando adicionados à terapia hormonal padrão.

Os cientistas continuam a estudar novos tratamentos e drogas, juntamente com novas combinações de tratamentos existentes, em homens com CRPC metastático.

O uso da imunoterapia e das vacinas para câncer de próstata

As imunoterapias são tratamentos que aproveitam o poder do sistema imunológico para combater o câncer. Esses tratamentos podem ajudar o sistema imunológico a atacar o câncer diretamente ou estimular o sistema imunológico de uma maneira mais geral.

Vacinas e inibidores de checkpoint imunológico são dois tipos de imunoterapia que estão sendo testados no câncer de próstata. As vacinas de tratamento são injeções que estimulam o sistema imunológico a reconhecer e atacar um tumor.

Um tipo de vacina de tratamento chamado sipuleucel-T (Provenge) é aprovado nos EUA, mas não no Brasil, para homens com poucos ou nenhum sintoma de CRPC metastático.

Imunoterapia: inibidores de checkpoint para câncer de próstata

Um inibidor de checkpoint imunológico é um tipo de medicamento que bloqueia proteínas nas células imunológicas, tornando o sistema imunológico mais eficaz em destruir as células cancerígenas.

O pembrolizumabe foi aprovado nos EUA para o tratamento de tumores, incluindo câncer de próstata, que possuem características genéticas específicas (instabilidade elevada dos microssatélites).

O pembrolizumabe também foi aprovado para qualquer tumor que tenha metástase e tenha um alto número de mutações genéticas. Mas relativamente poucos cânceres de próstata têm essas características, e o câncer de próstata em geral tem sido amplamente resistente ao tratamento com inibidores de checkpoint e outras imunoterapias, como a terapia com células CAR-T.

A pesquisa está em andamento para se encontrar maneiras de ajudar o sistema imunológico a reconhecer os tumores da próstata e ajudar as células imunológicas a penetrar no tecido tumoral da próstata. Estudos estão analisando se combinações de medicamentos de imunoterapia, ou medicamentos de imunoterapia administrados com outros tipos de tratamento, podem ser mais eficazes no tratamento do câncer de próstata do que imunoterapias isoladas.

Inibidores de PARP para câncer de próstata

Um inibidor de PARP é uma substância que bloqueia uma enzima nas células chamada PARP. O PARP ajuda a reparar o DNA quando ele é danificado (conjuntamente com as proteínas de um conjunto de genes do sistema de recombinação homóloga, como BRCA1 e 2). Alguns tumores de próstata têm defeitos genéticos que limitam sua capacidade de reparar danos no DNA. Tais tumores podem ser sensíveis aos inibidores de PARP.

Dois inibidores de PARP, olaparibe e rucaparibe foram aprovados para alguns homens cujo câncer de próstata metastatizou e cuja doença parou de responder aos tratamentos hormonais padrão.

Radioterapia direcionada e PSMA


Os cientistas também estão desenvolvendo terapias direcionadas baseadas em PSMA, a mesma proteína que está sendo testada para o câncer de próstata. Para o tratamento, a molécula que tem como alvo o PSMA é quimicamente ligada a um composto radioativo, como o lutécio. Esse novo composto pode potencialmente encontrar, ligar e matar células de câncer de próstata em todo o corpo.

Em um ensaio clínico recente, homens com um tipo de câncer de próstata avançado que receberam um medicamento direcionado ao PSMA viveram mais do que aqueles que receberam terapias padrão. Ensaios clínicos em andamento e planejados estão testando medicamentos direcionados ao PSMA em pacientes com estágios iniciais de câncer de próstata e em combinação com outros tratamentos, incluindo terapias direcionadas como inibidores de PARP e imunoterapia.

Ensaios clínicos personalizados para câncer de próstata


Ensaios pré-clínicos e clínicos recentes procuram por mais informações sobre as mudanças genéticas que acontecem à medida que os cânceres de próstata se desenvolvem e progridem.

Embora o câncer de próstata em estágio inicial tenha relativamente poucas alterações genéticas em comparação com outros tipos de câncer, pesquisadores descobriram que os cânceres de próstata metastáticos geralmente acumulam mais mutações à medida que se espalham pelo corpo.

Essas mutações podem tornar os homens com câncer de próstata metastático candidatos aos chamados ensaios clínicos "cesta" de novos medicamentos. Esses ensaios registram os participantes com base nas mutações encontradas em seu câncer, não em onde o câncer surgiu no corpo. No estudo NCI-MATCH, uma alta porcentagem de homens inscritos com câncer de próstata avançado apresentava mutações que poderiam ser alvo de medicamentos em investigação.