Pesquisadores de centros avançados de várias partes do mundo têm trabalhado para melhorar nossa compreensão de como tratar tumores que surgem no cérebro ou na medula espinhal (conhecidos como sistema nervoso central ou SNC). Esses tumores podem ser benignos ou malignos (câncer), mas os tecidos do sistema nervoso são tão importantes e vulneráveis %u200B%u200Bque mesmo alguns tumores benignos podem necessitar de tratamento mais urgente e efetivo.
Os tumores que se originam no cérebro ou na medula espinhal representam menos de 2% de todos os cânceres diagnosticados. Existem mais de 130 tipos distintos de tumores do SNC. Essa diversidade e a raridade de alguns tipos representam desafios únicos para o desenvolvimento de novos tratamentos.
Muitas vezes, os tumores encontrados no cérebro começaram em algum outro lugar do corpo e depois se espalharam para o cérebro ou para a medula espinhal. Estes são chamados de tumores cerebrais metastáticos (ou metástases cerebrais). Nesse artigo, abordaremos apenas os tumores cerebrais primários (tumores que começam no tecido do cérebro ou na medula espinhal).
Como são tratados
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Esses incluem problemas de memória e raciocínio, alterações de humor e dificuldade em andar. Além de sua toxicidade, esses tratamentos nem sempre são eficazes, principalmente para tipos agressivos de câncer cerebral, como o glioblastoma. Esse câncer, o tipo mais comum de tumor cerebral, geralmente recai ou progride rapidamente após o tratamento.
Novos tratamentos
Os pesquisadores têm procurado maneiras de melhorar o tratamento de tumores cerebrais e da medula espinhal, e tais avanços podem ser divididos em três estratégias, a seguir:
Terapia-alvo para tumores cerebrais e da medula espinhal
A medicina personalizada usa informações sobre os próprios genes ou proteínas de uma pessoa para prevenir, diagnosticar ou tratar doenças. Ao longo da última década, os cientistas descobriram que os tumores que surgem do mesmo tipo de célula podem ser causados %u200B%u200Bpor muitas alterações genéticas diferentes (também conhecidas como mutações genéticas).
Esses estudos genéticos prometem tratamentos mais personalizados. Por exemplo, estudos recentes descobriram que alguns tumores cerebrais têm mutações em um gene chamado IDH. Para tumores com esse tipo de alteração, o tratamento com um tipo de medicamento, chamado inibidor de PARP, pode torná-los mais sensíveis à quimioterapia.
Um ensaio clínico está testando essa estratégia em pessoas com um tipo de tumor cerebral chamado glioma, que recaiu após o tratamento inicial. Outros tratamentos para tumores com mutação de IDH em estudo incluem medicações que inibem a própria proteína IDH. Essa estratégia já tem sido utilizada no tratamento de leucemias agudas e tumores das vias biliares que apresentam mutações nesse gene.
Os pesquisadores também estão começando a utilizar computadores poderosos para examinar enormes bancos de dados de mutações genéticas e combinações de genes, chamadas fusões gênicas, encontradas em tumores cerebrais. Isso pode ajudá-los a identificar quais as células cancerígenas delas dependem para sobreviver. Essas mutações e fusões podem ser potencialmente direcionadas a medicamentos novos ou já existentes.
Outros estudos tentam utilizar como alvo proteínas encontradas amplamente em tumores do SNC. Por exemplo, pesquisadores do NCI (Instituto Nacional do Câncer americano) estão testando uma droga que bloqueia os receptores de dopamina em tumores recorrentes no cérebro e na coluna. Os receptores de dopamina são encontrados em muitos desses tipos de tumor, incluindo glioblastoma, gliomas de baixo grau e em meduloblastomas.
Os cientistas também estão tentando entender outros fatores biológicos que influenciam o desenvolvimento do tumor cerebral e sua resposta ao tratamento. Por exemplo, estudos descobriram que as mulheres são menos propensas do que os homens a serem diagnosticadas com glioblastoma e seus tumores tendem a responder melhor aos tratamentos padrão. Essas preciosas informações podem levar à descoberta de outros caminhos para a personalização do tratamento.
Os pesquisadores do NCI americano estão liderando os esforços para a redução de barreiras à participação de pacientes portadores de tumores cerebrais ou da medula espinhal em ensaios clínicos. Isso inclui permitir que adultos mais velhos ou pessoas que tenham sido tratadas anteriormente para outros tipos de câncer participem. A promoção do uso de telessaúde e coleta de exames de sangue em hospitais locais também pode reduzir a necessidade de deslocamento das pessoas para participar de uma pesquisa.
Melhorando a resposta à irradiação
A radioterapia já é personalizada até certo ponto porque a quantidade e a forma do tecido tratado são adaptadas ao tamanho e à localização de cada tumor. No entanto, a dose (ou quantidade) de radiação usada geralmente é a mesma para todos com um tipo específico de tumor.
Os pesquisadores querem encontrar maneiras de descobrir se a resposta de um tumor à radiação pode ser prevista antes do tratamento. Isso tornaria possível que pessoas com tumores que usualmente não apresentam resposta satisfatória, após doses padrão de radiação, fossem alocados em ensaios clínicos que estão testando estratégias com doses mais altas de radiação. Os cientistas também avaliam se a chamada inteligência artificial ou IA deve ser utilizada no processamento de dados de exames de ressonância magnética de tumores cerebrais para se prever sua resposta à radiação.
Drogas denominadas radio-sensibilizadoras, que aumentam os danos que a radiação causa nas células tumorais, mas não nas células normais, têm sido estudadas e testadas. Dezenas de pequenos ensaios clínicos estão estudando sensibilizadores de radiação em glioblastomas e gliomas. Por exemplo, um estudo conduzido por pesquisadores do NCI americano avalia se o medicamento selinexor, quando combinado a quimioterapia e radiação, pode melhorar a sobrevida dos pacientes portadores de glioblastoma.
Imunoterapia
A imunoterapia emprega substâncias (anticorpos monoclonais ou mesmo células de defesa modificadas geneticamente) para estimular o sistema imunológico de forma que ele próprio reconheça e, então, combata as células tumorais. Em alguns cânceres sanguíneos e em vários tumores sólidos, os medicamentos imunoterápicos proporcionaram enormes ganhos de sobrevivência para alguns pacientes tratados. Mas até o momento, a imunoterapia não funcionou bem para tumores cerebrais. Os problemas podem incluir:
- A barreira hematoencefálica, que é uma rede de vasos sanguíneos e tecidos que ajuda a proteger o cérebro, inclusive de alguns medicamentos e de alguns tipos de células imunes, impedindo, assim, que os mesmos atinjam os tumores a ser tratados.
- O uso generalizado de medicamentos anti-inflamatórios, chamados corticosteróides, para controlar os sintomas de tumores cerebrais. Um estudo recente financiado pelo NCI descobriu que os corticosteróides podem reduzir a eficácia da imunoterapia para câncer no cérebro, suprimindo a resposta imune das células T, que são as principais células do sistema imunológico para combater o câncer.
No entanto, alguns pacientes portadores de tumores do SNC que receberam imunoterapia em ensaios clínicos tiveram seus tumores diminuídos ou mesmo apresentaram total desaparecimento dos mesmos.
Os pesquisadores querem saber se essas respostas podem ser previstas, tanto para poupar as pessoas de tratamentos desnecessários quanto para desenvolver novas estratégias para fazer com que os tumores resistentes do SNC respondam a diversos agentes imunoterápicos. Outros estudos estão examinando se as pessoas cujos tumores cerebrais têm certas mutações, como aquelas no gene IDH, são mais propensas a ter seus tumores reduzidos pela imunoterapia.